ActanteActante é um termo frequentemente utilizado na Semiótica e que se desenvolve no Círculo Linguístico de Praga. Originalmente foi utilizado pelo linguista francês Lucien Tesnière (1893-1954) para denotar as principais funções sintáticas (sujeito, objeto direto e objeto indireto) que dependem do verbo na sintaxe. Posteriormente o linguista lituano Algirdas Julien Greimas (1917-1992) o utilizará para determinar os participantes ativos (pessoas, animais ou coisas) em qualquer forma narrativa, seja um texto, uma imagem, um som (Greimas, A. J. y Courtes, J., 1990). Actante. In: Semiótica. Diccionario Razonado de la Teoria del Lenguaje. Madrid: Gredos, pg.23-24).
David Herman et alii (2007), na Enciclopédia da Teoria Narrativa, no verbete situações dramáticas, afirmam que as fontes utilizadas por Greimas para definir o conceito de actante foram, em primeiro lugar, os trabalhos de Vladimir Propp sobre os contos tradicionais russos de 1928 (Forense, 2006). Propp utilizara o termo funções e a análise das situações dramáticas no teatro propostas por E. Souriou em 1950 (Ática, 1993). Actante, Ator e Personagem na SemióticaPara a Semiótica, todo texto (visual, sonoro, escrito) é dotado de uma estrutura interna, organizada como uma narrativa. A narrativa não é apenas uma descrição de fatos em uma sequência, mas uma mudança de estado sofrida ou executada por sujeitos ou, em termos semióticos, actantes, aqueles que executam ou sofrem a ação, que estão inscritos no texto, sujeitos das funções da narrativa. Chamam-se actantes às relações gramaticais e/ou funcionais que existem entre os atores (aqueles que atuam ou recebem a ação) em uma determinada narrativa). Segundo ainda a Semiótica, "ator" é um conceito mais amplo que o de "personagem", pode ser figurativo (seres divinos ou humanos, animais, objetos) ou noológico (amor, ódio, virtude etc). De acordo com as funções actanciais que exerce, o ator é investido de um papel temático, isto é, tem uma missão a executar. Exemplos: o herói, o defensor dos valores sociais; o vilão, o rebelde; o conselheiro, aquele que sabe; o pescador, quem conhece os segredos do mar, o ajudante, um computador, um vírus etc. Esclarecendo o assunto: Greimas e seus influenciadoresGreimas, o grande nome quando se fala em atuantes, construiu seus conceitos a partir do que Vladimir Propp e Étienne Souriau já haviam escrito e estudado a respeito do assunto. A discussão sobre os actantes gira em torno da definição dos personagens/papéis por meio de suas ações. A partir daí podemos enxergar semelhanças entre praticamente todas as narrativas, sejam elas reais ou fictícias. Uma vez definidos por suas ações, o personagem deixa de ser importante, o que importa é sua ação. Wladimir Propp classificou os personagens do conto popular russo nos seguintes sete atuantes (papéis ou personagens fixos): o herói; o antagonista (ou agressor); o doador; o auxiliar, a princesa (ou seu pai), o mandante e o falso herói (Morfologia do Conto Maravilhoso [1928]). E. Souriau foi mais enigmático quando nomeou os seis atuantes (funções dramáticas) no teatro seguindo os elementos da astrologia: Leão - força temática orientada; Sol - representante do bem desejado; Terra - para quem o leão trabalha; Marte - o oponente; Balança - o árbitro que atribui o bem; Lua - o auxílio (in Duzentas Mil Situações Dramáticas [1950].[1] Estas funções podem ser combinadas na mesma personagem. Um modelo mais amploA partir destas definições, Greimas chega à conclusão de que há um número restrito de atuantes ou actantes. Toda narrativa terá, independentemente de quais sejam seus personagens, o mesmo grupo de actantes. Ele acredita que nos dois modelos (de Propp e Sourriau) é possível visualizar a relação entre “sujeito” (aquele que pratica a ação) e “objeto” (aquele que sofre a ação), relação que é norteada pelo “desejo” e pela “procura”. Além de sujeito versus objeto, Greimas também observou a relação do destinador (aquele que anuncia, proporciona a ação) versus o destinatário (aquele a quem a ação será dirigida) e a do adjuvante (o que facilita a ação) versus o oponente (o que a dificulta). Este modelo é considerado mais abrangente, uma vez que pode ser aplicado em qualquer narrativa e não apenas ao conto popular russo ou ao teatro.[1] Para um melhor entendimento, é preciso tratar de alguns exemplos: Actantes no Conto Literário“CONTO NATAL NA BARCA” de Lygia Fagundes Telles Neste conto, publicado em "Antes do Baile Verde", podemos definir as personagens da seguinte forma: DESTINADOR: Narradora OBJETO: Fé e Esperança DESTINATÁRIO: Narradora ADJUVANTE: Mulher SUJEITO: Narradora OPONENTE: Criança e bêbado Na literatura, a aplicação da análise estrutural desenvolvida por Greimas e Propp trouxe contribuições significativas para esta linha de pesquisa, visto que eles buscaram verificar elementos comuns entre as narrativas e a partir disso formular suas teorias. Ao adotar a teoria de análise proposta por Greimas, verificou-se que a estrutura proposta por ele no que diz respeito aos actantes da narrativa aplicou-se perfeitamente no conto selecionado. De fato, acredita-se que a pesquisa sobre análise estrutural das narrativas provoca mudanças significativas na forma como as pessoas compreendem a formação destes textos. Uma vez que ao estudá-la tem-se o conhecimento não só do superficial, mas uma visão mais ampla de sua estrutura, entendendo, pois, o porquê de cada personagem desempenhar um papel e não outro dentro do enredo. Actantes no CinemaAs Crônicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa No filme “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa” podemos definir os personagens da seguinte forma: Sujeito- Os quatro irmãos: Lúcia, Susana, Pedro e Edmundo. Objeto- A paz em Nárnia (ligada ao fim do inverno) Destinador- Aslan, o leão. Destinatário: Nárnia Adjuvante: esquilos, fauno, árvores Oponente: A Feiticeira Branca. Quem quer ser um milionário Em “Quem quer ser um milionário” (Slumdog millionaire) a localização dos atuantes não é tão simples. Podemos identificar facilmente Jamal como Sujeito e o prêmio em dinheiro como o Objeto. No entanto, não se pode esquecer que a história de amor entre Jamal e Latika chega a ser mais importante que o programa “Who wants to be a millionaire”, do qual Jamal participa apenas pela chance de que Latika o veja. Em uma história banal de amor, Greimas diz que o homem cumpre o papel de Sujeito + Destinatário (o que pratica a ação e quem se beneficiará através dela) e a mulher cumpre o de Objeto + Destinador (o que sofre a ação e ao mesmo tempo a motivação para que o sujeito busque o objeto). Ao aplicarmos isto na história de Jamal e Latika, porém, temos que nos lembrar que o grande destinador sugerido pelo filme inteiro é o próprio destino, ela é quem dá condições para que tudo aconteça. Sendo assim ficaremos com a seguinte classificação.[1][2] Sujeito/Destinatário- Jamal Objeto - Latika Destinador- O próprio destino (“estava escrito”) E incluindo agora os outros atuantes:
Oponente- Salim, que, exceto no final da história, impede o romance dos dois. Quadro de Agentes da Narrativa segundo Propp, Étienne Souriau, Greimas
Ver tambémReferências
Outros livros
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