Pedro de Orléans e Bragança
Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança (Petrópolis, 15 de outubro de 1875 – Petrópolis, 29 de janeiro de 1940), foi o filho mais velho da princesa Isabel, Princesa Imperial do Brasil, e do príncipe Gastão de Orléans, Conde d'Eu. Como primogênito da herdeira presuntiva do trono brasileiro, recebeu o título de Príncipe do Grão-Pará, e ocupou o segundo lugar na linha de sucessão ao trono imperial do Brasil, durante o reinado de seu avô, o imperador D. Pedro II, até a abolição da monarquia, com a Proclamação da República. É o patriarca do chamado Ramo de Petrópolis da Casa de Orléans e Bragança. Consta que a dificuldade de Isabel em conseguir engravidar a levou a Caxambu, na província de Minas Gerais, onde submeteu-se a um tratamento com as águas minerais daquela cidade. Em contato com religiosos, a princesa imperial fez a promessa de levantar um santuário no local caso conseguisse conceber um filho. Foi o que aconteceu, e até hoje existe na cidade a Igreja de Santa Isabel da Hungria, erguida por esta razão.[1] Renunciou a quaisquer direitos que possuía sobre o abolido trono brasileiro em 1909, quando se casou morganaticamente com a condessa Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz. É avô de Henri d'Orléans, Conde de Paris (1933-2019), pretendente ao trono de França, e do atual Duque de Bragança e pretendente ao trono português, Duarte Pio de Bragança. Nascimento, infância e educaçãoPedro nascia após treze horas de parto, às 4h50min do dia 15 de outubro de 1875. Embora tenha nascido sufocado, a enfermeira Soyer conseguiu reanima-lo; porém, por conta do parto trabalhoso, sofreu uma lesão no plexo braquial esquerdo, na altura da 7ª e 8ª raízes dos nervos cervicais do pescoço, que resultou na paralisia de uma das mãos e dos dedos (Paralisia de Klumpke).[2] Pedro de Alcântara foi educado por preceptores, chefiados por Benjamim Franklin Ramiz Galvão, e viveu no Paço Isabel (atual Palácio Guanabara), no Rio de Janeiro, junto com seus irmãos mais novos Luís Maria Filipe e Antônio Gastão, até a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, quando tinha catorze anos de idade. Deve-se a ele um dos gestos mais pungentes por ocasião da partida da família imperial brasileira para o exílio, quando sugeriu ao avô Pedro II "a ideia de soltar-se uma pomba branca, em alto mar, a fim de que levasse as últimas saudades da Família Imperial para o Brasil". A pomba foi solta à altura da ilha de Fernando de Noronha, com uma mensagem assinada por todos da família, mas acabou caindo ao mar sem cumprir com seu propósito. Estabeleceu-se no exílio com sua família no Castelo d'Eu, na Normandia, França, tendo estudado no Império Áustro-Húngaro, onde fez seu curso militar e serviu no exército imperial e real daquele país. Tentativas de restauraçãoCom a deposição de Pedro II do Brasil e a partida da família imperial para o exílio, vez por outra surgiam boatos e até iniciativas pela restauração. Em 1893, a república cambaleava com a segunda Revolta da Armada e a Revolução Federalista no sul do país. O líder deste último movimento, Gaspar Silveira Martins, declaradamente monarquista, engajava-se em conspirações para restaurar a monarquia parlamentarista no Brasil. Já insistira em vão para que Pedro II retornasse ao país, após o marechal Deodoro ter fechado o Congresso Nacional. Com o avanço da revolução, propôs à princesa Isabel que permitisse aos militares ligados à Revolta da Armada levarem seu filho mais velho, Pedro, príncipe do Grão-Pará, para ser aclamado Pedro III do Brasil. Ouviu da princesa que "antes de tudo era católica, e, como tal, não poderia deixar aos brasileiros a educação do filho, cuja alma tinha de salvar".[3] Indignado, Silveira Martins respondeu: "Então, senhora, seu (dele) destino é o convento." A casa de Bragança não se dispôs aos riscos de uma aventura sangrenta no sul do Brasil. Se, por um lado, o príncipe imperial teria dado a uma revolução que tinha homens e armas uma alma, por outro lado, poupou-se do triste fim de Custódio de Melo, Gumercindo Saraiva e tantos outros que mediram forças com a república. Renúncia ao tronoEm 1896 Pedro de Alcântara conheceu a jovem condessa Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz e queria se casar, no entanto sua mãe, Isabel, opôs-se à união. Na época, as leis das famílias reinantes eram restritas e formais. O herdeiro de um trono só podia se casar com uma princesa de sangue real. Nessa altura o Conde d'Eu apresentava uma proposta ao Duque de Orléans, que este concedesse aos seus descendentes o direito de sucessão no trono francês em caso de extinção da Casa de França; em troca, um de seus filhos renunciaria aos eventuais direitos ao extinto trono do Brasil, evitando que estrangeiros viessem a ocupar a Chefia da Casa Real francesa. Supunha-se que Luís, segundo filho, apresentaria sua renúncia aos direitos brasileiros, mas como este se negou a fazê-lo, o Conde d'Eu acabou por propô-la ao primogênito em troca da obtenção da licença para casar com a condessa Elisabeth de Dobrzenicz. Tais propostas foram aceitas pelo Duque de Orléans em 24 de abril de 1909, quando a esposa de Luís já se encontrava esperando seu primeiro filho e a renúncia de Pedro de Alcântara já se tinha concretizado. Prova do cumprimento do acordo por parte da família Orléans foi o fato de, em 1931, aceitar o casamento da filha mais velha de Pedro de Alcântara, Isabel de Orléans e Bragança (1911-2003), com o Conde de Paris.[4] A Princesa Isabel pediu ao Imperador Francisco José da Áustria que elevasse a condição nobiliárquica da família de Elisabeth, que foi elevada ao título nobiliárquico de conde em 1906. Até então seus antepassados haviam sido barões. Com a renúncia de Pedro de Alcântara, os estilos e direitos dinásticos ao extinto trono brasileiro passaram a seu irmão Luís Maria Filipe, ao passo que Pedro de Alcântara manteve-se como príncipe de Orléans e Bragança, garantindo assim que tanto ele quanto seus descendentes poderiam casar-se com nobres sem o ser morganaticamente.[5] Pedro de Alcântara e Elisabeth casaram-se em Versalhes, França, no dia 14 de novembro de 1908, Elisabeth era filha de Johann-Wenzel, Conde Dobrzensky von Dobrzenicz, proveniente de uma antiga família nobre da Boêmia (àquela época a Boêmia encontrava-se sob a soberania do Império Áustro-Húngaro),[6] e de Isabel, Baronesa Kottulin und Krzischkowitz e Condessa Kottulinsky.[7] Instrumento de renúnciaUm instrumento de renúncia foi emitido em três vias, todos assinados por Pedro de Alcântara diante de sua mãe, chefe da Casa imperial do Brasil, a qual enviou uma das vias ao Diretório Monárquico do Brasil, então localizado no Rio de Janeiro, aos 9 de novembro de 1908. Repercussão da renúncia: a sucessão dinásticaA partir de então, Pedro de Alcântara perdeu automaticamente quaisquer direitos sobre os extintos títulos da Casa Imperial, passando seus direitos de sucessão ao irmão mais novo Luís Maria Filipe, que à altura reclamava para si apenas o título de príncipe do Brasil – um título dedicado apenas aos monarquistas brasileiros, então os descendentes que pertenceram família imperial sem terem uma posição privilegiada em uma eventual restauração da monarquia . O filho de Luís Maria Filipe, Pedro Henrique, nascido um ano antes, passou a pretender ao extinto título de príncipe do Grão-Pará – título que vale simbolicamente entre monarquistas , o primogênito passa a se chamar príncipe imperial do Brasil Ocorre que Luís Maria Filipe, então príncipe imperial, morreu dez anos depois, em 1920, e D. Isabel, então chefe da casa imperial, morreu no ano seguinte, em 1921, legando ao jovem Pedro Henrique, então com apenas doze anos de idade, a chefia da casa. Ressalta-se o fato de que outra importante figura que poderia dar-lhe apoio, seu tio Antônio Gastão, faleceu em 1918. A jovialidade de Pedro Henrique e a falência de dois dos principais membros da casa imperial criaram a oportunidade para algumas pessoas questionarem a validade do documento de renúncia de Pedro de Alcântara. O próprio Pedro de Alcântara chegou a considerar a possível invalidade jurídica de sua renúncia, pois afirmara em entrevista:
Porém, anos mais tarde, retificara sua posição:
Até morrer em 1940, em Petrópolis, onde residia no Palácio do Grão-Pará, Pedro honrou a renúncia. Morta a princesa Isabel em 14 de novembro de 1921, encaminhava questões monárquicas ao sobrinho Pedro Henrique de Orléans e Bragança. Também Luís Gastão, conde d'Eu, apoiava o seu neto Pedro Henrique como o herdeiro do trono imperial. Após as mortes do Conde d'Eu, em 1922, e de Pedro de Alcântara, em 1940, é que a chamada questão dinástica brasileira ganhou força, sendo incitada principalmente por Pedro Gastão, filho de Pedro de Alcântara, que nunca aceitou a renúncia do pai em favor do tio. Porém, à morte de Pedro de Alcântara, Pedro Henrique já tinha trinta e um anos de idade e vinte anos de chefia da casa imperial, posição consolidada e que dificilmente seria questionada pelos partidários de Pedro Gastão. Apenas a partir de 1981, com a morte de Pedro Henrique e a ascensão de seu primogênito, Luís Gastão, à chefia de suas pretensões, é que novamente foram feitas reivindicações por parte de Pedro Gastão. A partir de então, as contestações ganharam corpo, principalmente devido ao destaque social conferido a Pedro Gastão e seus filhos, a maioria casada com membros de outras casas reais, e à reclusão dos filhos de Pedro Henrique, cuja maioria renunciou a seus direitos dinásticos. Dessa divisão surgiu o chamado Ramo de Petrópolis, formado pelos descendentes de Pedro de Alcântara, e o Ramo de Vassouras, formado pelos descendentes de Pedro Henrique. À época do plebiscito de 1993, pelo qual se consultaria a forma e sistema de governo que a população preferia, a questão dinástica foi novamente levantada. Disputas ocorreram para decidir quem seria o candidato do movimento monarquista (se Pedro Gastão ou Luís Gastão), o que acabou por dividir e enfraquecer a causa monárquica. De fato, Pedro Gastão era o que recebia mais destaque na propaganda eleitoral gratuita, onde Luís Gastão sequer tinha espaço. Após a morte de Pedro Gastão, porém, a questão dinástica parece encerrada. Retorno ao BrasilPedro, após a extinção do exílio, veio ao Brasil para realizar excursões de caça nos sertões brasileiros. Acompanhado por seu secretário, fez entre 1926-1927 uma das viagens mais conhecidas da época: um "auto-raid" da Bolívia até o Rio de Janeiro, percorrendo quatro mil quilômetros de automóvel por estradas praticamente intransitáveis. Dessa expedição existem reportagens publicadas por Mario Baldi em jornais e revistas ilustradas brasileiras e europeias. Muitas fotografias foram feitas na ocasião; as imagens fazem parte da coleção Mario Baldi, da secretaria de cultura de Teresópolis, cidade onde morava o austríaco. Mais uma expedição foi feita pelo príncipe e seu secretário, desta vez com os filhos de Pedro, em 1936. Nesta ocasião os expedicionários visitaram aldeias indígenas dos sertões brasileiros. A revista A Noite Ilustrada publicou várias reportagens e fotografias de Mario Baldi, que fez novamente a documentação da aventura. Pedro de Alcântara retornou ao Brasil na década de 1930, estabelecendo-se no Palácio do Grão-Pará, em Petrópolis. Tornou-se figura obrigatória nas comemorações e realizações locais, sendo muito admirado pela maneira afetuosa e simpática com que sempre se dirigia aos seus compatriotas. Foi escolhido como presidente de honra do Instituto Histórico de Petrópolis.[9] Nessa mesma cidade o príncipe faleceu, aos 64 anos de idade, vítima de uma doença respiratória, e foi sepultado no cemitério local com honras de chefe de estado. Em 1990, seus restos mortais foram trasladados junto com os de sua esposa para o Mausoléu Imperial, na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, onde repousam ao lado das tumbas de seus pais e avós, num jazigo simples. Títulos e honrariasTítulos e estilos
Honrarias
DescendênciaPedro de Alcântara e Elisabeth tiveram 5 filhos:[12]
Pedro de Alcântara é, portanto, avô do Henri d'Orléans, Conde de Paris (1933-2019) e do atual Duque de Bragança, D. Duarte Pio de Bragança (nascido em 1945).[13] Ver tambémReferências
Ligações externas
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