Garça-de-bico-largo[3] ou arapapá[4] (Cochlearius cochlearius) é uma ave pelecaniforme, paludícola, da família dos ardeídeos presente em quase toda a chamada América tropical.[5] Tais aves medem cerca de 54 cm de comprimento,[6] com plumagem cinza.[7] Também é conhecido pelos nomes de arataiá, arataiaçu, colhereiro, savacu, socó-de-bico-largo e tamatiá.[8]
Taxonomia
Em 1760, o zoólogo francês Mathurin Jacques Brisson incluiu uma descrição do arapapá em sua publicação Ornithologie, tendo como base um espécime coletado na Guiana Francesa. Brisson referiu-se à espécie com o nome francês La Cuillière e o latino Cochlearius.[9] O zoólogo colocou a espécie em um novo gênero Cochlearius (com o mesmo nome da espécie).[10] Quando em 1766 o naturalista sueco Lineu atualizou sua publicação Systema Naturae, em sua décima segunda edição, adicionou 240 espécies que haviam sido previamente descritas por Brisson,[11] uma das quais o arapapá. Lineu incluiu uma breve descrição, cunhando o nome binomialCancroma cochlearia e citou o trabalho de Brisson.[12]
Embora Brisson tenha cunhado nomes latinos, eles não estão em conformidade com o sistema binomial e não são reconhecidos pela Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica (ICZN).[11] No entanto, Brisson também introduziu nomes para gêneros, que são aceitos pelo ICZN.[13][14][15] Atualmente o arapapá é colocado no gênero aferido por Brisson e tem o tautônimo Cochlearius cochlearius.[16] O nome Cochlearius origina-se do latim cocleare, coclearis ou cochlearium, que significa "colher em forma de concha de caracol".[17]
O arapapá pode chegar a medir 54 cm (21 in) de comprimento.[18] Pode viver 20 anos.[19] Os adultos possuem cor cinza claro a branco, com abdomens castanhos e flancos pretos. O bico maciço, largo e em forma de concha, que dá origem ao nome desta espécie, é principalmente preto. Também é adornado com uma crista que acredita-se ser usada na atração de parceiros, pois é maior nos machos. Os sexos são semelhantes na aparência, sendo as principais diferenças que as fêmeas são ligeiramente menores, mais grisalhas e têm cristas mais curtas do que os machos.[18] Os filhotes recém-nascidos têm pele verde-amarela, com as partes superiores cobertas por penas cinzentas. Seu bico superior é preto e eles possuem pernas verde-amarelas. Os jovens são mais escuros do que os adultos e não têm crista.[20]
Distribuição e habitat
A espécie varia do México ao Peru, Brasil e nordeste da Argentina.[21] São aves não migratórias que tendem a viver em lagoas e estuários sazonais, e nidificam em manguezais.[22][23]
Comportamento e ecologia
Reprodução
A espécie se reproduz durante a estação chuvosa e registrou-se que produzem duas ninhadas durante este período, lançando sua primeira ninhada em fevereiro, durante o final da estação seca.[21] Os tamanhos de suas ninhadas variam de dois a quatro ovos, com mais ovos sendo postos durante o primeiro período de nidificação do que no segundo.[24] Geralmente nidificam em colônias, mas foram observados nidificando solitariamente. A perturbação humana pode levar a uma diminuição no sucesso reprodutivo, pois as aves tendem a evitar o contato humano e abandonarão os ninhos se necessário.[24]
Alimentação
O arapapá se alimenta de camarões e pequenos peixes como Dormitator latifrons, uma espécie de góbio dorminhoco.[22][25] Tende a forragear em riachos vegetativos, águas rasas e lagoas. Ao forragear em riachos, usa galhos baixos e raízes de mangue para ficar sobre a água. Em tanques, caminha lentamente na água até 10 cm (4 in) de profundidade ou procura alimentos perto da borda da água.[22] Para capturar suas presas, ataca os peixes ou cava a superfície da água com seu bico, que é moldado exclusivamente para este método de captura.[22] Além disso, foi observado usando duas técnicas de alimentação diferentes: em pé e perseguindo lentamente a presa, ou perturbando a água e perseguindo a presa.[25] Alimenta-se à noite e observaram-se aves deixando o poleiro 30 minutos após o pôr-do-sol para se alimentar. Foi observado que não se alimenta quando uma fonte de luz está presente, como luz do dia, luar ou luz artificial.[22][23] Um estudo levantou a hipótese de que, para procurar comida no escuro e em águas rasas e lamacentas, seu bico é sensível ao toque, o que o ajuda a sentir sua presa.[23]
Conservação
Em 2018, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) o classificou como uma "espécie pouco preocupante". A IUCN observou que se trata de espécie com abrangência extremamente grande, assim, ainda que aparentemente sua população esteja diminuindo, acredita-se que tal declínio não é rápido o suficiente para enquadrar a espécie como mais vulnerável. A classificação de "espécie pouco preocupante" foi aferida em todas as listas anteriores publicadas desde 2004.[1]
Referências
↑ ab«Boat-billed Heron». IUCN Red List of Threatened Species. 6 de agosto de 2018. Consultado em 16 de julho de 2021
↑«Storks, ibis & herons». IOC World Bird List v 6.4 (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2016
↑«Ardeidae». Aves do Mundo. 26 de dezembro de 2021. Consultado em 5 de abril de 2024
↑Brisson, Mathurin Jacques (1760). Ornithologie, ou, Méthode Contenant la Division des Oiseaux en Ordres, Sections, Genres, Especes & leurs Variétés (em francês e latim). Paris: Jean-Baptiste Bauche. Vol. 1, p. 48, Vol. 5, p. 506
↑ abGill, Frank; Donsker, David, eds. (2019). «Storks, ibis, herons». World Bird List Version 9.1. International Ornithologists' Union. Consultado em 9 de abril de 2019
↑Jobling, J.A. (2019). del Hoyo, J.; Elliott, A.; Sargatal, J.; Christie, D.A.; de Juana, E., eds. «Key to Scientific Names in Ornithology». Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions. Consultado em 10 de abril de 2019
↑ abRand, A. L. (abril de 1966). «A Display of the Boat-Billed Heron, Cochlearius cochlearius». The Auk. 83 (2): 304–306. JSTOR4083025. doi:10.2307/4083025
↑«ARAPAPÁ». Parque das Aves. 2021. Consultado em 16 de julho de 2021
↑Haverschmidt, F. (janeiro de 1969). «Notes on the Boat-Billed Heron in Surinam». The Auk. 86 (1): 130–131. JSTOR4083548. doi:10.2307/4083548
↑ abGomez, Jaime; Gil-Delgado, Jose A.; Monros, Juan S. (agosto de 2001). «Double-Brooding in the Boat-Billed Heron». Waterbirds: The International Journal of Waterbird Biology. 24 (2). 282 páginas. JSTOR1522043. doi:10.2307/1522043
↑ abcdeKushlan, James A. (setembro de 2009). «Feeding Repertoire of the Boat-Billed Heron (Cochlearius cochlearius)». Waterbirds. 32 (3): 408–414. doi:10.1675/063.032.0305
↑ abcMock, Douglas W. (1975). «Feeding Methods of the Boat-Billed Heron, a Deductive Hypothesis». Auk. 92 (3): 590–592
↑ abBiderman, John O.; Dickerman, Robert W. (março de 1978). «Feeding Behavior and Food Habits of the Boat-billed Heron (Cochlearius cochlearius)». Biotropica. 10 (1). 33 páginas. JSTOR2388102. doi:10.2307/2388102
Bibliografia
Hilty, Steven L (2003). Birds of Venezuela. London: Christopher Helm. ISBN978-0-7136-6418-8
Ffrench, Richard (1991). A Guide to the Birds of Trinidad and Tobago 2nd ed. [S.l.]: Comstock Publishing. ISBN978-0-8014-9792-6
A Guide to the Birds of Costa Rica by Stiles and Skutch ISBN0-8014-9600-4