O Teatro da Cornucópia foi uma das mais prestigiadas companhias teatrais portuguesas. A sua atividade foi cessada em Dezembro de 2016, por decisão do seu dirigente Luís Miguel Cintra[1].
História
O Teatro da Cornucópia foi fundado em 1973 por Jorge Silva Melo e Luis Miguel Cintra, vindos do teatro universitário, que reuniram em torno do seu projecto de companhia de teatro um pequeno grupo de actores profissionais. Até ao 25 de Abril de 1974 trabalhou sem sede própria e foi apoiado por subsídios esporádicos da Fundação Calouste Gulbenkian. O programa inicial, condicionado pela censura fascista, centrava-se no reportório clássico (Molière e Marivaux). A partir de 1974 centrou-se na dramaturgia contemporânea com a intenção de construir um teatro de reflexão com uma função activa na realidade cultural portuguesa. Num primeiro ciclo temático (pequena burguesia-revolução-dominação ideológica) levou à cena Terror e Miséria no Terceiro Reich de Brecht, Pequenos Burgueses de Gorki, Ah Q de Jean Jourdheuil e Bernard Chartreux, Casimiro e Carolina de Odon Von Horváth, Woyzeck de Büchner, Alta Austria e Música Para Si de Kroetz e O Treino do Campeão Antes da Corrida de Michel Deutsch. Foi nessa fase que a companhia teve a colaboração dramatúrgica de Jean Jourdheuil e que nele ingressou a cenógrafa Cristina Reis que, a partir de 1980, com a saída de Jorge Silva Melo, viria a partilhar a direcção com Luis Miguel Cintra.
Muitas vezes a companhia criou ciclos temáticos como propostas de reflexão. Assim dedicou ao cómico e à comédia um ciclo em que incluiu um espectáculo Karl Valentin, um espectáculo Plauto, Capitão Schelle, Capitão Eçço de Rezvani, O Labirinto de Creta de António José da Silva (o Judeu), Não se Paga, Não se Paga de Dario Fo. A partir de 1983 com o espectáculo Oratória (montagem de textos de Gil Vicente, Goethe e Brecht) a companhia centrou o seu reportório num tema a que chamou “O Mal Estar do Nosso Tempo” onde incluiu Mariana Espera Casamento de Jean Paul Wenzel e Novas Perspectivas de Xaver Kroetz, A Missão de Heiner Müller e O Parque de Botho Strauss. Apesar de menos organizada em ciclos temáticos, é uma tendência eminentemente reflexiva e poética que se foi acentuando na programação posterior a 1985 com espectáculos como Ricardo III de Shakespeare, um ciclo de 3 espectáculos de Strindberg ou a Trilogia da Guerra de Edward Bond. A reflexão sobre diferentes temas acabou por estender-se ao próprio teatro como representação da vida. Assim a companhia dedicou a esse tema um ciclo em que incluiu O Público de Garcia Lorca, Céu de Papel (montagem de textos de Pirandello e Beckett), Salada (uma colagem de números tradicionais de palhaços) e Um Poeta Afinado de Manoel de Figueiredo.
O Teatro da Cornucópia levou à cena alguns dos grandes clássicos de todos os tempos (Gil Vicente, Shakespeare, Wycherley, Tchekov, Strindberg, Beaumarchais, Lenz, Hölderlin, Kleist, Shakspeare), e tabordou textos de muitos géneros mas a sua orientação não era a de uma companhia de reportório. Pretendeu intervir culturalmente na sociedade portuguesa e não abdicar do teatro como terreno privilegiado da criação artística e grande instrumento de pensamento das sociedades. Desde 1990 abordou alguns dos dramaturgos de escrita mais radical do século XX (Beckett, Orton, Botho Strauss, P. Handke, Edward Bond, Genet, Gertrude Stein, Lars Nóren, Brecht, Pasolini, Fassbinder). A propósito da queda do regime comunista nos países de Leste, em 1992 voltou a Heiner Müller de quem fez nova encenação de A Missão e Mauser. Fez a estreia mundial de dois textos: O Colar de Sophia de Mello Breyner Andresen em 2002 e A Cadeira de Edward Bond em 2005. Elaborou vários espectáculos a partir textos não teatrais: de Raul Brandão, a Primavera Negra; de Francisco de Holanda, Diálogos sobre a Pintura na Cidade de Roma; o poema A Margem da Alegria de Ruy Belo. Convidou encenadores estrangeiros: Stephan Stroux, Christine Laurent, Brigitte Jaques, Carlos Aladro, Ana Zamora; produziu e co-produziu espectáculos de jovens encenadores (Miguel Guilherme, José Meireles, António Pires, José Wallenstein, Ricardo Aibéo, Beatriz Batarda) e um espectáculo de novíssimos actores (O Dia de Marte).
A partir de 1974 o Teatro da Cornucópia passou ser regularmente subsidiado pelo Estado e recebeu apoios pontuais da Fundação Caloust Gulbenkian e de várias entidades como o Instituto Alemão, o British Council, a Embaixada de Espanha, a Embaixada da Suécia, a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, o Instituto Camões, o Inatel, a Câmara Municipal de Lisboa, etc.
Em 1975 a companhia mudou-se para o Teatro do Bairro Alto (antigo Centro de Amadores de Ballet), na Rua Tenente Raúl Cascais, em Lisboa, onde permaneceu até 2016. Em 1986/7 o edifício sofreu obras de melhoramento o que o tornou num espaço privilegiado para todo o género de espectáculos. Este local de trabalho permitiu à companhia uma permanente experimentação de espaços cénicos, uma inversão da relação tradicional do palco com a plateia, o que dificultou, por outro lado, a adaptação dos seus cenários a outros palcos. Apesar disso, o Teatro da Cornucópia não deixou de fazer digressões a outras cidades do país e apresentou regularmente os seus espectáculos fora de Lisboa.
Em 1984 participou no XXXII Festival Internacional de Teatro da Bienal de Veneza com A Missão de Heiner Müller.
Em 1991 apresentou no Théâtre Varia de Bruxelas Comédia de Rubena de Gil Vicente integrado na Europália'91 dedicada a Portugal e no mesmo ano apresentou esse espectáculo em Udine (Itália) integrado na organização L'École des Maîtres.
Em 1994 viu dois dos seus espectáculos integrados na programação de Lisboa94, Capital Europeia da Cultura.
Em 1995 apresentou o Triunfo do Inverno de Gil Vicente no Théâtre de la Commune-Pandora, Aubervilliers (Paris).
Em 1998 participou no Festival dos 100 Dias da Expo'98 com um projecto (Teatro do Mundo — Teatro do Eu) que marca os seus 25 anos de actividade e em que volta a três autores do nosso século já abordados em espectáculos anteriores da companhia: Strindgberg (Um Sonho), García Lorca (Quando Passarem Cinco Anos) e Heiner Müller (Máquina Hamlet).
Estabeleceu nos últimos anos co-produções com o Teatro Nacional S. João, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Nacional S. Carlos, Teatro Municipal de Almada e São Luiz Teatro Municipal. Por várias vezes se integrou no Festival de Teatro de Almada.
Para além da apresentação normal dos seus espectáculos, o Teatro da Cornucópia procurou dinamizar o seu espaço com outras actividades. A companhia acolheu nas suas instalações espectáculos de outros grupos e tem realizado inúmeras actividades paralelas (apresentação de livros, conferências, uma semana dedicada à criança, cursos de técnica básica para actores, colóquios, exposições, leituras de textos, etc.). Para cada espectáculo a companhia publicou um volume de Textos de Apoio com uma antologia desenvolvida de textos que completavam a compreensão de cada encenação.
Realizou ainda para a televisão, em co-produção com o Grupo Zero, a filmagem de Música Para Si, Viagem Para a Felicidade e Novas Perspectivas de Kroetz e E Não Se Pode Exterminá-lo? de Karl Valentin com realização de Solveig Nordlund. Fez a produção do espectáculo A Morte do Príncipe com Luis Miguel Cintra e Maria de Medeiros, a partir de textos de Fernando Pessoa, para o Festival de Avignon de 1988 e o Festival de Outono de Paris de 1989. Apresentou no Teatro do Bairro Alto em 1990, em colaboração com a RTP o espectáculo de ópera Façade/O Urso de William Walton, com direcção musical de João Paulo Santos e filmado por Oliveira Costa. No ano 2000 realizou outro espectáculo de ópera em co-produção com a Culturporto/Rivoli Teatro Municipal, o Teatro Nacional S. Carlos e a Orquestra Nacional do Porto, também com direcção musical de João Paulo Santos: The English Cat de Hans Werner Henze/Edward Bond. Com o mesmo maestro levou à cena em 2002 História do Soldado de Stravinsky/Ramuz. Colaborou com o Teatro Nacional de S. Carlos em 2003 na apresentação da oratória cénica de Honnegger-Claudel Jeanne d’Arc au Bûcher.
Em quatro décadas, centrou-se sobretudo na dramaturgia contemporânea "com a intenção de construir um teatro de reflexão com uma função ativa na realidade cultural portuguesa".
Ana Margarida Videira, António Fonseca, Bruno Santos, Duarte Guimarães, Glicínia Quartin, João Candeias, José Airosa, José Manuel Mendes, Luís Assis, Luís Lima Barreto, Luís Lucas, Luis Miguel Cintra, Luísa Cruz, Manuela de Freitas, Márcia Breia, Melanie Mederlind, Nicolau Lima Antunes, Nuno Lopes, Nuno Vieira de Almeida, Pedro Lacerda, Pedro Santos, Ricardo Aibéo, Rita Durão, Rita Loureiro, Rogério Vieira, Ruben Lopes, Sofia Marques, Solange F., Tânia Lima Antunes e Teresa Sobral
CCB, Teatro do Bairro Alto/Teatro da Cornucópia, Teatro Nacional S. João
Imogénia, sua filha de uma anterior rainha, depois disfarçada no pagem Fidélio Rita Durão
Póstumo Leonato, marido dela José Airosa
Cloten, o filho da rainha, de um anterior marido Ricardo Aibéo
Pisânio, o criado de Póstumo Luís Lima Barreto
Cornélio, um médico — incorporando as falas do Primeiro Fidalgo (1.1), Segundo Nobre (1.2; 2.1; 2.3), Mensageiro (2.3; 3.5), um Nobre (4.3; 5.3) e Primeiro Capitão (5.3) e Mensageiro (5.3) Luís Lucas
Helena, uma aia de Imogénia — incorporando as falas das damas de 1.3 , 1.5 e 2.3 Sofia Marques
Primeiro Nobre e Músico cantor Francisco Nascimento
Segundo Fidalgo Nicolau dos Mares
Carcereiro, incorporando fala do Segundo Capitão (5.3) Nicolau dos Mares
Filário, hospedeiro de Póstumo em Roma Luis Miguel Cintra
Giacomo, um fidalgo italiano Rogério Samora
Um Francês Nicolau dos Mares
Um Holandês Nuno Lopes
Um Espanhol Duarte Guimarães
Caio Lúcio, embaixador romano e antigo general do exército romano Diogo Dória
Filarmónio, um adivinho Francisco Nascimento
Um Senador romano Nicolau dos Mares
Um Capitão romano Nicolau dos Mares
Belário, um nobre banido que vive perto do porto de Milford, em Gales, sob o nome de Morgan Luis Miguel Cintra
Guidério, filho de Cimbelino, conhecido como Polidoro, filho de Morgan Nuno Lopes
Arvirago, filho de Cimbelino, conhecido como Cadwal, filho de Morgan Duarte Guimarães
Aparições: Júpiter, rei dos deuses José Manuel Mendes Sicílio Leonato, pai de Póstumo Luís Lima Barreto Sua mulher, Mãe de Póstumo Márcia Breia Dois Irmãos de Póstumo Nuno Lopes e Duarte Guimarães
António Fonseca, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Márcia Breia, João Pedro Vaz, José Gonçalo Pais, José Manuel Mendes, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Rita Durão e Teresa Madruga
Duarte Guimarães, José Manuel Mendes, Luís Lucas, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Márcia Breia, Nuno Casanovas, Nuno Lopes, Rita Durão, Rita Loureiro, Sofia Marques e Vítor de Andrade
SEBASTIÃO, seu irmão Ricardo Aibéo
PRÓSPERO, o legítimo Duque de Milão Luis Miguel Cintra
ANTÓNIO, seu irmão, o Duque usurpador de Milão António Fonseca
FERNANDO, filho do Rei de Nápoles Vítor d’Andrade
GONÇALO, um velho e honrado conselheiro Luís Lima Barreto
ADRIANO, fidalgo Tiago Matias
FRANCISCO,fidalgo Pedro Lamas
CALIBAN, um escravo selvagem e deformado Nuno Lopes
TRÍNCULO, um bobo Duarte Guimarães
ESTÊVÃO, um despenseiro bêbedo João Pedro Vaz
O MESTRE de um navio Paulo Moura Lopes
MIRANDA, filha de Próspero Sofia Marques
ARIEL, um espírito do ar Dinis Gomes
IRIS, espírito Rita Durão
NINFA do Mar, Ariel transformado Rita Durão
HARPIA, Ariel transformado Márcia Breia
ESPÍRITOS Paulo Moura Lopes e Manuel Romano
Cravo Marcos Magalhães ou José Carlos Araújo||Teatro do Bairro Alto/Teatro da Cornucópia
Bruno Nogueira, Carolina Villaverde Rosado, Dinarte Branco, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Gonçalo Waddington, José Manuel Mendes, Luísa Cruz, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Márcia Breia, Maria Rueff, Marina Albuquerque, Nuno Lopes, Ricardo Aibéo, Rita Durão, Rita Loureiro, Sofia Marques e Teresa Madruga
Dinis Gomes, Duarte Guimarães, José Manuel Mendes, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Luísa Cruz, Manuel Romano, Rita Durão, Rui Teigão (estagiário), Sofia Marques, Teresa Madruga, Vítor D’ Andrade. Ana Amaral e Laura Silva(estagiárias da Escola Superior de Teatro e Cinema)