Josefa Garcia Greno
Maria Josefa Garcia Seone Greno (Medina-Sidonia, 1 de setembro de 1850 - Lisboa, 27 de janeiro de 1902), mais conhecida por Josefa Garcia Greno, foi uma pintora luso-espanhola naturalista que fez parte do Grupo do Leão.[1] BiografiaJosefa Garcia Greno nasceu na Andaluzia, no município de Medina-Sidonia, bairro de Santa Maria, a 1 de setembro de 1850.[2][3] Quando o pai, o capitão-general José Garcia Saéz, morreu quando ela tinha 4 anos, Josefa e a mãe, Maria Seone, foram viver para A Corunha. Mãe e filha residiram na Galiza seis anos até decidirem retornar à Andaluzia, onde moraram em Sevilha, tendo sido aí que Josefa aprendeu a ler, a escrever, a bordar e a desenhar num dos melhores colégios espanhóis, chegando a escrever e publicar contos e poemas. O regresso deu-se durante a queda da Primeira República Espanhola e o restabelecimento da monarquia com Afonso XII — a instabilidade reinava em Espanha, o regime republicano duraria apenas onze meses, espaço de tempo em que o país enfrentou três guerras civis. Talvez temendo a insegurança, optaram por se instalar em Lisboa, devido à Terceira Guerra Carlista.[2] Na capital portuguesa, Josefa recorreu à alta costura e aos bordados como forma de sustento para ela e sua mãe. Por volta de 1870, conheceu o seu futuro marido, o pintor Adolfo César de Medeiros Greno, que estudava Pintura na Academia de Belas-Artes de Lisboa.[4][5][6][7] A 18 de setembro de 1876, aos 26 anos, casa, na Igreja de Nossa Senhora do Socorro, em Lisboa, com Adolfo Greno, de 22.[3] No mesmo ano, ela mudou-se para Paris com a mãe, para que Adolfo, discípulo do romântico Miguel Ângelo Lupi, prosseguisse seus estudos e onde serve de modelo para os quadros dele. Adolfo iria beneficiar da bolsa de Pintura Histórica que ganhara, passando a ter por mestre Alexandre Cabanel, seguidor dos modelos clássicos greco-romanos. Entretanto este começou a desleixar os estudos e o trabalho, frequentando cada vez mais a noite boémia da cidade e deixando de cumprir prazos de entrega. Este comportamento fez com que perdesse em 1881, a bolsa de estudo que lhe fora atribuída pela Academia de Lisboa. Josefa ao ver que a família não podia depender do marido para se sustentar, decidiu aprender a pintar.[5][8][1][9] Josefa foi admitida na Société des Artistes Français graças ao quadro que apresentou de uma paisagem.[10] Nesta altura, conviveu com os pintores Columbano Bordalo Pinheiro e Artur Loureiro e viu o seu trabalho trabalho ser reconhecido.[11][12] É deste período o quadro Um Concerto de Amadores pintado por Columbano, no qual o casal Greno aparece por sugestão de Loureiro, Josefa é a figura feminina que se encontra ao lado do pianista, olhando para baixo.[5][13][14][15][1] Dedicou-se especificamente à pintura de flores, como mimosas, peónias, malmequeres, entre outras.[16][17][18] Em 1884, participa na XIII Exposição da Sociedade Promotora das Belas-Artes, onde chamou a atenção dos organizadores do evento pela sua técnica, especialmente pelas cores que utilizava e a maneira de como trabalhava a luz nas suas telas. É premiada com uma medalha e torna-se um sucesso de vendas superior a José Malhoa.[12][7][5] Regressa a Portugal em 1886 e nesse ano apresentou quadros na VI Exposição Quadros Modernos, organizada pelo Grupo do Leão, para o qual foi convidada por Silva Porto. Passou a ser uma das Senhoras Leoas, nome pelo qual são conhecidas as mulheres artistas que faziam parte do grupo, nomeadamente: Berta Ortigão, Maria Augusta de Prostes Bordalo Pinheiro e Helena Gomes.[5][19][20][1][11] Tornou-se uma pintora aclamada, a quem não faltavam encomendas e cujos quadros vendiam-se rapidamente.[21][22][23] Ensinou pintura e entre os seus discípulos encontram-se o pintor naturalista Simão Luís da Veiga e a pintora Júlia Hermínia da Conceição Xavier.[24][25][11] Até 1901, é uma presença constante nas exposições organizadas pelo Grémio Artístico e pela Sociedade de Belas-Artes, tendo frequentado os salões da elite cultural lisboeta da altura, convivendo com escritores como Fialho de Almeida e expondo ao lado de artistas como Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Silva Porto, Fanny Munró, entre outros.[1][22] Enquanto Josefa atingia um elevado sucesso profissional, o marido tinha um percurso contrário, gastando as poupanças da família. Tanto os amigos mais próximos do casal quanto os conhecidos consideraram que a maior crise nervosa de Josefa ocorrera em 1895, altura em que o marido se apropriou indevidamente das poupanças que ela arduamente tinha conseguido reunir. Em 1897, a crítica começou a levar em conta o que se dizia a propósito da sua decadência a nível familiar, não tendo participado no Grémio Artístico de 1899, ano em que a mãe, que sempre a acompanhara, mesmo em Paris, morreu, facto que abalou a pintora profundamente. Maria Seone já passava dos oitenta anos. Josefa nunca mais pegou nos pincéis.[26][2] Na noite de 7 de abril de 1901, Josefa desferiu um tiro sobre o marido, não o atingindo. O sucedido não teve efeito em Adolfo, visto que este tipo de intimidações mútuas eram comuns entre o casal. Josefa participa ainda na primeira exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes, que inaugurou a 15 de maio de 1901, não recebendo nenhuma medalha. Após vários anos de suplício, na noite de 25 para 26 de junho do mesmo ano, Josefa Garcia Greno atinge o marido com 4 tiros, criando, no concreto, a sua última natureza-morta, ficando o sucedido intitulado como "o horrível crime da Travessa de São Mamede" ou como o "caso Greno", sendo alvo de vários folhetos de cordel. Os quadros expostos na Sociedade de Belas-Artes foram todos adquiridos depois do fatal dia de 26 de junho. Teria dito: "Por ele me sacrifiquei e me fiz pintora… Trabalhei muito… até chegar à última pintura, que foi esta", acrescentando: "Roubou-me a alegria e a confiança, tudo o que uma mulher pode ter de mais sagrado. A minha vida era impossível com um mentiroso... Sofri muito. Sofro muito! (...) Ele gastava todo o dinheiro que eu ganhava. Era um desequilibrado. Não podíamos viver bem. A mulher tem os seus direitos." Foi levada para a Prisão do Aljube e no rol dos depoimentos, o seu cunhado, Carlos Greno, depõe a seu favor.[27][26][19][1] Foi transferida para o Hospital de Rilhafoles a 2 de julho de 1901 e Miguel Bombarda, aclamado psiquiatra e diretor daquele hospital, proibiu-lhe as visitas, não tendo ninguém retornado a ver Josefa com vida. O seu caso foi estudado por Bombarda que declarou tratar-se de um delírio. O psiquiatra recolheu vários pareceres de célebres congéneres estrangeiros, como Cesare Lombroso, Emil Kraepelin e Eduard Hitzig. Terminado o processo médico-legal, Josefa foi declarada como insana pela maioria dos jornais da época, sendo a sua imagem cruelmente denegrida por Maximiano Lemos na sua entrada da Enciclopédia Illustrada, dados mais tarde eliminados na Grande Enciclopédia portuguesa e brasileira.[26][27] Pouco tempo depois, é-lhe diagnosticado o mal de Bright, a que se somava a decadência mental. Sete meses depois de ser internada, morre às 21 horas de 27 de janeiro de 1902, aos 51 anos, no Hospital de Rilhafoles, à data situado na freguesia da Pena, em Lisboa. No dia seguinte é realizada uma autópsia pelo próprio Miguel Bombarda, que, mais tarde, a 1 de fevereiro, sob a sua presidência, realiza uma sessão na Sociedade de Ciências Médicas, sendo o principal orador na exposição do caso da pintora. Na mesma sessão, Silva Amado, denota na análise à autópsia que Josefa tinha um coração com mais do dobro do peso e medida de um coração feminino.[26][27] A 29 de janeiro, é publicado no Diário Illustrado, o seguinte artigo noticioso, acerca de sua morte: "(...) falleceu no hospital de Rilhafolles D. Josepha Greno. Eis o ultimo quadro d'esse drama que tão profundamente nos impressionou. A morte, descendo sobre ella, deixou ainda uma terrivel interrogação: Uns hão de responder a ella com a palavra crime, outros, mais piedosos, e por isso mesmo talvez mais sabios, com a palavra desgraça; e outros, ainda, hão de ver n'essa interrogação a mais perfeita resposta... Seja, porém, o que fôr. O que é certo é que esse perturbado coração de mulher se ha de ter encontrado já face a face com a Verdade: e oxalá que, à sua luz, elle tenha encontrado em si, não sangue, mas lagrimas somente".[28] O cortejo fúnebre, no dia 30 de janeiro, que seguiu para o Cemitério do Alto de São João, o mesmo cemitério em que jaz Adolfo, resumiu-se a uma sege dourada para o caixão, uma outra com o sacerdote e o acólito, e cinco carruagens "com outras tantas senhoras e três cavalheiros".[2] Obras
Galeria
Prémios e Exposições
Referências
Ligações externas |