O Livro de Abraão é um texto religioso dos Santos dos Últimos Dias que aparece na Pérola de Grande Valor. A tradução foi feita supostamente em 1835, por Joseph Smith Jr., de um conjunto de papiros egípcios adquiridos a partir de exposição. De acordo com Joseph Smith Jr., o livro era uma tradução de alguns registros antigos escritos por Abraão, enquanto ele estava no Egito, chamado de o Livro de Abraão. O livro, de acordo com os Santos dos Últimos Dias, descreve a história de Abraão e seus primeiros anos de vida, incluindo a visão do cosmos.
Em 2013, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias mudou a descrição do Livro de Abraão na página titular da Pérola de Grande Valor declarando que é uma "tradução inspirada dos escritos de Abraão" e não uma tradução exata dos papiros.[1] Segundo a Igreja, "Nenhum dos caracteres nos fragmentos de papiro mencionou o nome de Abraão, ou qualquer um dos eventos registrados no livro de Abraão".[2]
Facsimile n.º 1
Joseph Smith afirmou que o fac-símile n.º 1 retrata Abraão em um altar, prestes a ser sacrificado por um "sacerdote idólatra de Elquena".[3] O Livro de Abraão faz referência explícita a esse fac-símile, observando: "Para que tenhais conhecimento desse altar, indicar-vos-ei a representação que se encontra no início deste registro".[4][5] Egiptólogos, no entanto, apontam que é uma vinheta tirada de uma versão de O Livro das Respirações,[6][7][8][9] também conhecido como "Permissão de Respiração",[10] copiado para um padre tebano chamado Hôr.[11][nb 1] Uma comparação da interpretação de Smith do fac-símile e dos egiptólogos é a seguinte:
Fac-símile nº 1 publicado no Livro de Abraão (esquerda) e encontrado no papiro I existente de Joseph Smith (meio), em comparação com uma imagem semelhante das Tumbas dos Reis, Tebas (direito). Observe as lacunas, ou partes ausentes do papiro. Nas lacunas (partes ausentes) o escrivão de Smith desenhou uma cabeça de ser humano no Deus Anúbis (Anúbis tem uma cabeça de um chacal) e uma faca na sua mão (em realidade, Anúbis não tem uma faca na mão, mas está dando bênçãos para Osíris que está inclinado no leito em forma de leão). O escrivão de Smith desenhou os braços e mãos de Osíris em cima da cabeça dele em ato de defender sua vida. Na verdade, a figura de Osíris está estendendo sua mão direita para tocar seu próprio rosto (representa ressurreição de Osíris, pois o toque de mão no rosto é um sinal de despertar) e sua outra mão está tocando seu pênis ereto no ato de impregnar sua esposa Ísis que está em cima em forma de um falcão (à esquerda de Figura 1 que represena o Ba-espírito Osíris em forma de outro pássaro).
O sacerdote idólatra de Elquena tentando oferecer Abraão em sacrifício.
"O Anúbis com cabeça de chacal, deus da mumificação, estendendo sua mão para garantir a ressurreição da múmia do falecido Osíris ... Embora a maior parte da cabeça de Anúbis agora esteja faltando, a parte de trás de sua peruca ainda aparece acima de sua ombro e sua pele escura é evidente"[16]
4
O altar de sacrifício dos sacerdotes idólatras diante dos deuses de Elquena, Libna, Mamacra, Corás e Faraó.
"o esquife funerário costumeiro com cabeça de leão"[16]
5
O deus idólatra de Elquena.
Um dos "quatro 'jarros canópicos' [representando] Qebehsenuf com cabeça de falcão, protetor dos intestinos"[17]
6
O deus idólatra de Libna.
Um dos "quatro 'jarros canópicos' [representando] cabeça de chacal Duamutef, protetor do estômago"[17]
7
O deus idólatra de Mamacra.
Um dos "quatro 'jarros canópicos' [representando] com cabeça de babuíno Hapi, protetor dos pulmões"[17]
8
O deus idólatra de Corás.
"One of "the four 'canopic jars' [representing] de cabeça humana Imseti, protetor do fígado"[17]
9
O deus idólatra do Faraó.
"O crocodilo que ajudou na coleta dos membros desmembrados de Osíris"[18]
10
Abraão no Egito.
"Um estande de oferendas típico com um vaso de jorro e flores de nenúfar do Nilo"[18]
11
Desenhado para representar os pilares do céu, como os entendiam os egípcios.
"Uma fachada de 'tijolo de nicho', originalmente uma característica arquitetônica ... que se tornou uma convenção artística para a decoração de dado de cenas sagradas de parede"[18]
12
Rauqueeian, que significa expansão, ou seja, o firmamento sobre nossa cabeça; mas neste caso, em relação a este assunto, os egípcios davam-lhe o sentido de Saumau, estar no alto, ou seja, os céus, que corresponde à palavra hebraica Saumaieem.
"Um riacho de água do Nilo (mostrado por linhas tracejadas)";[18] "A palavra Saumaieem [sic] não é egípcio, e a palavra hebraica שָׁמַ֫יִם [i.e. shamayim] está mal copiado"[19]
Facsimile n.º 2
Fac-símile nº 2 publicado no Livro de Abraão (esquerda) e uma cópia do Hipocéfalo de Sheshonq, dos Kirtland Egyptian Papers (direita), provavelmente feito por Willard Richards (cerca 1835–1842). Smith provavelmente instruiu que Reuben Hedlock preenchesse as lacunas (partes ausentes) aleatoriamente com símbolos e hieróglifos de outras partes dos papiros da coleção que compraram em preparação para a publicação.[20]
Historicidade
Anacronismos
Os eruditos bíblicos consideram que Abraão viveu não depois de 1500 AEC, tornando anacrônico tudo o que passou a existir depois dessa época.[21]
Sacrifício humano como prática religiosa egípcia
O Livro de Abraão menciona homens, mulheres e crianças sendo sacrificados aos deuses egípcios por motivos religiosos. Por exemplo, uma criança é oferta de agradecimento. Dizia-se que os sacrifícios eram feitos "segundo o costume dos egípcios".[22] Oferecer sacrifícios humanos aos deuses não era uma prática religiosa dos antigos egípcios.[23]
↑«Tradução e autenticidade histórica do livro de Abraão». A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Egiptólogos membros e não membros da Igreja concordam que os caracteres nos fragmentos não combinam com a tradução feita do livro de Abraão, embora não haja unanimidade, mesmo entre os estudiosos não membros, sobre a interpretação adequada das vinhetas existentes nesses fragmentos. Estudiosos identificaram os fragmentos de papiro como partes de textos funerários-padrão que foram depositados com corpos mumificados. Tais fragmentos datam aproximadamente do século III a.C. ao século I a.C., muito depois de Abraão ter vivido.
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Crapo, Richley; Tvedtnes, John A (maio de 1969b), Papyri Give Further Book of Abraham Insight, LDS Student Association Commentary.
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Gee, Jon (2000b), «Eyewitness, Hearsay, and Physical Evidence of the Joseph Smith Papyri», in: Ricks, Steven; Parry, Donald; Hedges, Andrew, The Disciple as Witness: Essays on Latter-day History and Doctrine, ISBN9780934893459, Foundation for Ancient Research and Mormon Studies.
Gee, John (2011), «An Egyptian View of Abraham», in: Skinner, Andrew C; Davis, Morgan; Griffin, Carl, Bountiful Harvest: Essays in Honor of S. Kent Brown, ISBN9780842528047, Maxwell Institute, pp. 137–56.
Smith, Christopher C. (primavera–verão de 2011), «"That Which Is Lost": Assessing the State of Preservation of the Joseph Smith Papyri», John Whitmer Historical Association Journal, 31 (1): 69–83.
Tvedtnes, John A (abril de 1970), The Use of Mnemonic Devices in Oral Traditions, as Exemplified by the Book of Abraham & the Sensen Papyrus (120), Newsletter & Proceedings of the Society for Early Historic Archaeology.
Tvedtnes, John; Hauglid, Brian M; Gee, John, eds. (2001), Traditions about the Early Life of Abraham, Foundation for Ancient Research and Mormon Studies.