Cultura de Maadi-Buto Nota: Para outros significados, veja Maadi.
A Cultura de Maadi-Buto ou Cultura maadiana foi uma cultura arqueológica da Idade do Cobre que desenvolveu-se no delta do Nilo e no oásis de Faium entre 3800 e 3 200 a.C., fazendo-a contemporânea a Nacada I (4000–3500 a.C.) e Nacada II (3500–3200 a.C.). CronologiaA cultura se desenvolveu 3800 e 3 200 a.C. em sítios localizados no delta do Nilo e no oásis de Faium; Reynes e Seeher supõem, em vista do hiato ocupacional notado entre Omari e Maadi-Buto (4400–3800 a.C.), que possivelmente houve uma fase "pré-maadiana" que ainda não foi identificada.[1][2] Ela começou a declinar no final de Nacada II,[3] possivelmente devido ao expansionismo nacadano, visto que a Cultura de Nacada ambicionava obter o controle das rotas comerciais com o Oriente.[4] No começo de Nacada III, Maadi já não existia e muitos dos seus sítios foram reocupados. Se isso deu-se por conquista ou infiltração é ainda uma questão em aberto.[5][6] A cultura representa um avanço significativo na complexidade social do Baixo Egito e, segundo as evidências (cronologia, arquitetura e artefatos correspondentes), possivelmente se desenvolveu a partir de influências híbridas, ou seja, tanto egípcias como palestinas.[7] CaracterísticasSítios
Maadi está na margem leste do rio Nilo a 10 quilômetros ao norte de Omari num cume na entrada do Uádi Ti, o que coloca-a fora do alcance das zonas sujeitas às inundação do rio. Data do começo do IV milênio a.C. e é contemporâneo a Nacada I-IIB. Compreende uma área de 18 hectares e foi escavado seletivamente. Sua organização mostra poucos sinais de planejamento urbano e não há indícios da separação de áreas às atividades específicas (econômica, ritual, residencial).[8] Foi tido como os "restos de uma cidade em expansão" [9] e é formado por um sítio principal ligado a um cemitério (76 túmulos) e um sítio secundário ligado a outro cemitério (450 túmulos humanos e 14 animais). Possui cabanas ovais, estruturas em forma de ferradura, casas subterrâneas, estruturas retangulares (possivelmente currais), lareiras e silos (localizados nas bordas do assentamento).[10] Alguns de seus edifícios se assemelham aqueles da Cultura de Bersebá.[11] Ao possuir edifícios de estocagem bem desenvolvidos, propôs-se que era uma sociedade bem-organizada que baseou suas atividades em elaborado sistema de estocagem. Tijolos secos ao Sol e pedras com argamassa foram usadas para erigir os edifícios e a diversidade das formas das estruturas pode indicar diferenciação social;[8] a tecnologia de tijolos pode ter sido inventada no Levante e foi importada ao Egito.[12] Paliçadas e longas valas estreitas formavam parte das defesas da cidade, mas há evidência de que foi saqueada e queimada ao menos uma vez.[13] Não há claros indícios de que Maadi desempenhou atividades metalúrgicas, mas dada sua posição pensa-se que fosse centro de importação, manufatura e disseminação de cobre e objetos de cobre.[14]
Saís possui três fases principais (neolítica, transicional e pré-dinástica) que transcorrem o período de 4 800 e 3 500 a.C. e são caracterizadas pela presença de cerâmica (sobretudo as últimas duas) e restos faunísticos de animais terrestres e peixes e plantas domesticadas.[15][16] Saís e Buto são importantes sítios à compreensão da origem da religião na área, pois desde o pré-dinástico serviram como centros de propagação cultual.[17] Buto, dividido em 7 camadas estratigráficas (estando entre elas uma camada transicional), apresentou-se como importante sítio do delta na fase final da cultura e produziu abundante conjunto lítico e cerâmico comparável aos conjuntos de Maadi, Heliópolis e Uádi Digla.[18] Buto, por sua vez, à época era um sítio marítimo e utilizou de sua posição privilegiada para se integrar nas rotas comerciais vindas do Oriente, sobretudo num período no qual os sumérios expandiam-se em direção ao Mediterrâneo.[19][14] Segundo evidências localizadas nas primeiras duas camadas, os habitantes de Buto erigiram habitações com hastes de cana ou papiro.[20] A camada transicional (marcada pela mudança de tipos de cerâmica) foi interpretada por alguns como evidência da substituição de uma cultura por outra, no entanto, há aqueles (Kohler e Wilkinson) que argumentam que a camada influi numa expansão da tecnologia de cerâmica do Alto Egito e não necessariamente a expansão da Cultura de Nacada como evidenciado pelos novos modelos localizados (foram produzidos localmente).[21] Buto, com base em artefatos descobertos in situ, possivelmente possuía conexões com culturas calcolíticas do corredor siro-palestino e Mesopotâmia, [19] sobretudo a partir de sua cerâmica, porém mesmo ela era produzida localmente, como àquela de influência nacadana.[22] CemitériosOs cemitérios localizam-se fora dos assentamentos e neles há enterros de jovens, homens e mulheres depositados em covas ovais ou circulares rasas envolvidos em papiros ou peles com espólio (pentes, pulseiras, conchas, paletas, pérolas, pigmentos, cerâmica, vasos de pedra e restos animais); crianças foram enterradas no interior dos assentamentos em vasos. Também foram evidenciados os primeiros exemplos de sepultamento animal. Em Heliópolis, exemplos de túmulos orlados com blocos de pedra e madeiras sobre as lápides foram constatados.[10] Inicialmente os adultos foram enterrados de forma recurvada e com as mãos no rosto; posteriormente foram colocados na cova com a cabeça ao sul e com o corpo pro lado direito.[23] O espólio tumular é simples e há poucos bens em cada túmulo, mas se nota um processo de acumulação, com alguns túmulos de Uádi Digla mais equipados do que outros; em Heliópolis há a mesma tendência.[24] Cultura materialA indústria lítica usava sílex, quartzito e cristal de rocha e tinha como formas principais raspadores raspadores circulares produzidos a partir de nódulos grandes, lâminas com nervuras retilíneas conhecidas como "lâminas cananeias" (essa tecnologia se espalha ao Alto Egito por sua influência[25]) que mais tarde dariam origem às "navalhas" (raspadores duplos) faraônicos,[a] peças bifaciais como pontas de projéteis, adagas e lâminas de foices (produzidas primeiro segundo a tradição das foices de Faium, mas gradualmente substituídas pelo estilo de foices montadas numa lâmina do Oriente Próximo),[26] facas de borda retocada, furadores, punções, buris e microburis, cunhas, brocas, cabeças de clavas discoides (semelhantes àquelas de Nacada I e II[26]), mós, machados polidos, pilões, almofarizes, lâminas torcidas, pontas de flechas espigadas, foices unifaciais e cutelos.[4][10] Cobre (agulhas, arpões, hastes, espátulas, machados,[27] cinzeis, punções, furadores, anzóis, fios e alfinetes), osso, marfim e chifre polidos (pentes, agulhas, arpões, punções e furadores), espinhas de bagre (dardos e pontas de flechas)[26] e madeira (braceletes, varas, alças e tampas) também eram usados. Pigmentos (ocre, malaquita), paletas (calcário; raramente grauvaque[b]) e vasos de pedra (alabastro, calcário e basalto) são evidenciados.[4][10] Há alguns exemplos de figurinhas animais encontradas em Maadi, mas ao que parece são diferentes daquelas coetâneas do sul do Levante.[28] Foi encontrado em Buto, Maadi e Mendes uma atípica cerâmica fibrosa, bem como pequenos potes globulares com orifícios pré-cozidos em Buto que são distintivos do Baixo Egito e são datados de Nacada IID2-III.[29] Sua cerâmica era temperada (palha, areia, calcita), decorada (incisões ou pinturas geométricas), produzida à mão e aperfeiçoada com roda; aparentemente as partes superior e inferior eram produzidas em separado e depois unidas.[30][31] Os vasos foram divididos em 5 grupos: jarros globulares pretos e em geral polidos; jarros ovoides marrom-avermelhados polidos com anel na base; vasos vermelhos de topo preto; vasos vermelhos polidos com pouco tempero; vasos amarelos polidos sem tempero. Tinham pescoços estreitos, bordas largas e eram raramente decorados, exceto às vezes com marcas incisas aplicadas após o cozimento.[32] A produção era doméstica e assim permaneceu até fins do Calcolítico.[33] Há vasos antropomórficos,[34] grandes jarros para estocagem (marrons, vermelhos, cinzas ou pretos polidos com lavagem vermelha ou branca), vasos do Levante (tigelas em forma de V feitas com rodas,[33] cerâmicos com pé, pescoço, boca e alças distintivas decorados en mamelons e feitos com argila calcária) e Alto Egito (vermelhos com topo preto) que eram imitados localmente[10] ou produzidos por pequenos grupos de ceramistas estrangeiros alocados na zona.[33] Vasos achados em Heliópolis possuem, para Mortensen, relação com tradições autóctones e palestinas: "está claramente relacionada com a tradição anterior no norte, encontrada em Merinde, Faium e Omari, porém também mostra traços da tradição palestina: tempero com calcário moído, uso de lavagem de cal".[35] Cacos de Buto, Tel Issuíde e Tel Ibraim Auade decorados com impressões são reminiscências da cerâmica saariano-sudanesa.[26] EconomiaA economia se baseava na pecuária (ovino, bovino, caprino, suíno, burro, cão), agricultura (trigo, cevada, linho, lentilha, ervilha), caça (hipopótamo, íbex, castor, tartaruga), pesca (peixe, marisco) e comércio. Eles importavam produtos do Oriente (madeira de cedro,[36] cilindros de argila de Uruque,[37] peças líticas, vasos de pedra, conchas,[33] betume do mar Morto,[38] nódulos de sílex, cerâmica, resina, óleo, vinho, cobre, basalto; talvez leite e queijo de cabra e lã[39]), Alto Egito (pentes, cerâmica, marfim, paletas, cabeças de clava, pele de leopardo,[40] vasos de pedra, peças líticas, ovos[33] e plumas de avestruz[39]) e deserto Oriental (malaquita, manganês, cornalina, conchas, pérolas) e exportavam produtos para estas regiões: cerâmica, conchas e cereais ao Oriente; cobre, basalto e sílex ao Alto Egito.[4][10] O cobre utilizado no Baixo Egito provinha do Uádi de Arraba, no Sinai,[11] na forma de lingotes ou minério;[8] também há lingotes de formato similar aqueles de Timna e foi achado um objeto em cobre com alto teor de níquel e arsênio, indicando origem na Anatólia ou Transcaucásia. O contato é também indicado pela presença precoce de restos de burros domesticados.[41] Notas
Referências
Bibliografia
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