João Moura
João António Romão de Moura ComMAIC (Monforte, Monforte, 24 de março de 1960[1]) é um cavaleiro tauromáquico. CarreiraJoão Moura despertou para o toureio a cavalo por influência familiar; o seu tio Cláudio Moura era ganadeiro[1] e o pai, João Augusto de Moura, foi equitador de competição[2] e tinha um grande gosto pela atividade tauromaquica, que transmitiu ao filho[3]. Tendo-se iniciado a montar a cavalo em criança, com apenas sete anos de idade estreava-se em público, Praça de Toiros de Portalegre,[4] num festejo organizado pelo liceu da mesma cidade, em 1967.[5] O clássico David Ribeiro Telles, pela suavidade e elegância da lide, e Jose Mestre Baptista, pela sua coragem e pela forma frontal com que abordava os touros, serão por essa altura as suas referencias[6]. Demonstrando uma intuição invulgar, três anos depois, a 24 de setembro de 1970, debutou na Monumental do Campo Pequeno, lidando um novilho de Norberto Pedroso, numa corrida benéfica a favor da Liga Portuguesa contra o Cancro[6]; comparte cartel com os mais destacados cavaleiros de então (João Branco Núncio, José Mestre Baptista, Manuel Conde e Luís Miguel da Veiga[5]). Numa altura em que já contava cerca de 150 atuações como amador em Portugal,[5] partiu em 1975 para Espanha, onde o público veria nele um verdadeiro fenómeno.[1] Na temporada de 1975 apresentou-se um pouco por todo o país e, por diversas vezes, em parelha com Álvaro Domecq Romero e Manuel Vidrié.[5] A 27 de maio de 1976 fez a sua apresentação em Las Ventas, Madrid. Montando o célebre Ferrolho, obteve frente a touros da ganadaria João Branco Núncio, Herdeiros[5] o prémio António Cañero,[1] destinado ao cavaleiro triunfador da Feria de San Isidro.[7] Seria a primeira e única vez que o prémio dessa feira taurina (a mais importante do mundo), tocaria a um cavaleiro tão jovem. Em 1977, alcançando o impressionante número de 83 corridas toureadas e 146 orelhas, o niño Moura é, aos 17 anos, o cavaleiro mais solicitado e premiado da Península Ibérica.[7] De novo em Portugal, a 11 de junho de 1978, na Monumental Celestino Graça, recebe a alternativa de cavaleiro tauromáquico, sendo seu padrinho David Ribeiro Telles e testemunha Mestre Batista.[3] Em 1979 volta à praça de Santarém para lidar sete toiros em solitário, um deles da mítica ganadaria Miura, que fez o seu debute em Portugal.[3] Em 1981 realiza a sua primeira digressão à América Latina, estreando-se no México e na Colômbia. Em 1994 volta a liderar o escalafón, com a cifra de 64 corridas e 95 orelhas. Em 1998, para comemorar 20 anos de alternativa, volta a lidar seis toiros a solo, desta vez no Campo Pequeno.[3] Um dos mais célebres toureiros do mundo,[1] no dizer do crítico Vasco Lucas (in João Moura, um caso!!, de José Tello Barradas[5]), João Moura aportou às regras clássicas do toureio a cavalo uma brega envolvente, que oferece ao toiro a garupa ou a espádua do cavalo, ladeia e galopa sem nunca lhe perder a cara, templa ao máximo as investidas até ganhar terreno para inverter a marcha, depois carrega a sorte e reúne em terrenos menos convencionais.[8] Um estilo figurativo que logrou ao cavaleiro alcançar os mais importantes prémios em Portugal e em Espanha, além de ter aberto por nove vezes a Porta Grande da Monumental de Las Ventas,[7] um feito sem igual entre os cavaleiros portugueses.[7] A 20 de Novembro de 1991, o Presidente da República Mário Soares agraciou-o como Comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial, na Classe Agrícola.[9] Em 1998 a Real Federación Taurina de España atribui-lhe o prémio de Mejor Rejoneador, pela mão do rei Juan Carlos de Espanha.[10] FamíliaÉ pai de João Moura Júnior[11] e de Miguel Moura,[12] ambos cavaleiros de alternativa. Condenação por crime de maus-tratos e abandono de animaisA 19 de fevereiro de 2020 foi detido pela Guarda Nacional Republicana por suspeitas do crime de maus-tratos a animais de companhia. Na sequência dessa detenção foram apreendidos 18 cães de raça Galgo Inglês, subnutridos.[13] Foi acusado do crime de maus-tratos e abandono de animais. Um dos animais acabou por morrer, pelo que João Moura arriscava até dois anos de prisão. Com dívidas avultadas ao fisco, o cavaleiro não teria dinheiro para os alimentar. A situação financeira do João Moura é muito complicada. João Moura renegociou com o Fisco uma dívida da ordem do meio milhão de euros e a sua empresa de espectáculos tauromáquicos, Verónicas e Piroetas, chegou a ter mais de 30 processos de execução fiscal e está ainda na lista de devedores ao Fisco no escalão entre 10 mil e 50 mil euros, apesar de ter fechado em 2016.[14] Em 4 de janeiro de 2022 João Moura foi acusado pelo Ministério Público de 18 crimes de maus-tratos a animais de companhia, um dos quais agravado.[15] O julgamento começou em 18 de setembro de 2023. João Moura optou por não prestar declarações no tribunal, nem aos jornalistas que lá se encontravam. A 24 de janeiro de 2024, o Tribunal de Portalegre condenou João Moura a uma pena de quatro anos e oito meses de prisão, com execução suspensa. Além disso, o tribunal decretou que João Moura teria de pagar mil euros a três associações de defesa dos animais, ficando ainda proibido de frequentar feiras e corridas de galgos durante três anos e de ter animais de companhia durante cinco. A juíza Maria Rebelo considerou que o cavaleiro tauromáquico inflingiu "de forma permanente" sofrimento aos 18 cães. O advogado António Garcia Pereira, representante da associação SOS Animal e assistente no processo, defendeu que a pena de prisão deveria ter sido efetiva, face "à gravidade, às crueldades e desumanidade" dos factos.[16] Referências
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