Disputa (escolástica)
Nota: Para o assunto iconográfico, veja Jesus entre os doutores. Para outros significados, veja Disputa.
No sistema escolástico de educação da Idade Média, disputas (em Latim: disputationes, singular: disputatio) ofereciam um método formal de debate designado para descobrir verdades na teologia e nas ciências. Regras fixas governavam o processo: elas demandavam dependência na tradição escrita de autoridade e o completo entendimento de cada argumento por ambas as partes. Disputas medievaisDisputas inter-religiosasUma categoria significativa de disputas ocorreu entre teólogos cristãos e judeus como forma de debate tanto teológico quanto filosófico, e também de proselitismo. Frequentemente, o lado cristão era representado por um convertido judeu. Cristãos acreditavam que apenas a recusa dos judeus a aceitarem Cristo estava no caminho para a Segunda vinda de Cristo.[carece de fontes] A única maneira do lado judeu 'vencer' o debate era forçar um empate levando o lado cristão a uma posição em que era necessário negar o Velho Testamento para vencer, cometendo heresia.[carece de fontes] De acordo com Michael J. Cook, "Como 'vencer' o debate poderia prejudicar a segurança da comunidade judaica como um todo, considerações políticas certamente entravam no que os disputantes judeus diziam ou recusavam-se a dizer publicamente … Escritos oficiais destes procedimentos, então, podem não reproduzir o que realmente transpirou; em alguns lugares o que foi registrado não foi o que aconteceu, de fato, mas sim polêmica revisão cristã após o fato.".[1]
Surgimento do Protestantismo (1518-1550)Martinho Lutero iniciou a Reforma Protestante demandando uma disputa sobre suas 95 teses, em 31 de Outubro de 1517. Apesar de apresentada como um chamado para uma disputa escolástica comum, o debate oral nunca ocorreu.[carece de fontes] Disputa de Heidelberg (1518)Durante a convenção realizada em Heidelberg em Abril de 1518, Lutero dirigiu uma disputa em 28 teses teológicas e 12 filosóficas. Ele foi bem sucedido em vencer contra Johannes Brenz e o dominicano Martin Bucer. Disputa de Leipzig (1519)João Maier envolveu-se em uma disputa literária com Andreas Karlstadt e desafiou seu adversário a um debate público em Leipzig, apesar da faculdade da universidade abrir um protesto, e dos bispos de Merseburgo e Brandemburgo despacharem proibições e uma excomunhão, a disputa tomou lugar sob a proteção do Duque Jorge da Saxônia. Maier foi a Leipzig com um acompanhante; Lutero e Karlstadt entraram na cidade com um exército de acólitos, a maioria estudantes. De 27 de junho a 4 de Julho de 1519, Maier e Karlstadt debateram a questão do livre-arbítrio e nossa habilidade de cooperar com a graça divina. Maier forçou seu antagonista a fazer admissões que atordoaram a nova doutrina luterana, e o próprio Lutero veio à frente para atacar o dogma da supremacia romana por direito divino. Ao debate sobre a primazia papal, sucederam-se discussões sobre Purgatório, indulgências, penitência, etc.. Em 14 e 15 de Julho, Karlstadt continuou o debate sobre o livre-arbítrio e boas obras. Finalmente, o Duque Jorge declarou a disputa encerrada, e cada disputante partiu, como era costume, clamando a vitória. Das duas universidades às quais a decisão final foi reservada, a Universidade de Erfurt recusou-se a intervir e retornou os documentos; a Universidade de Paris julgou sobre os escritos de Lutero, anexando a cada uma de suas opiniões uma censura teológica. Lutero ganhou o apoio de Filipe Melâncton. A Disputa de Leipzig foi a última ocasião onde o costume ancestral de jurar antecipadamente não avançar nenhum princípio contrário à doutrina católica foi observado. Em todos os debates subsequentes entre católicos e protestantes, o texto puro da Bíblia foi tomado como autoridade. Isto colocou os católicos em uma posição desvantajosa. Este foi particularmente o caso na Suíça, onde Ulrico Zuínglio e seus seguidores organizaram vários debates unilaterais sob a áugide das câmaras das cidades já convertidas ao protestantismo. Assim foram as disputas de Zurique (1523), Baden (1526) e Berna (1528). Em todas elas o resultado foi a abolição do culto católico e na sua opinião a profanação de igrejas e instituições religiosas. Dieta de Ratisbona (1541)O Imperador Carlos V tentou trazer os problemas religiosos da Alemanha a um "término rápido e pacífico" através de conferências entre católicos e protestantes. Os protestantes proclamaram sua determinação a aderir à Confissão de Augsburgo e, além disso, formalmente repudiaram a autoridade do pontífice romano e "não admitiriam nenhum outro juiz da controvérsia senão Jesus Cristo"; tanto o Papa Paulo III quanto Martinho Lutero previram fracasso. Entretanto, como o imperador e seu irmão, o Rei Fernando, persistiam no propósito de um julgamento, o papa autorizou seu núncio Giovanni Girolamo Morone a dirigir-se a Speyer onde o encontro fora convocado para Junho de 1540. Como a praga assolava aquela cidade a conferência aconteceu em Haguenau. Nem o Eleitorado da Saxônia nem o Condado de Hesse puderam ser convencidos a comparecer. Filipe Melâncton estava ausente por doença. Os líderes dos teólogos protestantes foram Martin Bucer, Johannes Brenz, Oswald Myconius, Ambrosius Blarer e Urbanus Rhegius. Os líderes católicos foram Johann Faber, Bispo de Viena, e João Maier. João Calvino estava presente, então exilado de Genebra; ele apareceu como um agente confidencial do Rei da França. Após um mês, o Rei Fernando prorrogou a conferência para reunir-se novamente em Worms em 28 de Outubro. Sem se abalar pelo fracasso da conferência Haguenau, o imperador fez esforços mais vigorosos para o sucesso do colóquio seguinte em Worms. Ele despachou seu ministro Antônio Perrenot de Granvela e Ortiz, seu enviado, para a corte papal. Este último trouxe com ele o jesuíta Pedro Fabro. O papa enviou o bispo de Feltre, Tommaso Campeggio, irmão do cardeal, e ordenou Morone a participar. Eles não deveriam tomar parte nos debates, mas foram para assistir a eventos de perto e relatar a Roma. Granvela abriu o evento em Worms em 25 de Novembro, com um discurso eloquente e conciliador. Ele descreveu os males acontecendo na Alemanha, "uma vez a primeira de todas as nações em fidelidade, religião, piedade e adoração divina", e advertiu seus ouvintes que "todos os males que virão sobre ti e ao teu povo se, pelo apego teimoso a noções preconcebidas, vocês impedirem a renovação da concórdia, serão atribuídos a vocês como os seus autores." Em nome dos protestantes, Filipe Melâncton retornou "uma resposta intrépida"; ele jogou toda a culpa em cima dos católicos, que se recusariam a aceitar o novo Evangelho. Uma grande quantidade de tempo foi gasta em dissensões sobre questões de ordem; finalmente foi decidido que Maier deveria ser o porta-voz dos católicos e Melâncton dos protestantes. A disputa começou em 14 janeiro de 1541. A Confissão de Augsburgo foi a base da conferência; a Confissão de Augsburgo de 1540 era um documento diferente da Confissão de 1530, tendo sido alterada por Melâncton para adequar-se à sua visão sacramentarista da Eucaristia. Maier e Melâncton batalharam quatro dias sobre o tema do pecado original e suas consequências, e uma fórmula foi elaborada a que ambas as partes concordaram, os protestantes com uma reserva. Neste ponto Granvela suspendeu a conferência, a ser retomada em Ratisbona, onde o imperador havia convocado uma dieta ao qual prometeu comparecer em pessoa. Esta dieta, onde o imperador antecipou resultados brilhantes, foi iniciada 5 de Abril de 1541. Como legado do papa compareceu o Cardeal Contarini, assistido pelo núncio Morone. Calvino estava presente, ostensivamente para representar Luneburgo, mas na realidade para fomentar a discórdia pelo interesse da França. Como coparticipantes na conferência religiosa que se reuniu simultaneamente, Carlos nomeou João Maier, Julius von Pflugk, e Johann Gropper para o lado católico, e Felipe Melâncton, Martin Bucer, e Johann Pistorius para os protestantes. Um documento de origem misteriosa, o "Livro de Ratisbona", foi apresentado por Joaquim, Eleitor de Brandemburgo como base do acordo. Esta compilação, descobriu-se mais tarde, foi resultado de conferências secretas realizadas durante a reunião em Worms, entre os protestantes Bucer e Wolfgang Capito de um lado, Gropper e um secretário do imperador chamado Veltwick do outro. Ele consistia de vinte e três capítulos, nos quais foi feita uma tentativa de formular as doutrinas controversas em que cada parte podia encontrar os seus próprios pontos de vista neles expressos. O quanto Carlos e Granvela tiveram participação na sua elaboração é desconhecido; eles certamente sabiam e aprovaram. O "Livro" foi apresentado pelo eleitor de Brandemburgo ao julgamento de Lutero e Melâncton; seu tratamento desdenhoso foi um mau augúrio para o seu sucesso. Quando foi mostrado para o legado e Morone, o último era por rejeitá-lo sumariamente; Contarini, depois de fazer uma série de emendas, notavelmente no artigo 14 enfatizando o dogma da Transubstanciação, declarou então que "como uma pessoa privada", ele poderia aceitá-lo; mas como legado, ele deveria consultar os teólogos católicos. Maier garantiu a substituição de uma exposição mais concisa da doutrina da Justificação. Assim emendado, o "Livro" foi apresentado aos coparticipantes por Granvela para consideração. Os quatro primeiros artigos, tratando do homem antes da queda, o livre arbítrio, a origem do pecado e o pecado original, foram aceitos. A batalha começou de fato quando o quinto artigo, sobre justificação, foi atingido. Após longos e veementes debates, uma fórmula foi apresentado por Bucer e aceita pela maioria, redigida de forma a ser capaz de suportar uma interpretação católica e uma luterana. Naturalmente, não foi satisfatória para ambas as partes. A Santa Sé condenou e administrou uma repreensão severa a Contarini para não protestar contra ela. Não alcançaram-se maiores sucessos quanto aos outros artigos de importância. No dia 22 de Maio a conferência terminou, e o imperador foi informado quanto aos artigos acordados e aqueles em que acordo era impossível. Carlos ficou muito desapontado, mas ele estava impotente para efetuar mais nada. O decreto conhecido como Ínterim de Ratisbona, publicado em 28 de julho de 1541, ordenando a ambas as partes a observância dos artigos acordadas pelos teólogos, foi desconsiderada por ambos os lados. Igualmente sem resultado foi a última das conferências convocadas por Carlos em Ratisbona, em 1546, pouco antes da eclosão da Guerra de Esmalcalda.[5] Disputas de Akbar, o GrandeAkbar, o Grande, o terceiro dos imperadores mogóis da Índia (1542-1605), mostrou uma atitude intolerante com os hindus e de outras religiões durante os primeiros anos de seu reinado, entretanto mais tarde exerceu tolerância para com as religiões não-islâmicas revertendo algumas das estritas leis da charia.[6][7][8] Ele então iniciou uma série de debates religiosos onde estudiosos muçulmanos debateriam assuntos religiosos com os hindus, jainistas, zoroastristas e jesuítas católicos romanos portugueses. Ele tratou estes líderes religiosos com grande consideração, independentemente de sua fé, e reverenciava-os. Disputas na BíbliaA palavra "disputa" ocorre duas vezes na Bíblia do Rei Jaime.
Na ficção
Ver tambémBibliografia
Referências
Ligações externas
Este artigo incorpora texto da Catholic Encyclopedia, publicação de 1913 em domínio público. |