Luciana de Oliveira Dias
Luciana de Oliveira Dias ou simplesmente Luciana Dias (Goiânia, GO, 1 de agosto de 1970) é uma antropóloga, professora universitária, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro.[1][2] Filiada à tradição da antropologia hermenêutica, Luciana é uma das principais representantes da antropologia das relações raciais no Brasil, sendo uma das autoras que vem desenvolvendo o conceito de "mulheres-raízes" e pesquisadora de migrações internacionais e do feminismo negro no Brasil.[2][3] BiografiaFilha de uma costureira goiana, a Dona Fia, que veio a se tornar uma professora, e de um pedreiro baiano, o Seu Raimundo Preto, Luciana nutria interesse desde a sua juventude em se tornar uma cientista para melhor entender a sociedade e a humanidade. Com este propósito, ela foi aprovada no vestibular para o curso de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal de Goiás (UFG).[4] Após a concluir sua graduação em Ciências Sociais na UFG, ela prosseguiu os seus estudos de pós-graduação stricto sensu no mestrado, onde defendeu a dissertação "Discursos Reguladores da Feminilidade no Pensamento Social Brasileiro", sob orientação da professora Mireya Suárez, e no doutorado em Antropologia na Universidade de Brasília (UnB), nos quais ela desenvolveu suas pesquisas no campo da antropologia e da interculturalidade.[2][4][5] Durante a sua pesquisa de doutorado, Luciana desenvolveu sua pesquisa de campo etnográfico no México, onde ela morou por um tempo para estudar os povos indígenas mexicanos que migraram para lá. Investigando a realidade dos indígenas que estudavam durante o turno noturno em uma escola destinada a jovens e adultos situada na Cidade do México, ela identificou situações de interações sociais semelhantes às dos negros brasileiros, que resultou na tese de doutorado "Intersubjetividades constitutivas das identidades étnico-raciais e de gênero nos espaços escolares de contextos urbanos do Brasil e México", defendida em 2008, sob orientação do professor Cristhian Teófilo da Silva e com a coorientação de Antonio Carrillo Avelar, professor da Universidade Autônoma do México (UNAM).[6] Em 2010, Luciana Dias foi aprovada no concurso público para ser professora de Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais da UFG, vindo a lecionar diversas disciplinas do campo antropológico, a exemplo de "Antropologia e Relações Étnico-Raciais" e de "Didática e Prática de Ensino em Ciências Sociais", e da área de educação intercultural, a exemplo de "Direitos Indígenas", na graduação, enquanto que na pós-graduação da UFG, ela ensina disciplinas como "Gênero e Sexualidade: (des)construir conceitos e linguagens" e "Relações étnico-raciais e o princípio da igualdade".[2] Na UFG, Luciana Dias ocupou diversos cargos do campo universitário como os de coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos (PPGIDH) entre 2014 e 2016, e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) entre 2019 e 2020.[1][7] Em novembro de 2019, Luciana foi agraciada com o "Troféu Lélia Gonzalez" que integra a "Comenda Zumbi dos Palmares" conferida pelo governo estadual de Goiás por meio da Secretaria estadual de Desenvolvimento Social.[1][8] Em 2022, Luciana Dias foi designada para o cargo de Secretaria de Inclusão da Universidade Federal de Goiás,[5] tendo atuado em questões relevantes das políticas de identidade, tais como as políticas de ações afirmativas em vestibulares e concursos públicos, do reconhecimento de nome social, entre outras atividades. Nesta condição, Luciana foi nomeada para o exercer o cargo de conselheira do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Combate ao Preconceito de Goiás.[9][10][11] PensamentoMulheres-raízesNo artigo "Orí e cabaça são femininas: mulheres-raízes e suas insurgências na intelectualidade brasileira", publicado em 2020, Luciana Dias em conjunto com Cristiane Souza e Carlos Henning propõem uma categoria analítica denominada de "mulheres-raízes". Portanto, esta concepção busca alcançar parte da potência do empreendimento teórico, político e prático de intelectuais como Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento em favor de construção de laços de solidariedade entre mulheres negras, e entre essas e outras subjetividades, mas também de denúncia e de resistência às estruturas e práticas racistas, machistas, elitistas e coloniais ainda presentes no Brasil que afetam de modo desproporcional sobretudo às mulheres negras no território brasileiro.[4] A categoria de análise "mulheres-raízes", desenvolvida por Luciana Dias em conjunto com os referidos pesquisadores[4], busca destacar a importância e contribuição das mulheres, integrantes das mais diversas áreas, na produção de ciência e no enfrentamento da ausência de reconhecimento e destaque para elas, em um processo de invisibilização dessas cientistas.[12] Esta concepção corrobora a ideia de que falta uma autêntica democratização e equidade de gênero na produção do conhecimento científico. Por este motivo, faz-se necessário reconhecer e incentivar a produção científica pelas mulheres, não apenas do campo das ciências exatas e naturais, como também das demais áreas do conhecimento, além de levar em conta as disparidades de raça que existem dentro do demarcador de gênero.[13] A concepção de mulheres-raízes seria um contraponto à noção presente nas ciências sociais da existência de pais fundadores desse campo científico, porém, quando se pensa na produção do saber científico, além desses pais fundadores, haveriam também as mulheres-raízes. Sucede, que tais mulheres passam por um processo de invisibilização em que elas nem sempre são reconhecidas.[12] Baseada na ideia de mulheres-raízes, Luciana de Oliveira Dias sintetiza essa categoria afirmando que "É necessário a gente construir uma outra forma de produzir conhecimento, reconhecendo a agência e a autoria de mulheres."[12] Prêmios e HonrariasObrasPrincipais livros
Principais capítulos e artigos
Referências
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