Casarão de Nhonhô Magalhães
O Casarão de Nhonhô Magalhães é uma mansão localizada na esquina da Avenida Higienópolis com a Rua Albuquerque Lins, no número 758, no bairro de Higienópolis, na cidade de São Paulo.[1] Desde 1994, a casa é um patrimônio histórico tombado em nível municipal pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo)[2] e estadual pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo).[3] HistóriaA residência foi construída para abrigar um dos maiores cafeicultores do Estado de São Paulo, o barão Carlos Leôncio Magalhães, que encomendou o projeto em 1927 pela construtora Siciliano & Silva.[1] As obras foram concluídas em 1939[4] e o estilo eclético da casa foi inspirado nos palacetes franceses do século XIX. Nhonhô Magalhães, como era conhecido, faleceu em 1931, antes do término da construção do palacete. A sua mulher, Ernestina Reis Magalhães, e cinco dos seus oito filhos moraram no local durante onze anos, até 1948.[1] Lendas urbanas afirmam que a casa é amaldiçoada devido à morte de Nhonhô antes do término da construção e posteriormente pela morte de dois de seus filhos. Um teria morrido afogado na banheira e o outro enforcado no lustre do salão principal.[5] Em 1974, a casa se tornou a sede da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Em 2005, o Shopping Pátio Higienópolis, controlado pelo Grupo Malzoni, comprou o imóvel em um leilão do governo estadual. Atualmente, o casarão está fechado à visitação para a conclusão do processo de restauro.[6] Carlos Leôncio MagalhãesCarlos Leôncio Magalhães (Araraquara, 1875 – São Paulo, 1931), mais conhecido como Nhonhô Magalhães, foi um rico cafeicultor paulista do início do século XX. Era filho do importante fazendeiro, empresário e político Carlos Baptista de Magalhães e da quatrocentona D. Leôncia de Freitas Magalhães.[7] A influência da família de sua mãe o fez parte do ciclo de convivência das mais tradicionais famílias paulistas e paulistanas.[8] Seguindo o espírito pioneiro do pai, um dos fundadores da Estrada de Ferro Araraquara, Carlos Leôncio iniciou a sua vida empreendedora ainda jovem quando ajudava a administrar as fazendas de café da família. Logo, adquiriu as suas próprias terras e construiu grandes cafezais.[7] Considerado o quarto Rei do Café,[9] Nhonhô foi dono de muitas fazendas espalhadas pelo Oeste Paulista. Na cidade de São Paulo, ele encomendou edifícios, arquitetou a primeira garagem arranha-céu do Brasil e inovou com a apresentação do projeto pioneiro de construção das marginais do Tietê e do Pinheiros para conectar a cidade com os municípios vizinhos.[7] Em 1897, casou-se no Rio de Janeiro com Ernestina Reis de Magalhães (Rio de Janeiro, 1876 - São Paulo, 1968), com quem teve oito filhos. Faleceu no dia 13 de março de 1931, antes de completar 56 anos.[7] Ao construir o casarão em Higienópolis, Nhonhô Magalhães tinha em mente dar muitas festas. Para isso, ele fez questão de solicitar à construtora o estabelecimento de espaços específicos para apresentações musicais, recitais de poesia e saraus.[10] Características ArquitetônicasO palacete de Nhonhô Magalhães foi construído em um terreno arborizado com mais de 7 mil m²[6] e representa a europeização do modo de viver da elite brasileira do início do século XX.[1] A casa compõe 2.500 m² do total do terreno e conta com cerca de quarenta cômodos espalhados em cinco andares.[1] O estilo clássico francês em que a arquitetura da construção foi baseada fica evidente no coroamento em mansardas (janela disposta no telhado de um edifício para iluminar e ventilar o sótão).[11] A estrutura externa apresenta uma volumetria quase cúbica, disfarçada pela presença de uma fachada com corpos salientes e ornamentação abundante.[11] O portão principal possui o monograma da família Magalhães.[10] Já na fachada principal, nota-se que pares de colunas jônicas festonadas, típicas da ordem arquitetônica clássica, suportam o corpo da mansão, em especial um terraço cercado de balaustrada.[11] O corpo central da mansão é marcado por tramos em um ângulo evidenciado graças às pilastras jônicas festonadas de ordem colossal e aos blocos de pedra com ranhuras sobressaídos da superfície. No alto, junto com as mansardas de cobertura metálica, há uma água-furtada ornamentada por frontão (forma similar a um triângulo), presente também no acabamento das fachadas laterais.[11] No interior destacam-se os tetos com detalhes em madeira de lei e decorados em gesso igual ao das ogivas góticas. A atmosfera também é inspirada nos interiores de um castelo medieval, principalmente por conta dos vitrais belgas, dos mosaicos de vidros de Murano e dos lustres de ferro fundido.[1] Apesar da casa ser inspirada nos palacetes franceses do século XIX, ela comporta ambientes escuros e fastuosos em contraste aos ambientes claros e graciosos típicos do estilo francês.[11] Entre os mobiliários que garantem esta ambiência estão objetos com acabamento em madeira neogóticas, portas e escadas lavradas, uma lareira ornamentada localizada no andar térreo, lustres de bronze, piso de marchetaria e móveis de jacarandá-da-bahia entalhados pelo artista italiano Dinucci.[10] Do mobiliário original da construção permanece as poltronas neogóticas e um armário de grande porte entalhado de estilo renascentista inglês.[11] No primeiro andar há uma capela inspirada no estilo gótico do Mosteiro dos Jerônimos, de Lisboa. A escada principal possui símbolos religiosos entalhados em sua madeira. No subsolo, encontra-se um anfiteatro, com um palco principal e outro lateral para orquestras menores, de capacidade para 30 espectadores.[10] Os quartos possuem pinturas que imitam papéis de parede, cada um com um estilo diferente de acordo com os padrões típicos dos castelos franceses, e também passagens secretas que possibilitavam que a família andasse entre os cômodos sem serem vistos pelos hóspedes.[10] O hall de entrada guarda o salão nobre dos Magalhães, onde há um balcão em jacarandá construído para apresentações musicais. No porão há uma caixa-forte que funcionava como o cofre da família. Nele, guardavam pratarias e joias raras.[10] O amplo jardim possui pavimentos originais constituídos de mosaico português e tijolos cerâmicos.[11] Na época da construção, continha árvores frutíferas e um grande viveiro com diferentes espécies de aves.[12] Os terraços são compostos por muretas molduradas e decorado com grandes vasos. A casa é um exemplo da colagem estilística própria do Ecletismo.[11] Significado Histórico e CulturalO imóvel é tombado devido a sua importância arquitetônica, ambiental e histórica. O casarão integra a Mancha Higienópolis e é um exemplo das formas de ocupação e separação dos terrenos durante a segunda fase da ocupação urbana do bairro de Higienópolis, que une todas as construções levantadas nos anos de 1900 até a década de 1930.[13] Esta fase é marcada pela fusão das habitações destinadas à burguesia e à classe média. Em cada construção pertencente à Mancha é possível notar as diferenças na apropriação dos lotes, na maneira de morar e na linguagem arquitetônica escolhida dentro do Ecletismo, que espelha as diversas opções de repertórios ornamentais, partidos arquitetônicos e materiais utilizados.[14] A Casa de Nhonhô Magalhães registra o período do surgimento das primeiras construções de Higienópolis. O bairro foi projetado a partir do modelo urbanístico usado na Europa e, por isso, apresenta ruas largas e arborizadas.[3] A importância ambiental do patrimônio histórico em questão é também resultado dos recuos frontais e laterais, dos gabaritos simétricos e da densa vegetação arbórea que desbrava todo o terreno.[14] Estado atualO Shopping Pátio Higienópolis, controlado pelo Grupo Malzoni, é o atual dono do Casarão de Nhonhô Magalhães. O imóvel foi arrematado em um leilão promovido pelo governo estadual no ano de 2005 a fim de conseguir dinheiro para capitalizar o projeto Parcerias Público-Privadas (PPPs). O valor pago foi de 19,5 milhões de reais.[6] Uma das cláusulas do edital de venda previa que após a realização de uma reforma, dois dos cinco andares da casa (537 m² do total de 2.463 m²)[3] deveriam ser cedidos para a instauração de um equipamento público, como um museu, de um equipamento cultural ou de um órgão do governo estadual, como a Secretaria de Estado da Cultura, todos abertos à população.[6] Conforme combinado em reunião entre o CONPRESP e o Grupo Malzoni, o shopping foi autorizado a usar 33 mil metros quadrados do casarão para aumentar a sua área de serviços. Assim, foi construído uma terceira entrada pela Rua Albuquerque Lins e novas edificações nos fundos do casarão a fim de transformá-lo em um polo cultural.[5] Desde então, o Casarão de Nhonhô Magalhães permanece em restauro e sem previsão de término dos serviços solicitados. O governo estadual continua na espera pela concessão de uma parte do espaço, como previsto no edital de venda.[6] Galeria de Fotos
Referências
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