BizantinismoBizantinismo ou bizantismo é um termo usado em ciência política e filosofia para denotar o sistema político e cultural do Império Bizantino e seus sucessores espirituais, em particular os Estados balcânicos, o Império Otomano e a Rússia.[1][2] O termo bizantinismo em si foi cunhado no século XIX[3] e tem primariamente conotações negativas, implicando complexidade e autocracia. Esta reputação negativa destacou as complexidades desconcertantes dos ministérios do império e suas cerimônias cortesãs, bem como sua suposta falta de espinha dorsal em assuntos marciais. Da mesma forma, o "sistema bizantino" também sugere uma propensão para intrigas, conspirações e assassinatos e um estado de instabilidade política geral dos negócios. O termo tem sido criticado por estudiosos modernos por ser uma generalização que não é muito representativa da realidade da aristocracia e burocracia bizantina.[4][5] Na linguagem comum bizantinismo ou bizantinice significa uma discussão que se prende a complexidades e detalhes, deixando de lado os aspectos mais importantes e os resultados práticos, ou um argumento pedante, vicioso, esquisito, mistificador, artificioso ou frívolo.[6][7][8] Aristocracia e burocraciaImpério Bizantino é um termo moderno aplicado pelos ocidentais para o Império Romano medieval[9] e, portanto, tinha um complexo sistema aristocrático-burocrático que foi derivado dos sistemas romanos anteriores. No ápice da pirâmide estava o imperador, governante único e ordenado divindade,[10] e embaixo dele uma multidão de funcionários operavam o maquinário administrativo do Estado. Um componente chave do poder estatal foi o prestígio da instituição imperial e sua antiguidade. O cerimonial e a concessão de títulos honoríficos e ofícios valiosos foi, portanto, extenso e elaborado. Ao longo dos cerca de 1500 anos da existência do império, diferentes títulos foram adotados e descartados, e muitos perderam ou ganharam prestígio. Pelo tempo de Heráclio (r. 610-641) no século VII, muitos dos primeiros títulos romanos, baseados no latim e nas tradições da República Romana, tornaram-se obsoletos no novo império falante do grego. (Heráclio formalmente mudou a língua oficial do Estado bizantino do latim para o grego em 620).[11][12][13] Títulos inspirados pela tradição grega deles, frequentemente apenas aproximações grosseiras de conceitos latinos, tornaram-se comuns (por exemplo basileus [βασιλεύς] ao invés de "césar ou "augusto para o título do próprio imperador).[14] Outros títulos mudaram de significado (por exemplo patriarca) ou foram desvalorizados com o tempo (tal como cônsul). Entre as importantes qualidades do império estava também o cesaropapismo, a subjugação da Igreja ao Estado.[15] CriticismoO Império Bizantino adquiriu uma reputação negativa do mundo ocidental tão cedo quando a Idade Média. A criação do Sacro Império Romano-Germânico por Carlos Magno no século IX e o Grande Cisma do Oriente no século XI fizeram o império um pária para os países europeus ocidentais diante da Igreja de Roma, e o cerco e saque de Constantinopla durante a Quarta Cruzada em 1204 apenas consolida essas diferenças. Assim, os estereótipos europeus medievais para as pessoas do Império Bizantino retratou-os como pérfidos, traiçoeiros, servis, efeminados e não bélicos.[4] O medievalista Steven Runciman descreve a visão da Europa medieval do Império Bizantino, dizendo:
O criticismo do império continuou entre os historiadores dos séculos XVIII e XIX, particularmente nos trabalhos dos historiadores e filósofos influenciados pelo Iluminismo.[4] Edward Gibbon, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Johann Gottfried von Herder, William Edward Hartpole Lecky, Montesquieu e Voltaire estiverem entre os muitos autores ocidentais do período que foram críticos ao sistema bizantino.[3][17]
Edward Gibbon, o primeiro historiador grego a escrever a história completa do Império Bizantino em seu A História do Declínio e Queda do Império Romano (1776-1789), foi um crítico agudo do império.[20] Jacob Burckhardt, um historiador influente do século XIX partilhou da opinião de Gibbon:
As críticas apontam que o Império Bizantino e seus sucessores não foram influenciados pelas grandes mudanças na filosofia ocidental e a Questão das investiduras, a Reforma Protestante e o Renascimento;[15] e reduzem a cultura política bizantina ao cesaropapismo e a uma cultura política autoritária, descrita como autoritária, despótica e imperialista.[20][21] Após a queda do Império Bizantino, críticas ao sistema bizantino salientaram que ele sobreviveu e "corrompeu" outros Estados; em particular a Rússia (dos tempos da Moscóvia até o Czarado da Rússia e o Império Russo, cujo sistema foi comparado ao bizantino - ver também autocracia czarista),[2][22] a União Soviética,[23] o Império Otomano,[24] e os Estados balcânicos (as antigas províncias europeias do Império Otomano).[15][1][25] Historiadores modernos apontam que esta reputação negativa não é necessariamente verdadeira e, no mínimo, é uma generalização muito simplista. Como um termo construído, bizantinismo também compartilha daquelas falácias com um termo estreitamente relacionado, balcanismo. Angelov resume-se da seguinte forma:
LouvorEnquanto o Império Bizantino foi comumente visto de uma forma negativa, houve exceções. Bizâncio foi reabilitado na França do Absolutismo, do século XVII à Revolução Francesa, nos trabalhos de indivíduos como o jesuíta Pierre Poussines.[1] Como o Iluminismo varreu a Europa Ocidental, as tradições francesas encontraram refúgio no Império Russo. O termo bizantinismo foi usado em um contexto positivo pelo estudioso russo do século XIX Konstantin Leontiev em Bizantismo e Eslavado (1875) para descrever o tipo de sociedade que o Império Russo precisava consolidar para combater a alegada influência degenerativa do Ocidente.[22] Leontiev elogiou o Império Bizantino e a autocracia czarista, e uma sociedade e sistema político que compreendesse o poder autoritário do monarca, a devoção à Igreja Ortodoxa Russa, a manutenção da obshchina para os camponeses, e a divisão estrita de classes; ele também criticou a educação universal e democracia.[27][28][29]
No discurso político russo, a Rússia às vezes carinhosamente é chamada de Terceira Roma, a segunda sendo o Império Bizantino, que sobreviveu à contraparte ocidental do antigo Império Romano por 1000 anos.[30] Em seu artigo "Sempre houve Bizantinismo?", Alexandre Mirkovic argumenta que muitos autores ocidentais criaram uma imagem de Bizâncio como uma projeção de suas próprias ansiedades.[31] Discurso modernoEm um contexto moderno, o termo pode ser usado para denotar práticas antidemocráticas e o uso de violência na vida política; tem sido frequentemente usado no contexto das políticas do sudeste europeu (Bálcãs). A "bagagem" da tradição bizantina é usada para explicar os atrasos no desenvolvimento das instituições democráticas; a preferência pelos governos fortes, até mesmo autocráticos; a desconfiança das pessoas em empresários e políticos eleitos e, em geral, para explicar as diferenças entre a Europa Ocidental e a Europa Sudeste e Oriental. A palavra bizantinismo e afins, como bizantino, adquiriu conotações negativas em várias línguas europeias.[15][2] Referências
Bibliografia
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