Batalhão de Viaturas Anfíbias
O Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf) é uma unidade do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil responsável pelo transporte de forças de desembarque dos navios até a praia. Ele atualmente opera 49 Carros sobre Lagarta Anfíbios (CLAnf), designação local do Amphibious Assault Vehicle americano, a maior frota desse blindado de transporte de pessoal no Hemisfério Sul. Sua sede é desde 1985 a Ilha das Flores, no estado do Rio de Janeiro, subordinando-se ao Comando da Tropa de Reforço. Além de sua função nas operações anfíbias, os CLAnf do batalhão já foram usados nas operações de garantia da lei e da ordem no Rio de Janeiro. Sede e denominaçãoO batalhão tem suas origens na Companhia de Transporte Motorizado, criada em Duque de Caxias em 1961. Pertencia, à época, ao Núcleo da 1.ª Divisão de Fuzileiros Navais.[3] Em meados da década, a Companhia foi transferida à Ilha do Governador e expandida a Batalhão de Transporte Motorizado, subordinado ao Comando da Tropa de Reforço. Este, por sua vez, responde à Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE). Em meados dos anos 1970 o Batalhão retornou a Duque de Caxias.[4] Em 1985 ele foi transferido à Ilha das Flores, sua sede atual, e recebeu sua denominação atual de Batalhão de Viaturas Anfíbias.[3] VeículosDUKW e CamAnfPara transportar os fuzileiros em operações de desembarque, em 1970 a Marinha adquiriu 34 caminhões GMC DUKW. De origem americana dos anos 1940, aquelas unidades haviam servido às Forças Armadas Francesas.[5] Em 1973 havia uma Companhia de Viaturas Anfíbias com dois pelotões equipados com esses veículos.[4] A firma nacional Biselli Viaturas e Equipamentos Ltda. foi encarregada em 1978 de projetar um substituto similar ao DUKW, o Caminhão Anfíbio ou CamAnf. Planejava-se 25 unidades, mas só cinco chegaram a ser montadas e incorporadas. Os DUKW foram aposentados nos anos 1980.[5] EE-11 UrutuInvestindo na motomecanização do CFN, em 1972 a Marinha adquiriu cinco blindados de transporte de pessoal sobre rodas EE-11 Urutu, os primeiros veículos blindados operados pelo CFN.[6] Estes eram protótipos de uma versão marítima do blindado que a fabricante Engesa também oferecia ao Exército Brasileiro. Em 20 de junho de 1973 realizaram-se os primeiros testes. O veículo logo se mostrou lento e difícil de governar no mar, e consequentemente teve carreira curta. Organizados no 3.º Pelotão de Viaturas Anfíbias, os cinco Urutus já haviam sido desativados quando o CLAnf foi recebido na década seguinte.[4] M-113A experiência com o Urutu convenceu o CFN a adquirir blindados sobre lagartas,[6] e em 1974 o Batalhão de Manutenção e Abastecimento recebeu 30 unidades da família M-113: 24 transportes M-113A1 TP, dois porta-morteiros M-125 A1, dois veículos de comando M-577 A1, um veículo de socorro XM-806E1 e um veículo oficina M-113 A1G. Eles foram então transferidos ao Batalhão de Transporte Motorizado,[7] onde foram incorporados à Companhia de Viaturas Anfíbias.[8] Mas o M-113 não é um veículo anfíbio, embora possa atravessar pequenos cursos d'água.[9] A Companhia foi renomeada para Companhia de Viaturas Blindadas em 1977, permanecendo com o batalhão até 2003, quando foi transferida ao recém-criado Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais.[8] CLAnfOs estudos do CFN para um novo veículo de operações anfíbias conduziram ao LVTP-7 (Landing Vehicle, Tracked, Personnel) ou Amphibious Assault Vehicle (AAV). Ele já era conhecido de exercícios conjuntos com o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (United States Marine Corps, USMC) e havia sido provado na Guerra das Malvinas. O primeiro lote desembarcou no Rio de Janeiro em julho de 1986: doze unidades (dez de transporte de tropas, uma de comando e uma de oficina) do AAV-7A1 revisadas pouco antes na reserva do USMC. Em serviço brasileiro o AAV foi denominado CLAnf (Carro sobre Lagarta Anfíbio) e organizado numa Companhia de Carros Lagarta Anfíbios (CiaCLAnf) dentro do Batalhão de Viaturas Anfíbias.[10][11] Uma segunda geração do CLAnf desembarcou em junho de 1997: dez viaturas de transporte AAVP-7A1, uma de comando AAVC-7A1 e uma de socorro AAVR-7A1, localmente designadas CLAnf-P, CLAnf-C e CLAnf-S. O novo lote possuía uma torre automatizada com metralhadora pesada M-2HB, de calibre .50, e lançador de granadas Mk 19, de calibre 20 mm. O primeiro lote recebeu diversas modificações, entre elas a estação de armas da versão mais recente. O CLAnf-P tem capacidade máxima de 25 militares, incluindo os três tripulantes, ou até 4 536 kg de carga. O CLAnf-S tem fontes elétricas e hidráulicas de energia, compressor de ar, fonte de energia para solda, guindaste hidráulico e guinchos de reboque e de carga.[11][10] Mais um lote foi recebido em 2017–2018, compreendendo 20 CLAnf-Ps, dois CLAnf-Cs e um CLAnf-S. Esta terceira geração é do padrão RAM/RS (Reliability, Availability, Maintainability/Rebuild-to-Standard), com motor e transmissão novos e suspensão atualizada, com melhor mobilidade e velocidade. As três aquisições somam um acervo de 49 CLAnf em serviço brasileiro, a maior frota do Hemisfério Sul.[12][13] Aquisição futuraEstudos para um sucessor ao CLAnf estavam em curso em 2023. O objetivo era um veículo 8×8 sobre rodas, possivelmente o Amphibious Combat Vehicle [en] da BAE Systems.[14] MissõesA principal função dos CLAnf do CFN é transportar os elementos de assalto de uma força de desembarque de seus navios até a cabeça de praia durante um assalto anfíbio.[11] No mar, as viaturas anfíbias são transportadas por um navio com um convés inferior que possa ser alagado, ou convés doca. A entrada e saída se dá por uma porta rebatível na popa. Desta forma, o navio pode lançar as tropas a uma distância segura da praia. A Marinha do Brasil já operou dois Navios de Desembarque e Doca (NDD), o Ceará (G-30) e Rio de Janeiro (G-31), ambos desativados, e um Navio Doca Multipropósito (NDM), o Bahia (G-40).[15] O Bahia pode transportar até 34 CLAnf.[16] Em comum com outros blindados de transporte de pessoal do CFN (os M-113 e Piranha), em terra os CLAnf transportam pessoal e carga, apoiam uma tropa com seu poder de fogo, mobilidade e proteção blindada, ampliam capacidades de comando, controle e comunicações e transpõem cursos d'água.[11] Ao início dos anos 2010, os CLAnf dos fuzileiros navais foram mobilizados nas operações de garantia da lei e da ordem (GLO) no Rio de Janeiro.[10] Intervenções contra o crime organizado nas favelas do Rio de Janeiro contaram com os blindados em casos como a Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão, em 2010, a Rocinha, em 2011,[17][18] Manguinhos e Jacarezinho, em 2012,[19] e o Caju e Barreira do Vasco, em 2013.[20] Os blindados transportaram policiais,[17] removeram barricadas — as barreiras de concreto e trilhos de trem fincados nas vielas, que os "caveirões" sobre rodas da polícia tinham dificuldades em ultrapassar[19] — ocuparam acessos e auxiliaram no controle do tráfego, entre outras funções,[18] mas tinham ordens para não abrir fogo com suas armas.[21] Seu grande porte foi usado para efeito psicológico.[17] Referências
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