Batalha de Petroe

Batalha de Petroe
Guerras civis bizantinas

Mapa do Império Bizantino por volta de 1025. As cidades de Niceia, Nicomédia e Constantinopla aparecem bem no centro.
Data 20 de agosto de 1057
Local Império Bizantino, Petroe (perto de Niceia
Desfecho Vitória dos rebeldes
Beligerantes
Império Bizantino Forças imperiais de Miguel VI, o Estratiótico  Império Bizantino Forças rebeldes de Isaac I Comneno
Comandantes
Império Bizantino Teodoro
Império Bizantino Príncipe Aarão da Bulgária
Império Bizantino Basílio Tarcaniota
Império Bizantino Isaac I Comneno
Império Bizantino Catacalo Cecaumeno
Império Bizantino Romano Esclero

A Batalha de Petroe[1], também conhecida como Batalha de Hades[2], foi travada em 20 de agosto de 1057 entre as forças imperiais bizantinas de Teodoro, o doméstico das escolas do oriente, e o general rebelde Isaac I Comneno, comandante do exército bizantino na Anatólia. Comneno havia se revoltado contra Miguel VI, o Estratiótico  (r. 1056–1057) e conseguiu convencer diversos importantes generais, inclusive Nicéforo Briênio e Nicéforo Botaniates, a se unirem a ele. Depois que Isaac foi proclamado imperador, os dois exércitos se enfrentaram em Hades, perto da cidade de Niceia. Embora a ala direita do exército de Comneno tenha sido destruída, a sua esquerda, comandada por Catacalo Cecaumeno, destruiu a direita imperial, avançou e invadiu o acampamento adversário, destruindo suas tendas e possessões. O próprio Comneno se manteve firme no centro, o que finalmente rompeu a resistência do exército imperial, que debandou e começou a fugir, deixando livre o caminho para a capital Constantinopla.

Contexto

O breve reinado de Miguel VI foi inteiramente marcado por disputas internas depois que o novo imperador começou a alienar as mais importantes figuras da aristocracia militar. Das duas mais importantes, Catacalo Cecaumeno e Nicéforo Briênio, Cecaumeno era o general mais popular de todo o império. Quando o imperador decidiu retirar-lhe o comando das tropas em Antioquia, acusando-o de extorsão, provocou um grande descontentamento entre os principais nobres de sua corte[3]. Mas foram as ações de Miguel contra Briênio que provocaram a revolta.

Posteriormente, Miguel restaurou a posição de Briênio, mas não devolveu-lhe as propriedades e a fortuna que foram confiscadas pela imperatriz Teodora. Quando o general reclamou pessoalmente para o imperador, foi insultado, o que foi a gota d'água[4]. Miguel ainda piorou a situação ao recusar o pedido do recém-restaurado general depois de ter ordenado que ele liderasse uma divisão de 3 000 homens para reforçar o exército na Capadócia[5]. A partir daí, Briênio passou a conspirar para derrubar o imperador. Ao chegar, porém, ele atacou e espancou um representante do imperador que contradisse ordens suas e depois atirou-o na prisão, o que sinalizou para seus oficiais que o general estava prestes a se rebelar[6]. Eles então soltaram o enviado imperial, capturaram Nicéforo, o cegaram e o mandaram preso para Constantinopla.

Essa prisão precipitou a revolta e a aristocracia militar se uniu à volta de Isaac Comneno[7]. Temendo que o plano estivesse em vias de ser descoberto, Isaac foi levado, aparentemente contra sua vontade, para Gunaria por Romano Esclero, Miguel Burtzes, Nicéforo Botaniates e os filhos de Romano III Argiro[8] onde foi proclamado imperador[9] em 8 de junho de 1057.

Primeiros movimentos

Após Isaac Comneno ter sido proclamado imperador, Cecaumeno forjou uma ordem imperial que ordenava que ele marchasse contra o chefe seljúcida Samuque com cinco tagmas. Dentre eles, dois eram de francos, um de rus' e dois bizantinos - os de Coloneia e da Cáldia[10]. Reunindo suas forças na planície de Nicópolis, ele se juntou às tropas locais que Comneno tinha conseguido alistar, cruzou o rio Sangário e capturou Niceia[11].

O imperador Miguel entregou o comando do exército imperial a Teodoro, um eunuco e burocrata da corte que havia sido alçado à posição de doméstico das escolas do oriente[12]. Com ele marchou também o príncipe búlgaro Aarão, cunhado de Isaac Comneno. Juntos, eles destruíram as pontes sobre o Sangário na esperança de cortar todas as linhas de comunicação entre o exército rebelde e as províncias nas quais as famílias de seus líderes tinham grande influência[11]. A partir daí, o exército imperial foi pra Niceia.

Isaac Comneno estava a mais ou menos dois quilômetros ao norte da cidade e logo os dois exércitos entraram em contato um com o outro. Após algumas fracassadas tentativas de convencer o exército adversário a desertar, Comneno ordenou que todas as comunicações se encerrassem. Teodoro, acreditando que isso era uma demonstração de fraqueza, avançou para Petroe, a 2,5 quilômetros do campo de Comneno[11].

A batalha

Histameno escifato de Isaac Comneno.

Em 20 de agosto de 1057, Isaac preparou suas tropas para o combate numa planície chamada, de acordo com Miguel Ataliates, Polemon ou Haidos[13]. Cecaumeno foi encarregado da esquerda, Romano Sclero, da direita, e o próprio Comneno se posicionou no centro. Do lado imperial, o príncipe búlgaro comandava a esquerda, Basílio Tarcaniota, a direita, e o eunuco Teodoro ficou no centro. A batalha em si teve resultados bastante diferentes nos lados direito e esquerdo. A esquerda imperial, sob Aarão, destruiu completamente a direita rebelde, perseguindo suas tropas até o acampamento e capturando Romano Sclero[14]. À beira da vitória, Aarão hesitou sem saber o que fazer enquanto que Comneno, quase fugindo para Niceia, conseguiu recuperar a iniciativa e percebeu o que acontecia à sua esquerda.

Ali, Cecaumeno havia conseguido destruir a direita imperial, alcançando o seu acampamento, onde destruiu as tendas e assassinou os generais Maurocatacalo e Catzamuntes. Essa vitória encorajou as tropas rebeldes e acentuou a dúvida que já existia na cabeça do príncipe Aarão e seus homens[15]. Isaac Comneno conseguiu manter o centro por tempo suficiente para que Cecaumeno se juntasse a ele e ambos passaram a pressionar Teodoro. Neste ponto a batalha era mais aguerrida e Comneno escapou por pouco de ser morto num ataque coordenado de quatro rus'[16]. Eventualmente, porém, o centro imperial começou a ceder e seus soldados iniciaram uma fuga. Um importante comandante das forças imperiais, Radulfo, o Franco, foi surpreendido durante a debandada por Nicéforo Botaniates liderando uma divisão no ataque. Dando um grito de guerra, ele se virou para atacá-lo. Em combate individual com Nicéforo, sua espada se quebrou e ele terminou capturado[17]. Teodoro e o príncipe Aarão fugiram pra Constantinopla enquanto Isaac avançava com seu exército para Nicomédia[18].

Consequências

Em Nicomédia, Comneno recebeu enviados do imperador - inclusive Miguel Pselo - que ofereceram-lhe o título de césar se ele encerrasse a revolta[19]. Mesmo tendo recusado as propostas publicamente, Isaac se mostrou muito mais receptivo privativamente[20] e ele acabou conseguindo o status de coimperador. Porém, no decurso destas negociações secretas, uma revolta popular em favor de Isaac irrompeu na capital[21], que terminou quando o patriarca Miguel Cerulário convenceu Miguel VI a abdicar em favor de Isaac em 31 de agosto de 1057.

Referências

  1. Vogt (1923), pp. 117–118
  2. Finlay (1853), p. 454
  3. Finlay, pg. 532
  4. Kazhdan, pg. 329
  5. Finlay, pg. 533
  6. Finlay, pg. 534
  7. Kazhdan, pg. 1366
  8. Escilitzes 489.71-78
  9. Ataliates: História 54.13-17
  10. Escilitzes 491.26-30
  11. a b c Finlay, pg. 535
  12. Pselo: Cronografia 14.9
  13. Ataliates: História 55.6
  14. Zonaras 18.2.21
  15. Escilitzes 495.47-52
  16. Pselo: Cronografia VII 13.1-13
  17. Escilitzes 495.59-496.67
  18. Escilitzes 496.71-72
  19. Finlay, pg. 536
  20. Pselo: Cronografia VII 34.9-12
  21. Pselo: Cronografia VII 35.1-7

Bibliografia

Fontes primárias

Fontes secundárias

  • Kazhdan, Alexander, ed. (1991), Oxford Dictionary of Byzantium, ISBN 978-0-19-504652-6 (em inglês), Oxford University Press 
  • Vogt, Albert (1923), «The Macedonian Dynasty from 976 to 1057 A.D.», The Cambridge Medieval History, Vol. IV: The Eastern Roman Empire (717–1453) (em inglês), Cambridge University Press, pp. 83–118 
  • George Finlay, History of the Byzantine Empire from 716 – 1057, William Blackwood & Sons, Edimburgo 1853 (em inglês)