José Jacinto Van-DúnemJosé Jacinto da Silva Vieira Dias Van-Dúnem, também conhecido como Zé Van-Dúnem Filósofo[1] (Moçâmedes,[1] 29 de agosto de 1939 — Luanda, 8 de julho de 1977), foi um militar, político e ideólogo anticolonial angolano. Foi comissário político do Estado-Maior das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA),[2] membro do Comité Central do MPLA[3] e comissário político da Frente Leste (III Região Político-Militar).[3] Participou activamente na guerra pela independência e na guerra civil angolana.[3] Membro da ala comunista-ortodoxa do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA),[4] foi um dos líderes da intentona Nitista.[3] Capturado no processo de repressão à tentativa de golpe de Estado, foi morto com sua esposa Sita Valles.[3] BiografiaFilho primogénito de Antónia Vieira Dias e Mateus Van-Dúnem,[2] José Jacinto Van-Dúnem advém de uma família ligada aos primórdios do movimento nacionalista moderno angolano,[2] especialmente na figura de seu avô, Manuel Pereira dos Santos Van-Dúnem,[2] e de seu tio-avô, Manuel Inácio dos Santos Torres Vieira Dias.[2] Teve como irmãos Francisca Van Dunem, que posteriormente se tornou Ministra da Justiça de Portugal, João Van-Dúnem, jornalista falecido em 2013, e Efigénia Van-Dúnem.[5][6][7] José Jacinto Van-Dúnem recebeu a sua educação primária em uma escola no Sumbe, onde sua família residia em função do emprego público de seu pai.[2] Mudou-se para Luanda e passou a morar com seu tio[2] para poder estudar no Liceu Nacional Paulo Dias de Novais (actual Escola Angola Quiluanje). Depois estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de Luanda.[2] A partir de meados da década de 1960, por influência familiar, ingressou na luta anticolonial no movimento marxista MPLA, abandonando a Faculdade de Medicina.[2] Participou na Guerra de Independência de Angola como oficial de inteligência Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA) e coordenador do Comité Clandestino Regional de Luanda (CRL),[2] organizando uma rede de células do MPLA em Luanda.[2] Sua capacidade intelectual lhe rende o apelido de "Filósofo".[2] Participou de ações armadas, incluindo o sequestro de uma aeronave em 1969.[2] Com uma missão de inteligência, alistou-se nas tropas coloniais portuguesas em janeiro de 1970, tendo acesso a informações militares classificadas.[2] Serviu no Huambo e no Cuíto com a especialidade de atirador de cavalaria.[2] Organizou o roubo de armas e munições do quartel do Cuíto, que precipitou sua prisão em Luanda e depois em Moçâmedes.[2] Mesmo preso na tentativa de conseguir as armas para a luta armada, ganhou destaque e respeito entre as tropas do EPLA pela coragem pessoal e inclinação aventureira para correr riscos.[2] Com a Revolução dos Cravos em Portugal em 25 de abril de 1974, iniciou-se o processo de descolonização.[2] José Jacinto Van-Dúnem foi libertado, tornando-se, juntamente com Nito Alves e Daniel Chipenda, as figuras mais influentes do MPLA em território angolano justamente por sua participação e liderança na luta armada em solo nacional.[2] Com Nito, empreendeu a reforma da I Região Político-Militar (Luanda, Dembos e Norte Angolano) do MPLA e reativação da IV Região Político-Militar (Malanje e Cuanza).[2] Conseguiram reativar também a importante estrutura celular em Luanda,[3] o Comando Operacional de Luanda (COL), e estabilizar parcialmente a situação na capital,[3] organizando patrulhas para manter a ordem, fatos que garantiram o sucesso da Ala de Agostinho Neto durante a Conferência de Lundoji.[3] Na conferência de julho de 1974, José Jacinto Van-Dúnem foi eleito para o Comité Central do partido e tornou-se o membro mais jovem da liderança do MPLA.[2] Em março de 1975, Agostinho Neto o nomeou comissário político nacional e subchefe do Estado-Maior das FAPLA.[2] No posto de general, era a terceira pessoa na hierarquia militar do partido, depois do chefe das Forças Armadas Iko Carreira e do chefe do Estado-Maior João Luís Xietu. Em 11 de novembro de 1975, a independência de Angola foi proclamada sob o governo do MPLA. Uma longa guerra civil começou entre o novo Estado angolano e os grupos rivais. José Jacinto Van-Dúnem participou activamente nas batalhas de 1975 e 1976.[2] Integrou a delegação do MPLA ao XXV Congresso do Partido Comunista da União Soviética, de 24 de fevereiro a 5 de março de 1976, chefiada por Nito Alves.[2] Torna-se ainda mais ideologicamente orientado para o modelo soviético e para o comunismo de cariz ortodoxo.[2] A partir de março de 1976, José Jacinto Van-Dúnem começa a criticar influentes líderes do partido e do Estado angolano, especialmente uma suposta "elite branco-mestiça"[3] concentrada no Ministro da Defesa Iko Carreira e no Vice-Presidente do MPLA e Presidente do Conselho da Revolução Lúcio Lara — posteriormente o próprio presidente Neto e seu governo de forma geral se tornariam alvos de suas críticas.[3] As críticas o fazem perder influência no partido, sendo enviado para a III Região Político-Militar.[2] Em 1976, José Jacinto Van-Dúnem casa-se com Sita Valles, militante do MPLA que supervisionava o movimento juvenil e as organizações de massas do partido em Luanda.[4] Deste casamento, teve um filho que recebeu o nome de João Ernesto "Che" Valles Van-Dúnem — justamente em homenagem a Ernesto Che Guevara.[4] Foi um dos líderes do movimento Nitista, fato que fez ser destituído de suas posições no partido e no Estado entre 1976 e 1977.[3] Participou da tentativa de golpe de Estado angolano em 1977.[3] Capturado no processo de repressão à tentativa de golpe de Estado,[3] foi morto com sua esposa Sita Valles.[3] Os seus pais fugiram do pais com o seu filho, que viria a ser criado pela sua irmã Francisca, em Portugal.[8] Referências
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