HumanitismoHumanitismo é nome da filosofia fictícia criada por Joaquim Borba dos Santos, o Quincas Borba, um dos mais célebres personagens de Machado de Assis, que é exposta fundamentalmente no romance Quincas Borba e de forma secundária em Memórias Póstumas de Brás Cubas. A seguir o trecho do livro em que o mesmo explica sua filosofia ao personagem Rubião:
UsoO "Humanitismo" do filósofo Quincas Borba expõe as dúvidas e perguntas do discípulo e as respostas rápidas e prontas do mestre, em oposição à maiêutica socrática.[2] Surge pela primeira vez na prosa machadiana no Capítulo 157 de Memórias Póstumas de Brás Cubas, recebendo um adendo no Capítulo 141, para comentar uma briga de cães (também é comentada bem antes, no Capítulo 109, numa conversa entre Quincas Borba e o próprio Brás Cubas). A partir disso, as ideias humanitistas acompanham Brás Cubas até o final do livro. A exposição é retomada, para um novo interlocutor e de forma mais explícita, no Capítulo 6 de Quincas Borba. Rubião, este novo interlocutor, ao contrário de Cubas, que era adepto da filosofia e sempre procurava questioná-la,[2] não compreendia suas concepções e considerava Borba um doido—passando a entender a fórmula "ao vencedor, as batatas" só ao retornar a sua cidade natal no fim de sua vida.[3] InterpretaçãoPara os críticos, o "Humanitismo" constitui-se da ideia "do império da lei do mais forte, do mais rico e do mais esperto".[4] Antonio Candido escreveu que a essência do pensamento machadiano é "a transformação do homem em objeto do homem, que é uma das maldições ligadas à falta de liberdade verdadeira, econômica e espiritual."[5] Os críticos notam que o "Humanitismo" de Machado não passa de uma sátira ao positivismo de Auguste Comte e ao cientificismo do século XIX e à teoria de Charles Darwin acerca da seleção natural.[6] Desta forma, a teoria do "ao vencedor, as batatas" seria uma paródia da ciência da época de Machado e sua divulgação, uma forma de desnudar ironicamente o caráter desumano e anti-ético da "lei do mais forte".[6] A filosofia de Quincas Borba afirma que a substância da qual emanam e para qual convergem todas as coisas é Humanitas, e que a inveja não passa do "nobre sentimento" de contemplação, nos outros, das qualidades de Humanitas.[2] O "Humanitismo", enxerga a guerra como forma da seleção dos mais aptos.[2] Humanitas se projeta por meio de quatro fases: a estática, anterior à criação; a expansiva, início das coisas; a dispersiva, surgimento do homem, e a contrativa, absorção do homem na substância original.[2] A filosofia exclui o sexo e o sofrimento, considerando o Cristianismo uma "moral de fracos" (clara intertextualidade às teorias de Nietzsche), a mulher um ser inferior, e tudo no mundo como algo bom, sendo a única coisa ruim o não nascer.[2] No Capítulo 157 de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o "Humanitismo" se proclama "a única verdade", negando a verdade essencial do Budismo, Bramanismo, Islamismo, Cristianismo e de todos os sistemas e crenças da história da humanidade.[7] Ver tambémReferências
Bibliografia
|