Língua pijin
A língua pijin, também conhecida como pidgin das ilhas salomão ou neo-salomônico,[1] é a língua franca das Ilhas Salomão, falada em todo arquipélago. Cerca de 101,5 mil de seus falantes a falam como 1ª língua, no total são mais de 494 mil pessoas que falam pijin como língua materna ou secundária, sendo a mais falada entre a população da província de Honiara, falada por 81% (105,1 mil) de sua população. Entretanto, o número de pessoas que falam pijin como primeira língua vem crescendo cada vez mais, com um aumento de 407% no número de falantes nativos, de 1999 a 2019.[2] Por mais que a língua pijin não seja oficialmente ensinada nas escolas das Ilhas Salomão, ela é a mais utilizada no ambiente escolar, normalmente junto ao inglês. Desde 1978, instituições foram criadas a favor da alfabetização, e/ou sustentamento da língua, no entanto, parte delas não se prosperaram. Atualmente o pijin é sustentado pela comunidade que o fala e outras instituições.[3][4] EtimologiaPijin é um empréstimo da palavra inglesa, pidgin (que é como se denomina as línguas de contato), um sistema comunicativo criado pela necessidade de contato entre grupos que falam línguas diferentes.[5][6] A palavra pidgin antigamente apelidava uma forma reduzida do inglês, utilizada como meio de comunicação entre chineses e europeus. A razão do nome é que a palavra business (negócios, em inglês) era frequentemente escrita como pigeon (pombo, em inglês), refletindo a pronúncia local. Embora o termo business seja aceito como étimo, a palavra pode ter sido oriunda do cantonês, bei chin (畀錢, na escrita cantonesa), que significa "dar dinheiro", ou de uma fusão entre ambos os termos.[7] HistóriaO pijin foi pouco documentado durante sua evolução, se sabe apenas o básico sobre sua história. Durante a ascensão do pijin como uma língua no pacífico, o que se consta sobre são apenas relatos, e menções a respeito em outros estudos linguísticos, estudos do Tok Pisin, ou em estudos gerais sobre línguas crioulas/pidgins.[8] Muitos dos estudos e teses significativas sobre o pijin começaram a surgir por volta da segunda metade do século XX.[8] Século XIXDurante o século XIX, um jargão inglês ou beach-la-mar, ancestral da língua bislamá, se desenvolveu e se dispersou entre as ilhas do Pacífico como uma língua de negócios ao fim do século XIX.[9][10] 1860-1900Entre 1863 e 1906, a prática do blackbirding [en] (recrutamento enganoso e forçado de trabalhadores) foi usado em plantações de cana-de-açúcar em Queensland, Samoa, Fiji e Nova Caledônia. No início desse período, os plantadores australianos começaram esse recrutamento nas Ilhas Lealdade, no meio dessa década nas Ilhas Gilbert e Ilhas Banks, no início da década de 1870 nas Ilhas Santa Cruz e a partir de 1879, quando esse recrutamento se tornou difícil, na província de Nova Irlanda e na ilha de Nova Bretanha, ambas na Papua-Nova Guiné. Cerca de 13 mil ilhéus das Ilhas Salomão foram levados para Queensland nesse período.[11] A língua pidgin kanaka era usada nas plantações e se tornou a língua franca falada entre trabalhadores da Melanésia e supervisores europeus. Quando trabalhadores oriundos das Ilhas Salomão retornaram às suas origens ao fim dos contratos ou quando foram repatriados à força com o fim desse período de blackbirding em 1904, eles levaram esse pidgin para as Ilhas Salomão. Histórias contadas por antigos trabalhadores de Queensland são lembradas até hoje pelos mais velhos.[12][13] Século XXEm 1901, havia cerca de 10 mil ilhéus do Pacífico trabalhando na Austrália, principalmente na indústria de cana-de-açúcar em Queensland e no norte de Nova Gales do Sul, muitos deles trabalhando como trabalhadores não pagos (mas sustentados). Pelo “Pacific Island Labourers Act” de 1901, o Parlamento da Austrália foi o instrumento usado para deportar cerca de 7,5 mil desses trabalhadores.[14] Até 1911, cerca de 30 mil ilhéus das Ilhas Salomão assim trabalharam em Queensland, Fiji, Samoa e Nova Caledônia. O uso do pijin nas igrejas e por seus missionários ajudou no processo de propagação da língua.[15] Século XXIApesar de ser a língua franca das Ilhas Salomão, o pijin permanece sendo uma das principais línguas faladas, com quase nenhum esforço do governo em padronizar sua gramática ou ortografia. Assim, o pijin continua sendo uma língua muito flexível, cujo principal objetivo é transmitir uma ideia, sem preocupações com qualidades na construção de frases.[3][2] FonologiaVogaisNo pijin encontramos as seguintes vogais:[16]
Não parece haver variação significativa na realização fonética das vogais. É observado que muitos falantes conseguem diferenciar entre vogais curtas, como [a] em puskat 'gato', e vogais longas, como [aː] em baː 'bar'.[17] ConsoantesBasicamente, o pijin tem o seguinte sistema de fonemas consonantais:[17]
O pijin é influenciado de maneira significativa pela variedade linguística das Ilhas Salomão. Isso se reflete na pronúncia de alguns fonemas consonantais, os quais variam consideravelmente conforme o sistema fonológico das diferentes línguas maternas dos falantes de pijin. Considerando que mais de 60 línguas são faladas nas Ilhas Salomão, isso resulta em uma diversidade considerável na padronização da fala entre os falantes locais. Por exemplo, a oclusiva oral surda /p/ pode ser realizada como [b] ou [ᵐb]; as oclusivas orais sonoras /b/, /d/ e /g/ também são realizadas como as oclusivas pré-nasalizadas [en] [ᵐb], [ⁿd] e [ᵑɡ] respectivamente; a fricativa surda /f/ pode ser realizada como [p]; o africado surdo /ʧ/ também é realizado como [s] ou [ʃ]; o africado sonoro /ʤ/ também é realizado como [s] ou [dj].[17] Variação fonológicaA fonologia da língua pijin é altamente variável, com variações de região para região. Três fatores predominantes determinam essa variabilidade: a presença de vernáculos, a presença do inglês e a urbanização.[18][19] Os residentes das Ilhas Salomão são normalmente multilíngues, consequência da alta gama de vernáculos faladas no arquipélago. A presença desses vernáculos fazem com que seja tendente a aplicação de regras fonológicas distintas ao pijin, sendo frequente a: [18][19]
ex. jamp → samp, diamp (pular, em pijin)
ex. skul → sukul (escola, em pijin)
ex. talem → talemu (dizer, em pijin) OrtografiaA língua pijin utiliza o alfabeto latino, representando seus fonemas das seguintes formas:[16]
GramáticaPronomesPronomes PessoaisOs pronomes pessoais em pijin são marcados para número (ou seja, os pronomes possuem uma forma singular, plural e dual), mas não para gênero (não mudam de forma em relação ao genêro do sujeito), por exemplo, hem é equivalente (ao mesmo tempo) aos pronomes ele e ela no português. Além dos pronomes de primeira, segunda e terceira pessoa, o pijin apresenta pronomes inclusivos, quais se referem ao falante e ao ouvinte, também, em certos casos, podendo incluir outros indivíduos (como no pronome plural, yumi). Em algumas áreas das Ilhas Salomão, é feita uma distinção entre singular, dual e plural, em vez de apenas singular e plural.[20]
Pronomes ReflexivosQuando um sintagma nominal tem o mesmo referente que o sintagma verbal na mesma sentença, a forma reflexiva seleva é usada:[21]
A repetição da forma do pronome (mi, hem, etc) é opcional. Pronomes EnfáticosA forma reflexiva seleva é também usada para dar ênfase, como nas seguintes sentenças:[21]
Pronomes InterrogativosOs pronomes interrogativos no pijin são:
QuantificadoresNo pijin, existem diferentes maneiras de quantificar um substantivo em uma sentença:[23]
Note que, o substantivo pigpig não assume uma forma diferente no plural/dual. Isso acontece porque em pijin, quando fica claro o número (singular, dual ou plural) em uma sentença, ele não é marcado no substantivo.[23] Tempo VerbalFuturo
A primeira frase não especifica o tempo verbal. O ouvinte sabe o tempo do verbo a partir do contexto. Na segunda frase, no entanto, o uso de bae (ou baebae) antes do sujeito indica que esta frase é no futuro. Bae (ou baebae) pode ocorrer em qualquer lugar da frase antes do marcador do predicado, desde que não interrompa as frases. Ou seja, além de sua posição no início da frase, ilustrada na frase 2 acima, bae (baebae) pode ocorrer após quaisquer advérbios de tempo que possam iniciar a frase, após o tópico, ou entre o sujeito e o marcador do predicado.[24] Passado
A primeira frase pode se referir ao passado, ao presente ou ao futuro, dependendo do contexto. Quando bin é adicionado imediatamente após o marcador do predicado ou antes do verbo, a frase se refere ao tempo passado. Ao contrário de baebae, bin deve ocorrer entre o marcador do predicado e o verbo.[25] SintaxeO pijin usa o estruturamento frasal sujeito-verbo-objeto (SVO). Em sentenças em segunda/terceira pessoa, ou em primeira pessoa no plural, pode ocorrer de opcionalmente ter um marcador de predicado i, que conecta o sujeito/substantivo ao predicado da sentença.[26] Marcador de predicado
O marcador de predicado (M. P) entre o sujeito e o verbo nas frases acima é marca o início do sintagma verbal. Ele ocorre opcionalmente quando o sujeito está em segunda ou terceira pessoa (ou seja, yu, hem, olketa, etc...) ou primeira pessoa do plural (mifala, etc...).[27] Aparentemente, não há diferença de significado entre as variedades (a) e (b) das seguintes frases:[27]
O marcador de predicado i nunca é usado com a primeira pessoa do singular.[27]
VocabulárioNumeraisConfira na tabela abaixo diferentes números em pijin:
Os numerais cardinais de wan (um) a tuenti (vinte) e outros numerais não compostos geralmente são expressos por formas de "fala" quando usados em um sintagma nominal para indicar quantos há do substantivo principal. Como regra geral, numerais não complexos têm formas de "fala", enquanto numerais compostos não têm.[29] Números ordinais também podem ser derivados pela composição da palavra namba (número, em português) com um numeral. No Pijin, esse método parece ser usado apenas em números até dez.[29] Amostra de textoDeclaração Universal dos Direitos HumanosVeja abaixo o primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos em pijin,[16] inglês[30] e português,[31] respectivamente: Pijin Evri man en mere olketa born frii en ikwol lo digniti en raits blo olketa. Olketa evriwan olketa garem maeni fo tingting en olketa sapos fo treatim isada wittim spirit blo bradahood. Inglês All human beings are born free and equal in dignity and rights. They are endowed with reason and conscience and should act towards one another in a spirit of brotherhood. Português Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Referências
Bibliografia
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