O Credo Niceno é uma profissão de fé adotada do Primeiro Concílio Ecumênico reunido na cidade de Niceia da Bitínia (atual İznik, Turquia) em 325. Chama-se também o Símbolo Niceno (em latim: Symbolum Nicaenum), e a Profissão de fé dos 318 Padres, referência aos 318 bispos que participaram do Primeiro Concílio de Niceia.
História
O propósito de um credo é agir como um critério de crença correta, ou ortodoxia. Os credos do cristianismo foram elaborados em momentos de conflito sobre a doutrina: a aceitação ou rejeição de um credo serviu para distinguir os crentes e negadores de uma doutrina específica ou um conjunto de doutrinas. Por essa razão, um credo foi chamado em grego σύμβολον (symbolon), que significava a metade de um objeto quebrado para que, colocada junto com a outra metade, verificasse a identidade do portador.[1] A palavra grega passou para symbolum em latim ("símbolo" em português).[2]
O Credo de Niceia foi adotada em face do arianismo. Ário, um presbítero da Igreja de Alexandria, natural da Líbia, havia declarado que, embora o Filho fosse divino, ele era um ser criado no tempo e, portanto, não coessencial com o Pai. Isto fez com que Jesus fosse considerado inferior ao Pai, que colocou desafios soteriológicos para a doutrina da Trindade.[3][4]
O Credo Niceno explicitamente reafirma a divindade coessencial do Filho, aplicando-lhe o termo "consubstancial". Termina com as palavras "(Cremos) no Espírito Santo" e com um anátema contra os arianos.
Tradicionalmente, este Credo é considerado uma revisão, feita pelo Primeiro Concílio de Constantinopla em 381, do Credo Niceno de 325, motivo pelo qual é chamado Niceno-Constantinopolitano. Porém, desde mais de um século, se levantam dúvidas sobre esta explicação da origem do Credo Niceno-Constantinopolitano.[8]
Os atos do concílio de 381 não são conservados, e não existe documento com o texto do Credo Niceno-Constantinopolitano mais antigo dos atos do Concílio de Calcedônia de 451. No 431, o Primeiro Concílio de Éfeso citou o Credo Niceno de 325, e declarou que "é ilícito para qualquer um para apresentar, ou escrever, ou compor uma fé diversa (ἑτέραν - no sentido de "contraditório" e não de "adicional")[9] da estabelecida pelos Santos Padres reunidos com o Espírito Santo em Niceia" (ou seja, o Credo de 325).[10] A falta de menção do Credo agora chamado Niceno-Constantinopolitano nos escritos do intervalo entre 381 (Primeiro Concílio de Constantinopla) e 451 (Concílio de Calcedônia), particularmente nos atos deste Concílio de Éfeso, até tem inspirado a alguns a ideia de que o texto foi apresentado ao Concílio de Calcedônia para superar o problema da proibição Efesina de novas formulações.[11][12]
Porém, segundo a Encyclopædia Britannica e outros estudiosos, é mais provável a autoria ou aprovação do Concílio de Constantinopla, mas sobre a base não do Credo Niceno, senão de um Credo batismal local, talvez de Jerusalém, de Cesareia, de Antioquia ou de Constantinopla.[6][13][14][15][16]
Comparação dos dois credos
O Credo Niceno termina com as palavras "(Cremos) no Espírito Santo" e com um anátema contra os arianos. Há também muitas outras diferenças. São poucos os estudiosos que acreditam que o Credo Niceno-Constantinopolitano seja uma amplificação do Credo de 325. Só num sentido lato o Credo posterior pode ser chamado Niceno, isto é, em conformidade com a fé proclamada em Niceia.[17]
Na seguinte tabela, letras negritas indicam as partes do Credo Niceno omitidas ou movidas no Niceno-Constantinopolitano, e letras cursivas as frases presentes no Niceno-constantinopolitano mas não no Niceno.[18]
Numa tradução portuguesa as diferenças aparecem assim:
Credo Niceno (325)
Credo Niceno-Constantinopolitano (381?)
Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Ε em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai;
E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos
Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai;
luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai,
por quem foram feitas todas as coisas que estão no céu ou na terra.
por que, foram feitas todas as coisas.
O qual por nós homens e para nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez homem.
O qual por nós homens e para a nossa salvação, desceu dos céus: se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem.
Padeceu e ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras, e subiu aos céus, onde está assentado à direita do Pai.
Ele virá para julgar os vivos e os mortos.
Ele virá novamente, em glória, para julgar os vivos e os mortos;
e o Seu reino não terá fim.
E no Espírito Santo.
E no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele falou pelos profetas.
E quem quer que diga que houve um tempo em que o Filho de Deus não existia, ou que antes que fosse gerado ele não existia, ou que ele foi criado daquilo que não existia, ou que ele é de uma substância ou essência diferente (do Pai), ou que ele é uma criatura, ou sujeito à mudança ou transformação, todos os que falem assim, são anatematizados pela Igreja Católica.
E na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos; e a vida do mundo vindouro. Amém.
Conteúdo do Credo Niceno
O Credo Niceno afirma as seguintes crenças:
Crença em um só Deus: O Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Crença em Jesus Cristo: Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos. Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas.
Encarnação de Jesus Cristo: Desceu do céu, e se encarnou pelo Espírito Santo da virgem Maria, e se fez homem.
Crucificação e Ressurreição de Jesus Cristo: Foi crucificado também por nós sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras.
Ascensão de Jesus Cristo: Subiu ao céu, e está sentado à direita do Pai.
Segunda Vinda de Jesus Cristo: Tornará a vir com glória para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim.
Crença no Espírito Santo: Cremos no Espírito Santo, Senhor e vivificante, que procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é juntamente adorado e glorificado; que falou pelos profetas.
Crença na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica: Cremos na santa Igreja Católica e Apostólica. Confessamos um só batismo para a remissão dos pecados. E esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.