Estátua de Borba Gato
A Estátua de Borba Gato é um monumento em homenagem ao bandeirante Borba Gato. Localiza-se na Praça Augusto Tortorelo de Araújo na cidade de São Paulo, distrito de Santo Amaro. A obra é composta por argamassa, trilhos e pedras, revestida de pedras coloridas de basalto e mármore. HistóriaO Monumento de Borba Gato foi projetado e começou a ser construído em 1957, no próprio quintal de Júlio Guerra, que situava-se na Avenida João Dias. A estátua foi planejada para ser inaugurada em 1960, data em que Santo Amaro celebraria seu IV Centenário. Porém, em 1958, a morte de um de seus filhos, Jairo, afogado, iria fazer com que a obra atrasasse um pouco.[1] Já vandalizado algumas vezes,[2][3][4][5] o monumento é considerado um dos mais polêmicos de São Paulo e divide opiniões entre a população, atraindo elogios e críticas. Para alguns, o monumento marca um período de extrema violência dos bandeirantes aos povos indígenas do Brasil, e consideram um erro o explorador ser homenageado e ser visto como um "herói". Para outros, o monumento tem valor artístico histórico e cultural pois representa a exploração e formação de São Paulo, até do Brasil. Há também quem o considere de gosto duvidoso ou kitsch.[6][7] Além de causar certo estranhamento, entre os moradores da cidade, e de suscitar polêmicas estéticas ou mesmo ser eventualmente ridicularizada, por suas dimensões colossais,[8] o monumento passou a ser também alvo de reiterados protestos, nos últimos anos. Segundo o ator Paulo Cesar Pereio, um dos autores do vídeo satírico Borba Gato, o bagulho maravilha[8]: "Borba Gato ficou famoso por massacrar índios e estuprar índias. Enriqueceu explorando ouro em Minas Gerais. Chegou a ser acusado de assassinato mas, como se tornou rico, escapou impune das acusações".[9] Protestos e vandalismosEm setembro de 2016, a estátua foi pichada.[10][11] Em julho de 2021, o monumento foi incendiado por Paulo Roberto da Silva Lima (conhecido como Paulo Galo, líder dos Entregadores Antifascistas de São Paulo) e Danilo da Silva Oliveira, autodeclarados integrantes do movimento Revolução Periférica. Ambos se apresentaram voluntariamente à polícia. Danilo foi liberado, mas Paulo Roberto foi preso. A mulher de Paulo, Géssica de Paula Silva Barbosa, também foi presa — embora não tivesse participado do ato — tendo sido liberada após passar dois dias na prisão.[12][13][14][15][16][17][18][19][excesso de citações] À imprensa, Paulo Galo declarou: "O ato foi para abrir um debate. Em nenhum momento, foi feito para machucar alguém ou querer causar pânico. Que as pessoas agora decidam se querem ter uma estátua de 13 metros de altura que homenageia um genocida e um abusador de mulheres".[20][21] O ato foi registrado por alguns jornalistas que fizeram algumas imagens e onde foi dada a seguinte declaração: “Não podemos permitir que esse símbolo do Genocídio se perpetue. Borba Gato fez parte do passado, mas não precisa fazer parte do nosso presente. Homenageá-lo é perpetuar o culto ao assassino que ele foi. É uma afronta a todos os espíritos dos homens e mulheres que ele matou. Manter Borba Gato em seu pedestal significa uma autorização para que, amanhã, sejam construídos monumentos para homenagear o genocida Jair Bolsonaro ou os milicianos que atuam nas favelas de todo o País, semeando a morte”.[22] Já o escritor Eduardo Bueno afirma que quem participou da destruição das missões jesuíticas e do aprisionamento em larga escala dos Guaranis — povo mais afeito ao trabalho agrícola — foi o sogro de Borba Gato, Fernão Dias. "Os índios da região de Minas Gerais, onde Borba Gato circulava, eram os chamados 'índios de língua travada', os índios não Tupis, que você não conseguia reduzir à escravidão com lucro efetivo. Ele [Borba Gato] já tinha desistido de escravizá-los, mas não por uma questão de bondade ou não porque os bandeirantes não escravizavam, mas porque ele não via utilidade em escravizá-los. [...] Circunstancialmente, ele não precisou escravizar índios. Ele estava lá por uma busca mineral."[23] Eduardo Bueno também chamou o ato de vandalismo: "além de queimar estátua ser uma coisa estúpida por si, ainda por cima queimaram a estátua errada (...) O Borba Gato não foi um caçador de índio (...) Sou totalmente contrário ao vandalismo e ao ataque aos monumentos."[24] Sobre o fato de ter repercutido que um empresário irá pagar a reforma da estátua, a historiadora Deborah Neves, doutora em História pela Unicamp, disse que "esse apego à memória dos bandeirantes também tem a ver com um componente xenófobo, de construção de uma identidade de que São Paulo é maior que o resto, do que o próprio país." Ainda segundo a historiadora, "vamos continuar permitindo essa interrupção do debate enquanto a gente trata isso como um dano ao patrimônio e não como em um momento de se pensar a quem a nossa sociedade continua prestando homenagens."[25] Segundo um levantamento divulgado pelo Fantástico em agosto de 2021, São Paulo tem 41 monumentos (incluindo Borba Gato) que são considerados controversos. No mesmo ano, a vereadora paulistana Luana Alves (PSOL) iniciou um projeto de lei onde pede que tais esculturas sejam direcionadas a museus ou que apresentem intervenções educativas contando as ações feitas pelas figuras dos monumentos, além da instalação de obras para representar lideranças negras e indígenas.[26] ConstruçãoA obra conta com 10 metros de altura (13 metros contando seu pedestal) e pesa 20 toneladas. Em seu interior há um trilho de bonde, para sustentar sua estrutura. Após preparar os moldes em gesso, Júlio Guerra começou a estruturar seu gigante com argamassa, trilhos e pedras, revestindo de pedras coloridas de basalto e mármore vindas de diversos cantos do país, os mármores do rosto especificamente, vieram de Portugal. O escultor, que não optou pelo bronze, material comumente para estátuas e monumentos, precisou arrumar uma solução criativa para a estrutura de sua obra. Como o Borba Gato é grande e os trilhos de bonde eram recorrentes na região, já que o modal começava a ser deixado de lado, Guerra decidiu que aquele material seria o ideal para sustentar sua obra.[27][28] Referências
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