Setenta Discípulos

Iluminura dos Setenta Discípulos

Os setenta discípulos (em grego: ἑβδομήκοντα μαθητές, hebdomikonta mathetes), conhecidos nas tradições cristãs orientais como os setenta apóstolos (em grego: ἑβδομήκοντα απόστολοι, hebdomikonta apostoloi), foram os primeiros emissários de Jesus mencionados no Evangelho segundo Lucas. O número desses discípulos varia entre 70 ou 72 dependendo do manuscrito.

A passagem de Lucas 10 no Evangelho de Lucas, o único evangelho em que são mencionados, inclui instruções específicas para a missão, começando com (na Bíblia Douay-Rheims):[1]

Depois destas coisas, o Senhor designou ainda outros setenta e dois, e os enviou adiante de si, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir.

No cristianismo ocidental, eles são geralmente chamados de discípulos,[2] enquanto no cristianismo oriental são geralmente chamados de apóstolos.[3] Usando as palavras gregas originais, ambos os títulos são descritivos, pois um apóstolo é alguém enviado em uma missão (o grego usa a forma verbal apesteilen), enquanto um discípulo é um estudante, mas as duas tradições diferem no escopo das palavras apóstolo e discípulo.

Texto

A passagem do Evangelho de Lucas, capítulo 10, é:

1. Depois disto o Senhor designou outros setenta, e enviou-os de dois em dois adiante de si a todas as cidades e lugares, aonde ele estava para ir.
2. Disse-lhes: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie trabalhadores para a sua seara.
3. Ide; eu vos envio como cordeiros no meio de lobos.
4. Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho.
5. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz seja nesta casa.
6. Se ali houver algum filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; e se não houver, ela tornará para vós.
7. Permanecei naquela mesma casa, comendo e bebendo o que vos oferecerem; pois digno é o trabalhador do seu salário. Não vos mudeis de casa em casa.
8. Em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei o que vos oferecerem;
9. curai os enfermos que nela houver, e dizei: Está próximo a vós o reino de Deus.
10. Mas na cidade em que entrardes, e não vos receberem, saindo pelas suas ruas, dizei:
11. Até o pó que da vossa cidade se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós; todavia sabei que está próximo o reino de Deus.
12. Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma, do que para aquela cidade.
13. Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito, sentadas em saco e em cinza, elas se teriam arrependido.
14. Contudo haverá menos rigor para Tiro e para Sidom no dia do juízo, do que para vós.
15. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até o céu? descerás até o Hades.
16. Quem vos ouve, a mim me ouve; quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.
17. Voltaram os setenta cheios de alegria, dizendo: Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome.
18. Respondeu-lhes Jesus: Eu via a Satanás cair do céu como relâmpago.
19. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada de modo algum vos fará mal.
20. Mas não vos regozijeis em que os espíritos se vos submetem, antes regozijai-vos em que os vossos nomes estão escritos no céu.

 
São Lucas 10, 1-20.

Análise

Esta é única vez que este grupo é mencionado na Bíblia. O número é "setenta" nos manuscritos com o texto-tipo Alexandrino (como o Codex Sinaiticus) e com o texto-tipo Cesariano, mas "setenta e dois" na maior parte dos outros textos alexandrinos e com o texto-tipo Ocidental. A origem do número pode estar nas setenta nações do Gênesis ou nas muitas outras citações ao número na Bíblia, ou nos setenta e dois tradutores da Septuaginta na Carta de Aristeas[4]. Ao traduzir a Vulgata, São Jerônimo escolheu "setenta e dois".

Contudo, o Evangelho de Lucas não está só entre os evangelhos sinóticos ao conter episódios onde Jesus envia seus seguidores em missões. A primeira ocasião, em Lucas 9:1–6, está intimamente relacionada à "Comissão Menor" do Evangelho de Marcos[nota b], que conta o envio dos doze apóstolos ao invés de setenta, ainda que com muitas similaridades. Os paralelos[nota c] sugerem uma origem comum, possivelmente no proposto Documento Q. Lucas também menciona a "Grande Comissão" para "todas as nações" em Lucas 24:44–49, mas em menos detalhes que o relato de Marcos.

Festas

A festa comemorando os Setenta é conhecida como a "Synaxis dos Setenta Apóstolos" na Igreja Ortodoxa e é celebrada em 4 de janeiro. Cada um dos Setenta tem ainda uma comemoração individual espalhada por todo o ano litúrgico.

Sinaxe dos setenta apóstolos

A tradição da Igreja Ortodoxa ao providenciar o nome dos Setenta cujos "nomes estão escritos no céu"[nota d], está associada com Doroteu de Tiro, um bispo do final do século III d.C., desconhecido exceto por sua contribuição neste contexto e a quem foi atribuído um relato sobre os Setenta, e cuja versão sobrevivente é do século VIII d.C. Os seus nomes aparecem em diversas listas, como na Chronicon Paschale e no tratado de Pseudo-Doroteu, publicado em Migne, P.G., XCII, 521-524; 543-545; 1061-1065.

Já a Igreja Católica considera estas listas, escritas piedosamente, mas tendo "importância secundária" para a fé[5].

Eusébio de Cesareia afirmou categoricamente que no seu tempo não existia uma lista como esta e mencionou entre os discípulos apenas Barnabé, Sóstenes, Cefas, Matias, Tadeu e Tiago, irmão de Jesus[6].

Muitos destes nomes incluídos entre os Setenta são facilmente reconhecidos por suas próprias realizações, mas há ligeiras diferenças entre as várias listas.

Matias, o apóstolo que substituiu Judas Iscariotes como um dos Doze, é também frequentemente listado entre os Setenta, uma vez que João Marcos é geralmente entendido como sendo Marcos, o Evangelista[8].

Manuscritos do Novo Testamento

Ícone dos Setenta Apóstolos.

Estes são os manuscritos do Novo Testamento que listam os Setenta:

Notas

[nota a] ^ Lucas 10:1–24
[nota b] ^ Marcos 6:6–13
[nota c] ^ Veja também Mateus 9:35, Mateus 10:1 e Mateus 10:5–42
[nota d] ^ Lucas 10:20

Referências

  1. Luke 10:1–21
  2. Catholic Encyclopedia: Disciple: "The disciples, in this disciples, in this context, are not the crowds of believers who flocked around Christ, but a smaller body of His followers. They are commonly identified with the seventy-two (seventy, according to the received Greek text, although several Greek manuscripts mention seventy-two, as does the Vulgate) referred to (Luke 10:1) as having been chosen by Jesus. The names of these disciples are given in several lists (Chronicon Paschale, and Pseudo-Dorotheus in Migne, P.G., XCII, 521–24, 543–45, 1061–65); but these lists are unfortunately worthless."
  3. «Synaxis of the Seventy Apostles». oca.org 
  4. METZGER, Bruce. Textual Commentary on the Greek NT (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  5. "Apostle" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  6. «12». História Eclesiástica. The Disciples of our Saviour. (em inglês). I. [S.l.: s.n.]  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  7. «The Book of the Bee, Chapter XLIX, The Names of the Apostles in Order». 1886. Consultado em 21 de fevereiro de 2008 
  8. "St. Matthias" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.

Ligações externas

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