A Verdade (revista) Nota: Este artigo é sobre um periódico trotskysta. Para outros significados, veja Verdade (desambiguação).
A Verdade (em francês: La Vérité) é a primeira publicação trotskista de todos os tempos, tendo seu primeiro número publicado em 15 de agosto de 1929 em francês.[1] Seu nome faz referência ao Pravda, que significa "Verdade" em russo, e foi escolhido porque os trotskistas acreditavam que o movimento operário francês precisava de uma "terapia de Verdade".[2] Inicialmente agitada por Trotsky, passou por várias fases em seus 95 anos de existência. Criada para lutar contra a burocratização do Partido Comunista Francês (PCF), tornou-se referência para o movimento operário desse país, sendo sempre publicada por organizações ligadas ao trotskismo. Durante a ocupação da França pela Alemanha Nazista, foi publicada clandestinamente, tornando-se a primeira publicação da Resistência Francesa,[3] e levando a cabo campanhas emblemáticas, como a luta contra as deportações do Serviço de trabalho obrigatório[4] e o antissemitismo.[5] No início da década de 1970 passou a ser publicada em outras línguas, como português, inglês e espanhol e, em 1990 se tornou a Revista Teórica da Quarta Internacional.[6] HistóriaDa Oposição Comunista à Secção Francesa da Internacional Operária (1929-1936)A primeira versão, em formato de semanário, foi agitada por Leon Trotsky após o fracasso das discussões que ele havia iniciado com um grupo de oposição à direção do Partido Comunista Francês, que distribuía o jornal Contre le Courant (Contra a Corrente).[7][8] Trotsky fez contato com Alfred Rosmer, Raymond Molinier, Pierre Barozine, Jan Van Heijenoort, Pierre Frank, Pierre Naville e Gérard Rosenthal que foram para Büyükada, em Istambul,[9] onde Trotsky estava exilado. A intenção da publicação era reunir os militantes comunistas que lutavam contra a direção burocrática do Partido Comunista Francês (PCF), tanto fora como dentro do partido.[2] Durante a preparação do lançamento de A Verdade, Trotsky enviou uma carta à Direção da publicação afirmando:[6]
Em poucos meses, os militantes que ainda estavam no PCF foram excluídos. A Oposição de Esquerda ficou ainda mais forte quando o grupo em torno da revista La Lutte de classe (A Luta de Classes)[10] se reuniu em janeiro de 1930.[3] A Verdade tornou-se, no final de abril de 1930, o órgão de uma nova organização política distinta do PCF: a Liga Comunista.[11] La Lutte de classe continuou sua publicação, mas tornou-se a revista teórica da Liga Comunista.[10] Em agosto de 1934, os militantes desta organização ingressaram na Secção Francesa da Internacional Operária (SFIO) "com a bandeira desdobrada". A Verdade passa a ser o órgão do grupo Bolchevique-Leninista da SFIO.[12] Durante este período na SFIO, os Bolcheviques-Leninistas (BL) fizeram campanha pela construção da Quarta Internacional.[13] No XXXII congresso do SFIO, em Mulhouse, em junho de 1935, os ativistas do BL tornaram-se uma grande minoria que começa a ter peso nos debates do partido.[14] Durante esse período, o PCF altera sua política em relação ao Partido Radical e não mais impede a aliança com estes e com os socialistas. Com isso, o SFIO vê com embaraço a presença dos trotskistas, já que desejavam dar um voto de "amizade" aos stalinistas, com vistas à criação de um governo de Frente Popular. O grupo Bolchevique-Leninista foi, portanto, expulso em janeiro de 1936, deixando de publicar A Verdade no número 255.[11] PCI e PSOP (1938-1939)Em janeiro de 1938 o Partido Comunista Internacionalista (PCI) passou a publicar uma revista teórica com o nome de A Verdade, reivindicando a continuidade da publicação da Liga Comunista,[11] renumerando-a a partir do número 1, mas com a indicação de "nova série".[15] Em outubro de 1938, os militantes do PCI decidiram ingressar no Partido Socialista Operário e Camponês (PSOP) liderado por Marceau Pivert. Em junho de 1939 o PSOP excluiu os militantes trotskistas do partido[16] e o sexto e último número dessa série saiu em agosto de 1939.[11] Clandestinidade (1940-1946)A partir de 30 de agosto de 1940, os Comitês Franceses pela Quarta Internacional voltaram a editar A Verdade em formato de jornal. Foi a primeira publicação clandestina da imprensa francesa e o primeiro jornal da Resistência Francesa.[3] Marcel Hic foi o responsável pela publicação até sua prisão em outubro de 1943.[17] Os primeiros 19 números foram datilografados e mimeografados e, a partir do número 20, passaram a ser impressos 3 mil exemplares de cada edição (exceto as edições de outubro de 1942 e abril e julho de 1943).[18] Em dezembro de 1942 os Comitês se unem sob o Partido Operário Internacionalista (POI). Este se une ao Comitê Comunista Internacionalista (CCI) e ao Grupo Outubro para formar o Partido Comunista Internacionalista (PCI) em março de 1944. Ambos mantém A Verdade como seu órgão oficial.[17] A linha política do jornal durante esse período se concentra em organizar a luta contra o fascismo, o imperialismo, a guerra, as deportações, o racismo e o antissemitismo. Defendem a fraternidade universal, a revolução mundial e a criação dos Estados Unidos Socialistas da Europa.[19] Campanhas emblemáticasDurante o período da Segunda Guerra Mundial e da ocupação da França pela Alemanha Nazista, duas foram as campanhas mais emblemáticas: Contra as deportações do Serviço de trabalho obrigatórioEntre os que foram obrigados a partir para a Alemanha, organizou a sabotagem da produção de mãos dadas aos trabalhadores alemães que lutavam contra os nazistas.[4] Organizou manifestações e bloqueios de trens que levavam deportados para o serviço de trabalho obrigatório, como em Brest em outubro de 1942[20] ou em Lille.[21] Em meados de 1943, passaram a organizar os mais refratários para que se escondessem.[22] Contra o antissemitismoJá no primeiro número, A Verdade publicou um artigo intitulado Abaixo o antissemitismo.[5] Depois, em outubro de 1941, publicou O antisemitismo, doutrina da barbárie[23] Em novembro de 1941, um artigo denuncia a situação dos judeus no campo de Drancy e termina com este apelo: “Camaradas, devemos em todos os lugares organizar a solidariedade com os judeus presos. Como os militantes operários, eles também são vítimas designadas do fascismo. Camaradas, não podemos deixá-los morrer".[24] Na edição 45, de 20 de maio de 1943, A Verdade é o primeiro jornal da Europa ocupada a denunciar a existência do Campo de Concentração de Auschwitz, graças a uma testemunha direta que fugiu. O artigo descreve as condições de vida, vestuário, higiene...[25] Foi um furo jornalístico tão importante que, pela voz do dirigente stalinista Fernand Grenier, trechos de A Verdade foram lidos na Radio-Londres, embora omitindo que também haviam prisioneiros alemães em Auschwitz.[26] Combate pela legalização (1944-1946)Quando o regime de Vichy caiu, os trotskistas (reunificados em março de 1944 sob o nome de Partido Comunista Internacionalista) publicaram 73 edições e uma dúzia de edições especiais.[18] A Quarta República proclamou a liberdade de imprensa, mas durante dois anos e sob pressão do Partido Comunista, A Verdade não foi legalizada. A princípio, o Ministério da Informação reconhece que o jornal “atende a todas as condições exigidas pela Federação da Imprensa Clandestina".[27] Mas algumas semanas depois, Albert Bayet, diretor da Federação da Imprensa Clandestina, rebatizada em agosto de 1944 como Federação Nacional da Imprensa Francesa (FNPF), pediu à direção do jornal que provasse que a publicação levava "... campanha a favor da França e seus aliados, Inglaterra, URSS, Estados Unidos, República da China, etc". Enquanto isso, L'Humanité lança uma campanha de difamação contra os trotskistas descritos como "agentes da Gestapo".[27] Os trotskistas notam amargamente “que a liberdade de imprensa só é válida para aqueles que juram deixar intacto o mundo capitalista, responsável pelo fascismo e pela guerra".[27] Eles também estão surpresos com a implacabilidade contra seu jornal, quando sua organização, o Partido Comunista Internacionalista, tornou-se legal em 22 de junho de 1945.[11] O problema essencial desta não legalização é que A Verdade não pode utilizar os estoques de papel que permaneceram racionados até 1958.[28] Para contornar essa proibição, registra-se a menção "boletim interno" até o número 110 (meados de fevereiro de 1946).[11] A Verdade só conseguirá ser legalizada em 1946.[11] A cisão de 1952Em julho de 1952, o Partido Comunista Internacionalista sofreu a crise mais grave de sua História, cujas repercussões perdurarão em nível internacional até hoje.[29] Duas tendências se chocam em torno da linha de "entrismo" nos partidos Comunista e Socialista, adotada pelo Comitê Executivo da Quarta Internacional em fevereiro de 1952. A maioria do PCI, em torno de Pierre Lambert, recusou essa decisão e foi expulsa em julho. Esse grupo vai manter a publicação de A Verdade. A minoria do PCI, em torno de Pierre Frank (membro da direção europeia da Quarta Internacional), passará a publicar a revista A Verdade dos Trabalhadores a partir de agosto de 1952.[30] A maioria do PCI, que se tornaria a Organização Comunista Internacionalista, vai continuar a publicação de A Verdade em forma de jornal até novembro de 1958[11] e, a partir daí, retoma o formato de revista mensal.[31] A luta pela reconstrução da InternacionalEm 16 de novembro de 1953 o Comitê Nacional do Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP) dos EUA publica Uma carta aos trotskistas de todo o mundo[32] e organiza a formação do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) juntamente com militantes da Irlanda e Argentina, com o PCI francês e com as seções inteiras da China e Áustria.[33] Em 1966 o CIQI organiza sua terceira Conferência e adotam como resolução a Reconstrução da Quarta Internacional, dividindo entre seus membros uma série de tarefas para alcançar tal feito.[33] Em julho de 1972, a CIQI realizou uma conferência internacional, agrupando, além da Organização Comunista Internacionalista, outras organizações trotskistas do Leste Europeu e da América Latina, notadamente o Política Obrera da Argentina, liderado por Jorge Altamira, o Partido Obrero Revolucionario da Bolívia, liderado por Guilhermo Lora e o Grupo Outubro do Brasil. Essa Conferência fundou o Comitê de Organização pela Reconstrução da Quarta Internacional (CORQUI).[33] Em suas resoluções, o CIQI reconhecia a dispersão organizativa e teórica das seções da Quarta Internacional. O CORQUI foi além dessa constatação, defendendo que o motivo central dessa dispersão era a inexistência de um corpo dirigente internacional para a QI, propondo a construção dessa direção internacional a partir da representação das organizações nacionais cujo acordo comum era o Programa de Transição.[33] Com o objetivo de unificar a formulação teórica em todas as seções, em novembro de 1990, A Verdade se torna a Revista Teórica da Quarta Internacional, renumerando mais uma vez para o número 1 e passando a ser traduzida em várias línguas (incluindo o português e espanhol) e distribuída por várias organizações pelo mundo.[6] 10º Congresso da Quarta InternacionalO 10º Congresso da Quarta Internacional, realizado em Barcelona de 5 a 7 de dezembro de 2023, discutiu centralmente a situação mundial, constatando que o cenário político dos países está convulsionando e que é necessário associar todos os militantes em defesa dos trabalhadores para debater e elaborar. Como resultado desse debate, a revista A Verdade torna-se uma revista de atualidade política e uma tribuna de discussão internacional, aberta não só aos militantes da Quarta Internacional, mas de outras origens e tradições políticas.[34] Linha do tempoA Verdade teve vários subtítulos durante o tempo. A seguir a linha do tempo de cada um deles:[6] Ver também
Referências
Ligações externas
|
Portal di Ensiklopedia Dunia