A origem da dinastia timúrida remonta à confederação nômadeturco-mongol dos barlas, que eram remanescentes do exército original mongol de Gengis Cã.[5][8][9] Após a conquista mongol da Ásia Central, os barlas estabeleceram-se no Turquestão (que depois passou também a ser conhecido como Mogolistão - "Terra de mongóis") e tiveram um grau considerável de miscigenação com os turcomanos locais e a população de língua turcomana, de modo que, no tempo do reinado de Tamerlão os barlas tinham se tornado exaustivamente turquizados em termos de linguagem e de costumes. Além disso, através da adoção do islamismo, os turcos e mongóis da Ásia Central também adotaram a cultura persa,[10] que tem dominado a Ásia Central desde os primeiros dias da influência islâmica. A Literatura persa foi o meio utilizado para a assimilação pela elite timúrida da cultura perso-islâmica relacionada à nobreza.[11] Tamerlão esteve também mergulhado na cultura persa[12] e, na maior parte dos territórios que ele anexou, foi o persa o idioma principal da administração e da cultura literária. Assim, a língua dos altos funcionários do governo era a persa, e seus escribas tinham que ser totalmente adeptos à cultura persa, independentemente de sua origem étnica.[13]
Tamerlão conquistou grandes partes da Transoxiana (atual Ásia Central) e do Coração (partes dos atuais Irã, Afeganistão, Uzbequistão, Tajiquistão e Turcomenistão) a partir de 1363 em diante com diversas alianças (Samarcanda, em 1366, e Bactro, em 1369), ele foi reconhecido como governante sobre eles em 1370. Agindo oficialmente em nome do chagatai ulus mongol, ele subjugou a Transoxiana e o Império Corásmio nos anos que se seguiram e iniciou uma campanha em direção ao oeste em 1380. Em 1389 ele havia expulsado os cártidas de Herat e avançado pelo território continental da Pérsia desde 1382 (captura de Ispaã, em 1387, a expulsão dos Muzafáridas de Xiraz, em 1393, e expulsão dos Jalaíridas de Bagdá). Em 1394/96 ele triunfou sobre a Horda Dourada e impôs sua soberania no Cáucaso, em 1398 subjugando Multan e Dipalpur, no atual Paquistão e na atual Índia deixou Deli de tal modo em ruínas, que é dito que por dois meses "nenhuma ave chegou a bater asas na cidade".[14] Em 1400/1401 conquistou Alepo, Damasco e a Anatólia Oriental, em 1401 destruiu Bagdá e em 1402 triunfou sobre os otomanos na Batalha de Ancara. Além disso, ele transformou Samarcanda no Centro do Mundo. Estima-se que 17 milhões de pessoas podem ter morrido em suas conquistas.[15]
Após o fim do Império Timúrida, em 1506, o Império Mogol foi mais tarde criado na Índia por Babur, em 1526, que era um descendente de Tamerlão, por parte de pai e, possivelmente, um descendente de Gengis Cã, por parte de mãe. A dinastia que ele fundou é comumente conhecida como dinastia Mogol. Até ao século XVII, o Império Mogol governou a maior parte da Índia, mas depois perdeu influência durante o século XVIII. A Dinastia Timúrida terminou no fim de 1857, depois que o Império Mogol foi dissolvido pelo Império Britânico e o Badur Xá II foi exilado na Birmânia.
Devido ao fato das cidades persas terem sido arrasadas por guerras anteriores, a sede da cultura persa estava agora em Samarcanda e Herat. Essas cidades tornaram-se o centro do Renascimento Timúrida.[6]
Cultura
Embora os timúridas procedessem da tribo dos Barlas, que era de origem mongol, eles haviam abraçado a cultura persa[16] e a arte persa (distinguidas por constantes adaptações da chinesa[6]), e também a literatura chagatai,[6] convertidos ao islamismo, e estabelecidos no Turquestão e Coração. Assim, a era timúrida teve um caráter duplo,[6] que refletiu tanto as origens turco-mongol quanto a cultura persa, bem como a língua persa. A língua persa foi também a língua oficial da dinastia (também conhecida como língua divã).[10][17]
Literatura
Literatura timúrida em língua persa
A literatura persa, especialmente a poesia persa ocupou um lugar central no processo de assimilação pela elite timúrida da cultura persa islâmica dos nobres.[18] Os sultões timúridas, especialmente Šāhrukh Mīrzā e seu filho Mohammad Taragai Oloğ Beg, patrocinaram a cultura persa.[10] Entre as mais importantes obras literárias do período timúrida está a biografia de Tamerlão, conhecida como "Zafarnāma"(em persa: ظفرنامه), escrita por Sharaf ud-Dīn Alī Yazdī, que é baseada em uma "Zafarnāma" mais antiga escrita por Nizām al-Dīn Shāmī, o biógrafo oficial de Tamerlão durante seus anos de vida. O mais famoso poeta do período Timúrida foi Noradine Jami, o último grande sufistamísticomedieval da Pérsia e um dos maiores da poesia persa. O mais famoso pintor da corte timúrida, bem como o mais famoso pintor de iluminuras persas, em geral, foi Kamāl ud-Dīn Behzād. Além disso, o sultão timúrida Ulugh Beg é conhecido como um grande astrônomo.
Épica dos Reis de Baiçangur
Baysanghur encomendou uma nova edição do Épica dos Reis de Ferdusi e escreveu uma introdução para ela. De acordo com T. Lenz:[19]
“
Pode ser encarada como uma reação específica, depois da morte de Tamerlão em 807/1405, as novas demandas culturais enfrentadas por Shahhrokh e seus filhos, uma elite militar turcomana não mais derivando seu poder e influência unicamente de um líder carismático com uma cuidadosamente cultivada ligação com a aristocracia mongol. Agora, centrado em Coração, a casa governante considerou a assimilação crescente e o patrocínio da cultura persa como um componente integrante dos esforços para garantir a legitimidade e a autoridade da dinastia no contexto da tradição islâmica iraniana monárquica, e a Épica dos Reis de Baiçangur, tanto um precioso objeto quanto um manuscrito a ser lido, poderosamente simboliza a concepção timúrida de seu próprio lugar naquela tradição. Uma valiosa fonte documental para a arte decorativa timúrida, o manuscrito ainda aguarda um exaustivo estudo monográfico.
”
Literatura nacional em língua chagatai
Os primeiros timúridas desempenharam um papel muito importante na história da literatura turcomana. Com base na criação da tradição literária persa, uma literatura nacional turcomana foi desenvolvida, escrita na língua chagatai, a língua nativa da família timúrida. Os poetas chagatai, tais como Mīr Alī Sher Nawā'ī, o sultão Husayn Bāyqarā, e Zāher ud-Dīn Bābur incentivaram outros poetas de língua turcomana a escreverem no seu próprio vernáculo, além do árabe e do persa.
A Bāburnāma, a autobiografia de Bābur, bem como a poesia chagatai de Mīr Alī Sher Nawā'ī estão entre as mais conhecidas obras literárias turcomanas e têm fascinado e influenciado muitas outras pessoas no mundo inteiro. A Baburnama foi altamente persianizada na sua estrutura sintática, morfológica ou formação das palavras e vocabulário.[20]
Arte
Durante o reinado timúrida, teve início a idade de ouro da pintura persa.[21] Durante esse período, bem como no período da dinastia Safávida, a arte e os artista chineses tiveram uma influência significativa sobre arte persa.[22][23][24] Os artistas timúridas aprimoraram a arte persa do livro, que combina papel, caligrafia, iluminuras, ilustração e encadernação em um conjunto brilhante e colorido.[25] Foi a etnia mongol do Chagataidas e os cãs timúridas a fonte da representação estilística da arte persa durante a Idade Média. Esses mesmos mongóis através de casamentos com persas e turcomanos da Ásia Central, acabaram adotando a sua religião e seus idiomas. Mas o seu simples controle do mundo, naquele tempo, em particular nos séculos XIII-XV, refletiu-se na aparência idealizada dos persas como mongóis. Embora a composição étnica gradualmente tenha se misturado aos iranianos e às populações locais da Mesopotâmia, o estilismo mongol continuou bem depois, e atravessou a Ásia Menor, e até mesmo a África do Norte.
Ao exemplo da Báctria e da Transoxiana, os elementos artísticos em traços arquitetônicos que já existiam desde a época da conquista helênica (Séc. IV a.C) e de impérios budistas, foram harmonicamente preservados durante o domínio timúrida em tais localidades. A mesquita verde de Balkh no Afeganistão, de arquitetura timúrida, mostrou notável adaptação ao grande e existente cenário do passado histórico naquela cidade que em passagens históricas – acabou sendo povoada por populações de diferentes procedências em âmbito continental.[26]
Arquitetura
Arquitetura timúrida
No campo da arquitetura, os timúridas utilizaram-se e desenvolveram muitas tradições dos seljúcidas. Ladrilhos azuis e turquesas formam intrincadas linhas e padrões geométricos nas fachadas dos edifícios decorados. Às vezes, o interior era decorado de forma semelhante, com pinturas e alto-relevos enriquecendo ainda mais o efeito.[4] A arquitetura timúrida é o pináculo da arte islâmica na Ásia Central. Edifícios espetaculares e majestosos erguidos por Tamerlão, e seus sucessores, em Samarcanda e Herate contribuíram para a divulgação da influência da escola de arte ilcânida na Índia, dando assim origem à célebre escola de arquitetura Mogol. A arquitetura timúrida começou com o santuário de Ahmed Yasawi, atualmente no Cazaquistão, e culminou no mausoléu Gur-e Amir de Tamerlão, em Samarcanda. O Gur-e Amir do conquistador Tamerlão, um mausoléu do século XIV, é coberto com ladrilhos "turquesa persa"[27] Ali perto, no centro da antiga cidade, podem ser vistos um madraçal no estilo persa (escola religiosa)[27] e uma mesquita no estilo persa[27] construídos por Ulugh Beg. O mausoléu dos príncipes timúridas, com seus azulejos azul-turquesa e cúpulas está entre os edifícios mais refinados e requintados da arquitetura persa.[28] A simetria axial é uma característica de todos as principais estruturas timúridas, principalmente a Shāh-e Zenda, em Samarcanda, o complexo Musallah, em Herat, e a mesquita de Gowhar Shād, em Mashhad. As cúpulas duplas de diversos formatos são muito comuns, e as paredes laterais são pintadas com cores brilhantes. O domínio timúrida na região estendeu a influência de sua capital e arquitetura persa sobre a Índia.[29]
Após a fundação do Império Mogol, os timúridas expandiram com sucesso a influência cultural persa desde Coração até a Índia, onde o idioma, a literatura, a arquitetura, e a arte persa dominaram o subcontinente indiano até a conquista britânica..[16] Os mogóis, turcos persianizados que invadiram a região vindos da Ásia Central e alegando descendência de Tamerlão e Gengis Cã, difundiram a cultura persa na Índia muçulmana.[30]
O período mogol foi marcado por um surpreendente renascimento de arquitetura islâmica no norte da Índia. Com o patrocínio dos imperadores mogóis, a arquitetura indiana, a persa, e os diversos estilos provinciais foram fundidos para produzir trabalhos de qualidade e requinte incomuns.[31]
O imperador mogol Akbar construiu a cidade real de Fatehpur Sikri, localizada a cerca de 42 quilômetros a oeste de Agra, no final da década de 1500. O mais famoso exemplo da arquitetura mogol é o Taj Mahal, a "lágrima sobre a eternidade", concluído em 1648 pelo imperador Shah Jahan em memória de sua esposa Mumtaz Mahal que morreu dando à luz a seu décimo quarto filho. O emprego de muitas pedras preciosas e semipreciosas como incrustações e da necessidade de grande quantidade de mármore branco, quase levou o império à falência. O Taj Mahal é completamente simétrico, à exceção do sarcófago de Shah Jahan, que é colocado deslocado do centro no salão da cripta abaixo do piso principal. Essa simetria se estende à construção de uma mesquita de arenito vermelho. Outra estrutura construída que demonstra grande influência mogol são os Jardins de Shalimar.
Governantes do Império Timúrida
Tamerlão (Timur) 1370 - 1405 (771-807 AH) - com Suurgatemis como suserano nomeado, seguido por Mamude como suserano e finalmente Maomé Sultão como sucessor
↑Zahir ud-Din Mohammad (10 de setembro de 2002). Thackston, Wheeler M., ed. The Baburnama: Memoirs of Babur, Prince and Emperor. [S.l.]: Modern Library Classics. ISBN0-375-76137-3. Nota: Gurkānī é a forma persianizada da palavra mongol "kürügän" ("genro"), o título dado ao fundador da dinastia após seu casamento com um membro da família de Gengis Cã.
↑Edward Balfour The Encyclopaedia Asiatica, Comprising Indian Subcontinent, Eastern and Southern Asia, Cosmo Publications 1976, S. 460, S. 488, S. 897
↑ abEncyclopædia Britannica, "Timurid Dynasty", Online Academic Edition, 2007. (Citação:…Dinastia turca do conquistador Timur (Tamerlane), conhecido por seu brilhante renascimento da vida artística e intelectual do Irã e da Ásia Central.…Comunidades comerciais e artísticas foram trazidas para a capital de Herat, onde uma biblioteca foi fundada, e a capital tornou-se o centro de uma renovada e artisticamente brilhante cultura persa...)
↑ abB.F. Manz, "Tīmūr Lang", em Encyclopaedia do Islã, Online Edition, 2006
↑ abcB. Spuler, "Central Asia in the Mongol and Timurid periods", publicado na Encyclopaedia do Irã, Online Edition, 2006/7, (LINKArquivado em 24 de fevereiro de 2009, no Wayback Machine.): "… Tal como o seu pai, Olōğ Beg estava totalmente integrado ao círculo cultural islâmico persa, e durante o seu reinado, a cultura e a linguagem persas predominaram, uma situação que se manteve na região de Samarcanda até a Revolução Russa de 1917 […] Ḥoseyn Bāyqarā incentivou o desenvolvimento da literatura persa e o talento literário de todas as maneiras possíveis …"
↑David J. Roxburgh. The Persian Album, 1400-1600: From Dispersal to Collection. Yale University Press, 2005. pg 130: "A literatura persa, especialmente a poesia, desempenhou um papel fundamental no processo de equiparação da elite timúrida à cultura perso-islãmica dos nobres e, por isso, não é surpresa encontrar Baysanghur encomendando uma nova edição do Épica dos Reis de Ferdusi
↑Gérard Chaliand, Nomadic Empires: From Mongolia to the Danube traduzido por A. M. Berrett, Transaction Publishers, 2004. pg 75
↑Beatrice Forbes Manz. The Rise and Rule of Tamerlane. Cambridge University Press, 1999. pg 109: "…No governo de Tamerlão, assim como nas demais dinastias nômades, é impossível encontrar uma clara distinção entre assuntos civis e militares, ou identificar a burocracia persa exclusivamente civil, e os turco-mongóis exclusivamente com governo militar. É difícil definir a esfera de cada lado da administração, e nós encontramos persas e chagatais partilhando muitas tarefas. (Na discussão da burocracia e das pessoas que trabalhavam dentro dela eu uso a palavra persa no sentido cultural, ao invés do etnológico. Em quase todos os territórios que Tamerlão incorporou ao seu domínio, o persa foi o principal idioma da administração e da cultura literária. Assim, a língua dos "divã" era a persa, e seus escribas tinham que ser totalmente adeptos à cultura persa, independentemente de sua origem étnica.) Os emires chagatais de Tamerlão estavam muitas vezes envolvidos em assuntos civis e da administração provincial e até mesmo em assuntos financeiros, tradicionalmente da competência da burocracia persa.…"
↑ abLehmann, F. «Zaher ud-Din Babor - Founder of Mughal empire». Encyclopaedia Iranica Online ed. New York City: Columbia University Center for Iranian (Persian) Studies. pp. 320–323. Consultado em 7 de novembro de 2006. … Sua origem, meio, formação e cultura, foram mergulhados na cultura persa e assim Babor foi em grande parte responsável pelo fomento desta cultura para os seus descendentes, para os Mongóis da Índia, e para a expansão da influência da cultura persa no subcontinente indiano, com brilhantes obras literárias, artísticas, e resultados historiográficos …
↑Robert Devereux (tr.), "Judgment of Two Languages; Muhakamat Al-Lughatain By Mir 'Ali Shir Nawāi"; Introduction, Translation and Notes: Leiden (E.J. Brill), 1966): Qualquer linguista de hoje que lê o texto, inevitavelmente concluirá que Nawa'i defendeu muito mal a sua tese, já que seu principal argumento é que o léxico turcomano continha muitas palavras para o qual o persa não tinha equivalentes exatos e que os falantes do idioma persa, por isso, tiveram que utilizar-se das palavras turcomanas. Este é um fraco argumento, pois são raras as línguas que não contenham qualquer empréstimo de palavras. Em qualquer caso, a beleza de uma língua e seus méritos como um meio literário dependem menos do tamanho de seu vocabulário e pureza da etimologia do que sobre a sua eufonia, expressividade e maleabilidade dessas palavras que seu léxico não inclui. Além disso, mesmo se a tese de Nawa'i viesse a ser aceita como válida, ele destruiu sua própria tese pelo uso generoso, sem dúvida inconscientemente, de palavras não turcomanas, mesmo enquanto ridicularizando os persas por suas necessidades de emprestar palavras turcomanas. O presente escritor não fez uma contagem das palavras do texto de Nawa'i, mas ele estimaria conservadoramente, pelo menos, que metade das palavras utilizadas por Nawa'i na redação são de origem árabe ou persa. Para apoiar a sua pretensão de superioridade da língua turcomana, Nawa'i também emprega o curioso argumento de que a maior parte dos turcomanos falava também o persa, mas apenas alguns persas chegaram a ter certa fluência no idioma turcomano. É difícil entender por que ele ficou impressionado com este fenômeno, uma vez que a explicação mais óbvia é a de que os turcomanos a consideraram necessária, ou, pelo menos aconselhável, aprender o persa - que era, afinal, a língua oficial do Estado - enquanto que os persas não viam qualquer razão para o aprendizado da língua turcomana, que era, a seu ver, meramente a língua de uma tribo nômade de pessoas não civilizadas
↑David J. Roxburgh. The Persian Album, 1400-1600: From Dispersal to Collection. Yale University Press, 2005. pg 130: "A literatura persa, especialmente a poesia, ocupou um papel fundamental no processo de assimilação pela elite timúrida da cultura persa islâmica dos nobres e, por isso, não é surpreendente encontrar que Baysanghur encomendou uma nova edição da poesia Épica dos Reis de Ferdusi