Caetano Veloso (álbum de 1971)
Caetano Veloso é o terceiro álbum a solo de Caetano Veloso, editado em 1971 pela Philips. Composto durante o exílio político de Veloso em Londres, reflete essa experiência numa toada melancólica nos antípodas do fulgor dos seus álbuns anteriores. A maioria das canções deste álbum são cantadas em inglês. ContextoEntre 1969 e 1971, Caetano morou em Chelsea, centro de Londres, por força do exílio a que fora submetido pela vigente ditadura militar brasileira.[1] O músico dividiu a casa com seu amigo Gilberto Gil, também exilado; suas respectivas esposas; e o gerente deles, que chegara na Europa antes para buscar um novo lar para o grupo. Lisboa e Madrid foram descartadas logo de cara por conta das ditaduras a que ambos os países de que são capitais (Portugal e Espanha, respectivamente) estavam submetidos. Paris, capital francesa, também foi rejeitada por ter uma cena musical "entediante", segundo Gilberto. Londres foi considerada por eles a melhor cidade para um músico viver.[3] Caetano passou o primeiro ano de seu exílio desanimado e com saudades do Brasil, apesar de ter circulado muito pelo mundo musical com Gil, o que se traduziu em shows assistidos dos The Rolling Stones, ensaios realizados com músicos diversos e o primeiro contato deles com o reggae.[3] Um dia, ele foi abordado pelo produtor local Ralph Mace, que acabara de deixar a Philips Records (ex-gravadora de Caetano no Brasil), e recebeu a proposta de fazer um disco em inglês. Logo, o colega estadunidense Lou Reizner se juntou a Ralph, mas acabaria deixando o projeto perto do fim por conta de um desentendimento. Seu nome foi mantido nos créditos do disco, contudo.[1] GravaçãoO disco foi gravado em 1970.[2] Foi a primeira vez que Caetano tocou violão num disco seu, por incentivo de Ralph;[4] nos lançamentos anteriores, os produtores não o autorizavam a executar o instrumento. Caetano diria mais tarde que "se eu não tivesse sido preso e exilado, talvez nunca tocasse violão num disco."[5] Caetano sugerira que Gil tocasse o violão no disco após mostrar a faixa "London London" a Ralph, mas este achava que se outra pessoa tocasse o violão, a canção "perderia a graça".[5] Caetano era inseguro quanto às próprias habilidades, mas Ralph e Lou o convenceram de que as lacunas em suas habilidades eram, na verdade, "o charme da música".[3] A faixa "Maria Bethânia" é dedicada à sua irmã homônima à canção, e em sua letra o cantor pede que ela envie notícias do Brasil.[1][5] Ao longo dos versos, Caetano transforma a palavra anglófona "better" (melhor) no segundo nome da irmã.[5] Na parte instrumental, Caetano faz algumas improvisações acompanhado pelo mesmo quarteto de cordas que gravou "Eleanor Rigby", dos The Beatles.[6] LegadoA faixa de abertura "A Little More Blue" foi parcialmente censurada pela ditadura então vigente no Brasil; os militares pensaram que a menção à atriz Libertad Lamarque na letra fosse uma alusão à liberdade do opositor do regime Carlos Lamarca.[1] "London, London" foi regravada pela banda brasileira de rock RPM em 1986 no disco Rádio Pirata ao Vivo. O jornalista Mauro Ferreira afirma que o sucesso "Che Sarà", de Jimmy Fontana, é um plágio desta música, que ele teria conhecido por meio de Gal Costa durante uma passagem pelo Brasil (a cantora lançara a música um ano antes).[1] Em 2010, Caetano descreveria o disco com "um documento da depressão" e diria que somente então ele realmente apreciava a música que fizera no exílio que, segundo ele, o ajudou a se tornar um músico mais criativo e uma pessoa mais forte.[3] Em 7 de março de 2021, em comemoração aos 50 anos do disco, Caetano tocou "London, London", "If You Hold a Stone", "Nine out of Ten" e "It's a Long Way" (estas últimas do álbum seguinte, Transa, também gravado durante exílio em Londres) ao vivo em uma live no Festival Cultura Inglesa.[4] FaixasAutoria das faixas conforme fonte.[1] Lado A
Lado B
Recepção da crítica
Numa análise lançada aos 50 anos do disco, o jornalista Mauro Ferreira chamou o álbum de "a mais perfeita tradução da alma triste do artista no período do exílio".[1] CréditosConforme fonte.[1]
Referências
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