Quando no início da década de 1990 o compositor Philip Glass foi contactado pelo comissário António Mega Ferreira, membro da Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, o compositor, que tinha acabado de escrever a ópera The Voyage para as comemorações do 500.º aniversário da chegada de Cristóvão Colombo à América, não se mostrou recetivo a retomar para uma nova obra um tema semelhante. Convidado a refletir, aceitou a encomenda com a condição de Robert Wilson fazer parte do projeto. Partiu então para o Brasil, onde compôs a música durante o inverno[15].
Originalmente O Corvo Branco deveria fazer parte de um díptico do qual seria a conclusão. A primeira parte, que nunca foi escrita, deveria chamar-se The Palace Of Arabian Nights (O Palácio das Mil e Uma Noites) e concentrar-se no desenvolvimento e expansão do Islamismo do século IX até à Renascença. «O Corvo Branco cobre o resto da história, do século XV ao século XXI»[16].
A razão para a primeira parte do díptico nunca ter sido escrita prende-se com mal-entendidos entre Glass e Wilson[17].
O título White Raven provém da mitologia grega: Apolo, enamorado pela princesa Corónis (filha de Flégias, rei dos Lápitas), confia a um corvo branco, seu companheiro fiel, a missão de a vigiar. Mas com o decorrer do tempo a ave, que achava a sua missão cada vez mais entediante, decidiu uma noite trair a confiança do seu mestre. Contou-lhe que Corónis o traía com um mortal chamado Ischys. Louco de raiva, Apolo matou a jovem com uma flecha no peito antes de perceber que o corvo lhe tinha mentido. Para o punir, Apolo transformou a plumagem branca e imaculada do corvo na cor preta, mais negra que o carvão. O corvo branco é então um mensageiro e símbolo da inocência perdida[18].
Como nas outras colaborações entre Glass e Wilson (Einstein on the Beach, The CIVIL warS e Monsters of Grace), White Raven não conta realmente uma história. O libretto apresenta uma série de paisagens de personagens e acontecimentos, misturando versos poéticos com tratados científicos, títulos de jornal ou, como no final, uma longa lista de personalidades da história de Portugal[19].
Neste sentido, a ópera não é tanto uma celebração da exploração, mas uma meditação, uma reflexão aberta, sobre o processo e sentido do sentido de descoberta, das expedições dos navegadores portugueses à era da exploração espacial e mesmo à exploração futura do universo[20][21].
Personagens
Papel
Voz
Na estreia mundial[6], Teatro Camões, Lisboa, 26 de setembro de 1998 Maestro: Dennis Russell Davies