Caboclo

 Nota: Para a entidade da umbanda, veja Caboclos na umbanda. Para a casta militar do Egito, veja Mamelucos. Para os habitantes tradicionais mestiços do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, veja Caiçara. Para outros significados, veja Cabocla.
Nascimento de caboclo representado no Monumento aos Bandeirantes, em Santana de Parnaíba, no Brasil.

Caboclo, caboco, mameluco,[1] cariboca ou curiboca é o mestiço de branco com indígena. Também era a antiga designação do indígena brasileiro. Pode, também, ser sinônimo de caipira.[2] O mestiço de branco com caboclo é o cariboca ou curiboca sendo denominação utilizada também pelos filhos de brancos e indígenas.[3]

Mulher Mameluca no Brasil Holandês, cerca de 1637 a 1664. Pintura de Albert Eckhout.

Origem

Diogo Álvares Corrêa, o "Caramuru".
A princesa indígena tupinambá Catarina Paraguaçu, que foi esposa do Diogo Álvares Corrêa (Caramuru), e convertida ao catolicismo.

A história do povo caboclo começa nos primeiros anos do século XVI, com o início da exploração do pau-brasil na zona costeira. Embora as relações consensuais e não consensuais entre homens europeus e mulheres indígenas ocorram desde os primórdios da colônia, o primeiro caso documentado de indivíduo branco a se fixar em território brasileiro, e a prosperar em uma comunidade indígena no Brasil, foi o do português Diogo Álvares Corrêa, que naufragou na costa do recôncavo da Bahia em 1509.[4][5]

Diogo Álvares, o "Caramuru" (apelido recebido pelos indígenas tupinambás), através da sua união com a princesa indígena Catarina Paraguassú, deram origem a "raça brasileira", começando a miscigenação racial baiana, juntos deixaram uma extensa descendência cabocla.[6] A cabocla Madalena Caramuru (filha do Caramuru com a Catarina), é considerada a primeira mulher brasileira alfabetizada.[7]

Etnônimo

A denominação foi dada pelos primeiros colonos lusitanos nas terras brasileiras para os mestiços. Os mamelucos que se destacaram na então colônia portuguesa foram os bandeirantes, que colaboraram para a expansão do território, até então limitado pelo Tratado de Tordesilhas. Assim, alguns se destacaram na então colônia portuguesa (séculos XVI a XIX) como bandeirantes, exploradores que se engajavam na captura de índios e na busca de metais preciosos, contribuindo para a expansão do território brasileiro para além das fronteiras delimitadas na época pelo Tratado de Tordesilhas.

Na América do Sul, mameluco (mais comumente conhecido como "caboclo") é, também, o termo usado para identificar pessoas mestiças. Nos século XVII e século XVIII, mameluco referia-se a bandos organizados por colonizadores (mesclados ou não) caçadores de escravos. Mamelucos eram, em sua maioria, exploradores que vagueavam pelo interior da América do Sul desde o Atlântico até às encostas dos Andes, e do rio Paraguai até ao rio Orinoco fazendo incursões nas áreas indígenas em busca de metais preciosos.

Etimologia

Segundo o Dicionário Aurélio, "caboclo" procede do tupi kari'boka, que significa "procedente do branco".[2] O tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro defende que "caboclo" se originou do termo tupi kuriboka, que, num primeiro momento, designava o filho de índio com africana. Mais tarde, kuriboka teria passado a se referir também ao filho de mãe índia e pai branco e depois ao mestiço de caboclos e brancos.[8][3]

Câmara Cascudo, no "Dicionário do Folclore Brasileiro", defende a forma "caboco". Além disso, não encontrou base nas diversas hipóteses etimológicas existentes para o termo, como a que afirma derivar do tupi caa-boc, "o que vem da floresta", ou de kari'boca, "filho do homem branco".

Descrição

Alegoria do "Caboclo" ilustrando a edição da revista Bahia Illustrada, em 1918. Se tornou a personificação dos brasileiros que lutaram contra os portugueses pela Independência da Bahia.

Os caboclos formam o mais numeroso grupo populacional da Região Norte do Brasil (Amazônia) e de alguns estados da Região Nordeste do Brasil (Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Alagoas, Ceará e Paraíba).[carece de fontes?] Contudo, a quantificação do número de pessoas consideradas caboclas no Brasil é tarefa difícil, pois, segundo os métodos usados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em seus recenseamentos, os caboclos entram na contagem dos 44,2% de pessoas consideradas pardas no Brasil, grupo que também inclui mulatos, cafuzos e várias outras combinações da mistura de negros ou índios com outras raças, como negro e oriental, índio e oriental, negro, índio e branco, negro, índio e oriental etc.[9]

Os atributos que definem a categoria social caboclos são econômicos, políticos e culturais. Nesse sentido, o termo refere-se aos pequenos produtores familiares da Amazônia que vivem da exploração dos recursos da floresta. Os principais atributos culturais que distinguem os caboclos dos pequenos produtores de imigração recente são o conhecimento da floresta, os hábitos alimentares e os padrões de moradia. Devido a seus atributos econômicos similares, no entanto, os dois, caboclos e imigrantes, podem ser alocados na categoria social mais ampla de camponeses.

Ver também

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 074.
  2. a b FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 302.
  3. a b «Cariboca». Dicio. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  4. «Caramuru - Diogo Álvares Correia». www.historia-brasil.com. Consultado em 8 de junho de 2024 
  5. Oliveira, Ivan Rafael de (17 de dezembro de 2023). «Nossa Senhora da Graça – Salvador». SOS Família e Juventude. Consultado em 8 de junho de 2024 
  6. Beirante, Maria Ángela (2003). «Um santuário de romaria no tempo da expansão: Nossa Senhora da Atalaia: (Montijo)». Revista Portuguesa de História (36): 173–199. ISSN 0870-4147. doi:10.14195/0870-4147_36-1_7. Consultado em 8 de junho de 2024 
  7. Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. [S.l.]: Seguinte. 25 de junho de 2018 
  8. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 244.
  9. «PNAD 2006» (PDF) 

Bibliografia

  • CARVALHO, M. R.; CARVALHO, A. M. (org.). Índios e caboclos: a história recontada. Salvador: EDUFBA, 2012, 269 p. link.
  • CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura / Instituto Nacional do Livro, 1954.
  • MAGALHÃES LIMA, Deborah. A construção histórica do termo caboclo: sobre estruturas e representações sociais no meio rural amazônico. Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 2, n. 2, p. 5-32. 1999. link.
  • RIBEIRO, Darcy. O Brasil caboclo. In: O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. link.
  • RODRIGUES, Carmen Izabel (2006). «Caboclos na Amazônia: a identidade na diferença». Novos Cadernos NAEA (1). ISSN 2179-7536. doi:10.5801/ncn.v9i1.60 
  • SANTOS, José Geraldo. O Brasil indígena e mestiço de Manoel Bomfim. Curitiba: Editora CRV, 2020. ISBN 9786555787597