Intervenção russa na Segunda Guerra Civil Líbia Nota: Para outras intervenções, veja Intervenção militar na Líbia.
A intervenção russa na Segunda Guerra Civil Líbia inicia-se em 2016 e assume a forma de apoio material e o envio de mercenários russos do grupo de segurança privada Wagner para a facção do marechal Khalifa Haftar. ContextoDesde 2014 uma guerra civil ocorre na Líbia e, após 2016, o país estava dividido principalmente entre o Governo do Acordo Nacional - baseado em Trípoli, presidido por Fayez al-Sarraj e reconhecido pelas Nações Unidas a partir de março de 2016 - e o governo da Câmara dos Representantes - com sede em Tobruk, a leste do país, e cujo principal braço armado é o autoproclamado "Exército Nacional Líbio", comandado pelo general Khalifa Haftar. Posições e desafios para a RússiaMuammar Kadafi, no poder por mais de quarenta anos, destacou-se durante a Guerra Fria por uma política favorável à União Soviética, enquanto a maioria dos países africanos mantinham uma posição de não-alinhamento.[1] Sua deposição e morte durante a Primeira Guerra Civil Líbia foi vivenciada pela Rússia como uma humilhação e a perda de uma zona de influência no Mar Mediterrâneo, cuja presença está agora limitada à base naval russa de Tartus, na Síria. Em setembro de 2015, a Rússia já intervinha na Síria em apoio ao governo de Bashar al-Assad para preservar sua influência ali e manter um governo que lhes seja favorável.[2] Em 2016, a Rússia, membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, reconhece oficialmente o governo líbio de Fayez al-Sarraj, apoiado pela comunidade internacional, e se posiciona como mediadora na Segunda Guerra Civil Líbia, apelando a "todas as partes à contenção".[3][4] Entretanto Moscou considera ao mesmo tempo um apoio militar a facção rival, liderada por Khalifa Haftar, um russófono que estudou na União Soviética[5] e ex-oficial de Muammar Gaddafi, como mais suscetível de defender os interesses russos.[4] Intervenção russaApoio político ao Exército Nacional LíbioEm novembro de 2016, Khalifa Haftar foi a Moscou e se encontrou com Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, para pedir o apoio russo em suas ofensivas contra as milícias islamistas que controlam Trípoli.[6] Sergey Lavrov diz a ele que: "Nossas relações são cruciais. Nosso objetivo hoje são trazê-las à vida (...) Esperamos erradicar o terrorismo o mais rápido possível com sua ajuda”.[6] Em janeiro de 2017, Khalifa Hafter foi recebido por altos oficiais russos a bordo do porta-aviões Admiral Flota Sovetskogo Soyuza Kuznetsov, ao largo da costa de Tobruk, e participa de uma videoconferência com o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu.[7] Suas discussões estão relacionadas à luta contra o terrorismo no Oriente Médio, o fim do embargo de armas para a Líbia e o treinamento do exército líbio pela Rússia.[7] Em abril de 2019, durante a ofensiva lançada pelo Exército Nacional Líbio para tomar a capital Trípoli, Moscou bloqueia a adoção de uma declaração do Conselho de Segurança da ONU pedindo às forças do marechal Haftar que detenham o seu avanço.[4] Em fevereiro de 2020, Khalifa Haftar se reuniu novamente com o ministro da Defesa russo Sergei Choïgou para discutir a situação na Líbia.[5] Em 3 de julho de 2020, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, anunciou a reabertura de sua embaixada na Líbia. No entanto, a sede foi decidida a ser temporariamente baseada na Tunísia.[8] Apoio militar ao Exército Nacional LíbioEm março de 2017, após a entrega de armas e equipamentos pela Rússia, as forças especiais russas são enviadas para a base aérea egípcia de Sidi Barrani, perto da fronteira com a Líbia.[9] Esses militares, equipados com drones, servirão para apoiar as tropas de Khalifa Haftar em sua luta contra grupos islamistas na Batalha de Benghazi e em sua ofensiva, lançada no Crescente Petrolífero, para recuperar os terminais de Ras Lanouf e Al-Sidra controlados por uma milícia favorável ao governo de Trípoli.[9] Em abril de 2015, um relatório da ONU mencionou a presença na Líbia de 800 a 1.200 mercenários do Grupo Wagner, próximo do presidente russo Vladimir Putin.[10] O grupo privado permite a Moscou intervir nos teatros de operações no exterior sem se envolver oficialmente, já que não é o exército russo que está mobilizado.[4] De acordo com o relatório da ONU, os mercenários do Grupo Wagner oferecem suporte técnico para o reparo de veículos militares, participam de combates e das operações de influência e trazem seus conhecimentos em artilharia, controle aéreo, fornecem expertise em contramedidas eletrônicas e implantam franco-atiradores.[10] Além disso, o relatório da ONU menciona a transferência, sob a supervisão do Grupo Wagner, de combatentes sírios treinados pelo exército russo durante a Guerra Civil Síria, implantados como mercenários na Líbia.[10] Em maio de 2020, o exército dos Estados Unidos acusou a Rússia de ter enviado quatro aviões de combate na Líbia para apoiar as tropas de Khalifa Haftar.[11] Os militares estadunidenses estimam que uma nova campanha aérea está sendo preparada com "pilotos mercenários russos voando em aeronaves fornecidas pela Rússia para bombardear os líbios e controlar as bases aéreas da costa."[11] Referências
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