Décimo Valério Asiático
Décimo Valério Asiático (em latim: Decimus Valerius Asiaticus; em grego: Δέκιμος Οὐαλέριος Ἀσιατικός;[1] c. 5 a.C.–47 (51 anos)[1][2][3]) foi um proeminente senador romano[4] da gente Valéria nomeado cônsul sufecto em 35 com Aulo Gabínio Segundo e eleito cônsul em 46 com Marco Júnio Silano.[5] De origem provincial,[2] Asiático foi o primeiro romano da Gália a ser admitido no Senado Romano e também o primeiro a chegar ao consulado.[6] Contexto familiar e primeiros anosAs informações sobre sua família são incompletas. Segundo o historiador Ronald Syme, Asiático era de origem alobrogiana de "linhagem dinástica nativa".[6] Um antepassado dele recebeu a cidadania romana de Caio Valério Flaco, governador da Gália Transalpina em 80 a.C., e aparentemente herdou seu nome. Não se sabe os nomes de seus pais e nem o de um irmão cuja existência é conhecida.[a] Asiático nasceu em Vienna, na Gália Narbonense,[6] e, provavelmente ainda muito jovem, foi enviado à Roma para fazer sua carreira. Era um homem culto, renomado por suas virtudes atléticas e se tornou um amigo próximo da família imperial, sendo um visitante habitual na casa de Antônia Menor, a mãe do imperador Cláudio e avó de Calígula.[8] Carreira políticaMuitos dos detalhes de sua carreira são desconhecidos além da amizade de Asiático a família imperial. Seu primeiro consulado ocorreu ainda durante o reinado de Tibério, um cargo que ele só pode ter conseguido com a concordância (ou um ato) do imperador.[9] O sucessor de Tibério, Calígula, também era amigo de Asiático e pode ter concedido a ele propriedades no Egito.[1] Apesar disto, esta amizade não estava isenta de contratempos por causa do temperamento do imperador: numa bebedeira, Calígula confessou ter cometido adultério com a esposa de Asiático ao reclamar do desempenho dela na cama na frente dele; ofendido, Asiático passou a detestar Calígula.[10] Apesar disto, Asiático foi convidado a sentar com Calígula em 24 de janeiro de 41 no teatro uma hora antes de seu assassinato. Quando notícias do crime se espalharam por Roma e a identidade dos assassinos ainda era desconhecida, Asiático chegou a ser acusado de participação por causa do insulto prévio do imperador; sua resposta foi que ele desejava ter sido o responsável.[11] Apesar disto, alguns historiadores modernos suspeitam que Asiático de fato foi um cúmplice do assassinato;[3] outros, como Michael Swan, listaram várias razões pelas quais ele nada ganharia com a morte de Calígula e não veem motivos para duvidar de sua negativa.[12] Um ponto levantado por Swan é que, depois da morte de Calígula, quando Asiático ofereceu seu nome ao Senado Romano para sucedê-lo, sua candidatura sofreu resistência de um dos participantes conhecidos do complô, Lúcio Ânio Viniciano[13]. Seja como for, contemporâneos de Asiático, como Sosíbio,[14] suspeitavam dele. Este era, sem dúvida, a base pela antipatia nutrida por Cláudio em relação a ele. Apesar de os dois terem ido juntos acompanhar a invasão da Britânia, em 43, o motivo era a desconfiança de Cláudio em relação a ele e o desejo de mantê-lo sob vigilância. Num discurso ao Senado, quando Cláudio defendeu a admissão (adlectio) de gauleses entre os senadores, ele desancou obliquamente Asiático, mas sem citar seu nome:
Compra dos Jardins de Lúculo e quedaAlgum tempo depois de seu segundo consulado, em 46, já um homem rico e bem conectado,[3] Asiático usou sua fortuna para adquirir e reformar uma das mais suntuosas propriedades privadas, os Jardins de Lúculo, assim chamado por terem sido criados por Lúcio Licínio Lúculo, um famoso general e político do século I a.C. conhecido como um famigerado glutão.[3] Em 47, o notório senador Públio Suílio Rufo acusou Asiático no Senado. Entre as acusações estava um adultério com Popeia Sabina, mãe da imperatriz Popéia Sabina.[15] Estas acusações, porém, eram parte de uma complexa conspiração sexual tramada pela terceira esposa de Cláudio, Messalina, para se apoderar dos Jardins de Asiático.[2] Asiático foi delatado por Lúcio Vitélio com a ajuda de Sosíbio, o mentor do filho de Messalina com Cláudio, Britânico, um adversário de Nero pelo trono. Ele foi acusado de maiestas ("traição"), suborno, adultério e relações sexuais impróprias e teve que responder ao imperador e a Vitélio, que compartilhavam da função de censores.[16] Messalina, que estava presente no julgamento, deixou a sala, pois o discurso de defesa de Asiático a havia levado às lágrimas, mas ainda assim ela recomendou que Vitélio o condenasse. Ele falou da antiga amizade entre ele e a imperatriz e dos seus muitos méritos. Com isso em mente, o mais justo seria que ele pudesse pelo menos escolher a forma como preferia morrer. Embora Asiática tenha reclamado que seria preferível ter sido vítima das artimanhas de Tibério ou da fúria de Calígula do que da traição de uma mulher e da desavergonhada boca de Vitélio, ele acabou se submetendo e preferiu cortar os pulsos[17][18][19] Asiático seguiu calmamente para sua morte e inclusive coordenou os preparativos para seu funeral.[20] FamíliaEstudiosos concluíram que Asiático se casou com Lólia Saturnina,[4] irmã da imperatriz Lólia Paulina, a terceira esposa do imperador Calígula.[3] Porém, Bernard Kavanagh defende não apenas que é mais provável que Saturnina não tenha sido a esposa de Asiático e sim de seu filho, mas também que, por causa disto, Saturnina seria provavelmente sobrinha e não irmã de Paulina.[21] Seja como for, uma inscrição encontrada em Tibur informa que a identidade de seu filho, Décimo Valério Asiático, e neto, Marco Lólio Paulino Décimo Valério Asiático Saturnino, cônsul em 94 e 125.[22] É possível que ele tenha tido outros filhos. Terras, propriedades e benfeitoriasAsiático investiu a maior parte de sua fortuna em propriedades e terras.[1] Segundo evidências epigráficas, ele era proprietário de terras na Gália,[8] no Egito (em Eueméria e Filadélfia[1]) e na Itália.[1] Em Vienna, Asiático e seu irmão financiaram várias obras para embelezar a cidade.[8] Segundo uma inscrição, no norte da cidade ficava o túmulo dos "Scaenici Asiaticiani", uma trupe de artistas que devia sua existência a um certo Asiático, provavelmente Décimo Valério[8] ou seu pai. Segundo outra inscrição, um dos libertos de Asiático era um homem muito rico[23] que provavelmente detinha propriedades em Lugduno. Ver também
NotasReferências
Bibliografia
Ligações externas
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