Abel Manta
Abel Abrantes Manta (Gouveia, 12 de outubro de 1888 — Lisboa, 9 de agosto de 1982) foi um pintor e professor português. É uma figura maior da primeira geração de pintores modernistas portugueses.[1] Com formação em Lisboa (1908-15) e Paris (1919-25) e autor de uma obra centrada em categorias diversas (retrato, paisagem, natureza-morta), Abel Manta destaca-se em particular, no panorama português, como "o maior retratista do seu tempo".[1] BiografiaAbel Manta nasceu em Gouveia em 1888. Fixou residência em Lisboa em 1904[2]. Em 1908 matriculou-se na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde foi aluno de Carlos Reis e Ernesto Condeixa, terminando o curso em 1915.[3] Em 1919 parte para Paris, onde irá contactar com Francisco Franco, Dordio Gomes, Cristino da Silva e João da Silva, com quem partilhou o ateliê. Frequentou o curso de gravura na casa Schulemberger; participou no Salon La Nationale, Paris, em 1921, 1922 e 1923. Regressou a Lisboa em 1925 e nesse mesmo ano expõe individualmente no Salão Bobone, Lisboa.[3] Em 1926 foi docente da cadeira de Artes Decorativas no Ensino Técnico, no Funchal; no ano seguinte casou-se com Clementina Carneiro de Moura e em 1928 nasceu o seu único filho, João Abel Manta. Em 1934 foi "injustamente vencido"[1] no concurso para professor da Escola de Belas Artes, ensinando a partir desse ano e até à aposentação, em 1958, na Escola de Artes Decorativas António Arroio.[4] Em 1920 recebe o 3º Prémio de Pintura na SNBA. Dez anos mais tarde participa no I Salão dos Independentes, Lisboa; a partir dessa data marca presença em inúmeras exposições coletivas, recebendo diversos prémios, nomeadamente os seguintes: Prémio Silva Porto, S.N.I., 1942; 1º Prémio de Pintura, I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1957. Em 1965 realizou uma exposição retrospetiva na SNBA, Lisboa, em paralelo com Dordio Gomes.[5] Embora discreto na forma como projetou no exterior a sua obra, Manta pertenceu por inteiro à intelectualidade do seu tempo. Privou com figuras de grande relevo, participou regularmente em tertúlias como a do café A Brasileira, Chiado. Em 1979, foi condecorado com a Comenda da Ordem de Santiago e Espada pelo Presidente da República Portuguesa, António Ramalho Eanes. Na sua terra natal, Gouveia, foi inaugurado em Fevereiro de 1985 o Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, num edifício setecentista, o antigo Solar dos Condes de Vinhó e Almedina, patrocinadores dos estudos artísticos de Abel Manta. O acervo inclui um núcleo de obras de Abel Manta e de outros artistas de relevo, entre os quais Vieira da Silva, Joaquim Rodrigo, Júlio Resende, Júlio Pomar, Menez e Paula Rego.[6] Existe colaboração da sua autoria no semanário Mundo Literário [7] (1946-1948). A Rua Abel Manta, em Benfica, Lisboa, recebeu o seu nome. ObraPara Abel Manta, como para a maioria dos pintores modernistas portugueses, a estadia em Paris foi determinante. Nas palavras de Adriano de Gusmão, "Um exigente sopro de renovação agita e encrespa a pintura de Abel Manta após a sua frutuosa experiência de Paris".[8] A "descoberta do impressionismo e de Cézanne"[1] forneceu-lhe os instrumentos para a definição do quadro de referências da sua produção futura. "Abel Manta passou a ser um pintor que assume uma dupla formação: a do naturalismo dos seus mestres na Escola de Belas Artes de Lisboa, com especial relevo para Carlos Reis, na procura da luz e de um registo mais imediato, bem como o rigor, a necessidade de construção que o «cilindro, a esfera e o cone» cézanneanos lhe incutiram".[9] "À margem de qualquer vanguardismo, detestando o academismo, sincero para consigo próprio e para com a sua visão das coisas"[1] , conseguiu compatibilizar essas referências de modo pessoal. Embora a fase inicial se caracterize por uma estruturação das formas e do espaço pictórico mais cézanneana, mais geometrizada, não parece possível isolar no interior da sua obra períodos estanques, claramente demarcados. Centrando-se sobretudo na observação direta do real ("Abel Manta está vinculado – pois claro! – ao real. O «motivo» é o seu terreno"[10]), o seu projeto artístico caracteriza-se por uma grande coerência e continuidade. Abel Manta elegeu três domínios temáticos principais: natureza-morta, paisagem e retrato. "Entre a natureza-morta cezanniana e a paisagem urbana impressionista se define a sua obra que, na maturidade sobretudo, se enriqueceu com notáveis retratos".[1] Ao logo dos anos pintou retratos de gente notável, como Bento de Jesus Caraça e Manuel Mendes, familiares, amigos, vizinhos, afirmando-se "como o maior retratista do seu tempo, capaz de integrar a expressão psicológica num sistema pictural coerente, com simultâneo entendimento plástico do retratado e compreensão do seu significado humano e social"[1]. Para compreender a dimensão dessa faceta da sua obra vale a pena demorarmo-nos nos autorretratos, "onde nos surge maciço, franco e reservado […], algo interrogativo no olhar"; ou confrontar uma pintura "com aura" como o retrato do violinista René Bohet, 1930, com a sua cara na sombra e o seu "corpo quase desconjuntado, num espaço triangular, […] que tanto figura a música e o seu ritmo, como o músico"[9] Na sua obra pode destacar-se Jogo de Damas, 1927, pertencente à coleção do Museu do Chiado, onde evoca Clementina Carneiro de Moura a jogar com o irmão. De herança cézanneana ("Uma vez mais é em Cézanne e na memória dos jogadores de cartas que esta pintura encontra a sua ascendência"[11]), esta será, segundo José Augusto França, "a obra mais significativa das suas possibilidades «modernas»", garantindo-lhe "uma posição importante entre os pintores da sua geração"[1]. "Atento à atmosfera da cidade tanto quanto à sua estrutura", as suas paisagens urbanas oferecem-nos "imagens fiéis mas inesperadas pela escolha do motivo ou do ângulo da sua tomada"[1] Manta pintou a cidade do Funchal, Gouveia ou Lisboa; "sobretudo Lisboa, onde sabia renovar e reinventar, repetindo e inovando um espaço, sempre o mesmo e sempre diferente, como o largo de Camões, lugar comum maior na sua pintura"[9]. Através do exemplo desta série é possível confirmar a regularidade da sua obra, ver como o mesmo tema lhe serviu para gerar, ao longo dos anos, pinturas tão similarmente líricas e preocupadas com "o espaço total da composição"[1] (pinturas a que, segundo José Luís Porfírio, a palavra "impressionismo, embora imprópria", foi recorrentemente associada [9]). Coleções / ExposiçõesAbel Manta está representado em inúmeras coleções e museus, entre os quais: Museu do Chiado, Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta, Gouveia. Exposições individuais[12]
Algumas exposições coletivas / Prémios
Referências
Ligações externas
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