O dialeto da serra amazônica,[1] também chamado dialeto do arco do desflorestamento, ou sotaque dos migrantes,[2][3] é um dialeto do português formal brasileiro (variação sociolinguística regional), empregado em cindo dos nove estados brasileiros da Amazônia Legal.[2][4][5] É erroneamente considerado como parte da amazofonia (dialeto nortista).[6][7]
Conhecido dentro da região geográfica como "sotaque dos migrantes",[3] não é um dialeto coeso devido a peculiaridade da formação.[2] Sua característica marcante é a forte pronúncia do "s", de forma semelhante ao paulista, e outras peculiaridades.[8] Diferencia-se do dialeto tradicional amazônida e nordestino, por ter uma pronuncia e vocalização mais próxima do caipira e do sertanejo.[6]
Os termos "Serra Amazônica" ou "Amazônico das Serras" foram usados inicialmente para identificar este dialeto nos trabalhos do I Colóquio de Letras da UFPA (2010).[2][9]
Regiões
Este dialeto é empregado nas seguintes regiões: sudeste do estado do Pará;[2][4] sudoeste do Maranhão; norte do Mato Grosso; Rondônia, e; centro e norte de Tocantins.[2][5] Desde meados da década de 1970, quando houve uma imigração desordenada de nordestinos, goianos, sudestinos e, sulistas[10] para a região, atraídos pelas ofertas de terras baratas e acessíveis em abundância.[11] O dialeto, inclusive, quase que sobrepõe sua área de influência na fronteira agrícola Amazônica.
Léxico
Segue algumas palavras e expressões e o significado delas:[12]
Dialeto da serra amazônica |
Significado
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Broco |
Sem equilíbrio
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Cê |
Você
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Pão de sal |
Pão francês
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Lapada, panada |
Pancada ou batida muito forte
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Grafite |
Lapiseira
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Ponta de grafite |
Grafite
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Catiroba |
Pessoa mal-cuidada consigo mesma
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Inãn! |
Expressão de negação, usado no lugar "ah não!"
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Mérmã, mermão |
Redução e junção de "minha irmã/meu irmão"
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Estribado, buiado |
Que tem muito dinheiro
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Azeite |
Óleo de coco
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Ó |
Expressão para afirmar ou chamar atenção para algo
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Beijú |
Tapioca
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Geladinha |
Sacolé, chope, din-din
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Gongo, matipó |
Diplópode, Bicho-do-coco
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Apelar |
Perder a paciência rapidamente
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Prego |
Indivíduo inconveniente, indivíduo que aprende com muita dificuldade
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Milho da pipoca, bicho da pipoca, mí-dibuiado (milho debulhado) |
Algo muito bom, legal
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Patinha |
Regador de plantas
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Fólio |
Folia, alegria
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Muringa, moringa |
Recipiente de armazenar água, Cantil
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Rabeta |
Pequena embarcação motorizada
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Enfastiado |
Sem fome, cansado
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Pila |
Ladrão, assaltante
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Melado, mé |
Cachaça
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Cobrão |
Alguém que dorme muito
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Referências
- ↑ 10º Encontro Norte-Nordeste de estudantes de Pedagogia. Paper sobre as características do Pará e da cidade de Cametá. Fevereiro de 2012
- ↑ a b c d e f «Dialetos do Português Brasileiro». The Fools. Consultado em 21 de novembro de 2024
- ↑ a b «Cultura Amazônica». XPG-UOL [ligação inativa]
- ↑ a b BATISTA, Marcos dos Reis. «Considerações acerca do intercultural no ensino do Português Brasileiro para falantes de outras línguas: Por Que e Para Quê?» (PDF). Faculdade Pan-Americana
- ↑ a b Gomes, Altair Martins (8 de janeiro de 2016). «A escrita oralizada dos anúncios populares em Ceilândia : uma perspectiva ecolinguística». doi:10.26512/2015.03.T.19120. Consultado em 21 de novembro de 2024
- ↑ a b SILVA, Idelma Santiago da (2006). Fronteiras Culturais: alteridades de migrantes nordestinos e sulistas na região de Marabá (PDF). Marechal Cândido Rondon: Revista Espaço Plural - Unioeste. ISSN 1518-4196. Resumo divulgativo
- ↑ SAGHIE, Najla Fouad (org.) (2010). Variedades da Língua Portuguesa no Brasil. Brasília: Centro Universitário Unieuro
- ↑ «Fala NORTE». Fala UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo. Consultado em 25 de setembro de 2012. Arquivado do original em 22 de dezembro de 2012
- ↑ BRITO, Heloíde Lima de; SANTOS, Mayra Suany Ferreira dos. (et. all.). Os Dialetos Paraenses. I Colóquio de Letras da FPA: Do Dialeto à Literatura Paraense: Conhecendo o Universo Linguístico-Literário Regional. Capanema: Faculdade Pan-Americana, 2010.
- ↑ BAHIA, Sônia Cristina Arias. Plano Estadual de Saúde do Pará: 2012-2015. Belém: Ministério Público do Estado do Pará, 2012. p. 22.
- ↑ «O que é Amazônia?». Associação de Defesa do Meio Ambiente Araucária (AMAR). Consultado em 27 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 22 de dezembro de 2012
- ↑ ATZINGEN, Noé von (2004). Vocabulário regional de Marabá. [S.l.]: Fundação Casa da Cultura de Marabá. 127 páginas