Grande Otelo
Grande Otelo, pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata OMC (Uberlândia, 18 de outubro de 1915 – Roissy-en-France, 26 de novembro de 1993), foi um ator, comediante, cantor, produtor e compositor brasileiro. Foi um artista de cassinos cariocas e do chamado teatro de revista, participou de diversos filmes brasileiros de sucesso, entre eles as famosas chanchadas nas décadas de 1940 e 1950, que estrelou em parceria com o cômico Oscarito, e a versão cinematográfica de Macunaíma, realizada em 1969. É frequentemente citado como um dos mais importantes atores da história do Brasil.[1][2] BiografiaDécada de 1920: infância e juventudeSebastião nasceu em 1915, filho de Antenor Prata e Maria das Dores de Souza.[3] O pai, que exercia a profissão de boiadeiro, faleceu quando Sebastião tinha dois anos. Segundo o próprio ator, sua vida artística começa em Uberlândia em 1923 ou 1924, em um picadeiro de circo:
Quando ele tinha oito anos, sua mãe então teria lhe dado de presente à mãe de Abigail Parecis, que tinha uma companhia de teatro e o levou para São Paulo.[5] Na cidade, fugiu algumas vezes, o que o levava sempre ao Juizado de Menores. Participou em 1927, ainda criança, da Companhia Negra de Revistas, fundada por Jayme Silva e pelo artista negro De Chocolat, a qual tinha também Pixinguinha como maestro.[6][7] Suas apresentações logo se tornaram conhecidas, levando ao seguinte comentário do Jornal do Commercio:
Após algumas fugas, passou por alguns tutores até ser adotado pela família do político Antonio de Queiroz.[1] Otelo estudou então no Liceu Coração de Jesus, até a terceira série ginasial.[10] Década de 1930, 1940 e 1950: teatro e cinemaAo longo das décadas de 1930 a 1950, Grande Otelo participou de numerosas peças do teatro de revista. Em 1932 ingressou na Companhia Jardel Jércolis, um dos pioneiros do teatro de revista. Lá fez apresentações, como a revista "No Tabuleiro da Baiana", na qual se destacou pelos duetos com a cantora de sambas e marchas Déo Maia.[11] Em 1936 participou da revista "Pacificação", de Ari Barroso e Carlos Bittencourt, com a" Companhia de Revistas e Operetas Margarida Max e Mesquitinha". Atuou ao lado de vários artistas, como o tenor russo Marcel Klass, o fadista Joaquim Pimentel e o dançarino excêntrico Da Ferreyra, além dos próprios Margarida Max e Mesquitinha.[12] Em 1938 integrou a nova "Companhia Negra de Operetas e Revistas", novamente associada ao artista De Chocolat. O elenco se destacou pela peça "Algemas Quebradas", que contava com outros artistas negros, como os atores Apolo Correia e De Carambola, o cantor Moacyr do Nascimento, as cantoras Aída Santos e Índia do Brasil, e a atriz Celeste Aída. O espetáculo foi muito elogiado pela crítica e pelo público, despontando como uma iniciativa bem-sucedida no teatro realizado por artistas negros.[13] Em 1939 assinou um contrato com o movimentado Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, para algumas apresentações com a famosa dançarina americana e naturalizada francesa Josephine Baker.[4][14] Em 1942 participou do filme inacabado It's All True, de Orson Welles. O intérprete e diretor norte-americano considerava Grande Otelo o maior ator brasileiro.[15] Em 1950, o ator estava no auge da carreira e já era há muito consagrado pelo público. Um comentário na revista O Cruzeiro sobre sua dimensão no mundo artístico:
Fez inúmeras parcerias no cinema, sendo a mais conhecida com Oscarito. Depois os produtores formariam uma nova dupla dele com o cômico paulista Ankito.[4] No final dos anos 1950, Grande Otelo também formou dupla em vários espetáculos musicais e também no cinema, com Vera Regina, uma negra alta que lembrava Josephine Baker. Décadas de 1960 a 1990Com o fim da parceria com Vera Regina, Otelo passou por um período de crise, até voltar ao sucesso no cinema, com sua grande atuação no personagem título de Macunaíma (1969), baseado na obra de Mário de Andrade. A partir da década de 1960, Otelo passou a ser contratado da TV Globo, emissora na qual atuou em diversas telenovelas de grande sucesso, como Uma Rosa com Amor (1972). Em 1974 estrelou ao lado de Miriam Batucada o exitoso espetáculo "Samba, coisa e tal", produzido por Haroldo Costa. Participou também do filme de Werner Herzog, Fitzcarraldo, de 1982, filmado na Amazônia. No início da década de 1990 também participou do humorístico Escolinha do Professor Raimundo. Seu último trabalho foi na telenovela Renascer, em 1993, pouco antes de morrer. MorteGrande Otelo morreu em 26 de novembro de 1993, aos 78 anos de idade, devido a um infarto fulminante, quando desembarcava no Aeroporto de Paris-Charles de Gaulle, em Roissy-en-France, a 25 km de Paris, de onde seguiria para o Festival dos Três Continentes, em Nantes, onde seria homenageado em um painel sobre "negritude no cinema".[17] Seu corpo foi enterrado no Cemitério São Pedro, em Uberlândia, sua cidade natal.[18] Vida pessoalSua vida teve várias tragédias. Seu pai morreu esfaqueado e a mãe era alcoólatra.[19] Em 1948 casou-se com sua antiga companheira Lucia Maria Pinheiro, mãe do pequeno Elmar (apelidado de "Chuvisco").[20] No ano seguinte, Lucia matou a criança de seis anos a tiros e, em seguida, cometeu suicídio.[21] Em 1954, casou-se com Olga Vasconcellos, permanecendo em uma relação de 20 anos.[22] Seu último casamento ocorreu com a dançarina Joséphine Hélene, durando 13 anos. Teve quatro filhos, um deles o também ator José Prata, o "Pratinha", que iniciou carreira artística aos 14 anos. Atuou na versão de 1986 da novela Sinhá Moça (no papel de Bentinho), além de participar do seriado As Aventuras do Tio Maneco, da TVE, e das peças "O Pagador de Promessas" e “A Turma do Pererê”. Na década de 2010, Pratinha trabalhava com conserto de celulares. Outro dos filhos de Otelo, Carlos Sebastião Vasconcelos Prata, na mesma época, havia se tornado morador de rua.[23] LegadoAcervo Grande OteloEncontra-se disponível na internet grande parte do Acervo Grande Otelo, recebido oficialmente pela Fundação Nacional da Arte (FUNARTE) em dezembro de 2007.[24] O material estava há vários anos em um apartamento no bairro da Tijuca, guardado em caixas de papelão, nas quais foram descobertos manuscritos, livros de autoria do ator, e outros com dedicatórias de amigos e personalidades reconhecidas da cultura brasileira; letras de música compostas por ele e parcerias, discos em vinil, fitas-cassete com os mais variados conteúdos (entrevistas, músicas e programas apresentados pelo artista); prêmios e homenagens (troféus, placas, diplomas e certificados) recebidos durante a sua carreira, roteiros de cinema, TV, teatro, rádio, shows, partituras, correspondências, livros, monografias, poemas, fotos, obras de arte, recortes de jornais e revistas.[25] A Fundação Grande Otelo (FGO) é a detentora dos direitos sobre o nome, imagem, obra e acervo do ator, após doação dos direitos por seus herdeiros. O trabalho de restauração e catalogação do material se iniciou em 2004, pela produtora carioca Sarau Agência de Cultura Brasileira. O acervo foi fundamental para o conteúdo do Projeto 90 anos de Grande Otelo, idealizado pela mesma produtora, fornecendo informações inéditas para a biografia do artista, realizada pelo escritor Sérgio Cabral. O acervo serviu de base também para a criação de um site, um documentário e um espetáculo teatral. Após o término do projeto, o acervo restaurado, higienizado e digitalizado foi entregue à Funarte, oficialmente no dia 17 de dezembro. O público tem acesso físico ao material desde fevereiro de 2008. CarreiraNo cinema
Na televisão
Principais prêmios e indicações
NotasReferências
Ligações externas
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