Coração de Dom Pedro IO coração de Dom Pedro I é o coração do rei português Dom Pedro IV e imperador brasileiro Dom Pedro I, preservado desde sua morte, em 1834. O órgão é mantido em um bocal de vidro, com formol, na Igreja de Nossa Senhora da Lapa. O recipiente é mantido em uma urna, fechada a chave.[1] O coração é considerado uma relíquia pelo governo português.[2] O corpo de Dom Pedro I está sepultado em São Paulo, na cripta do Monumento à Independência. Por decisão do próprio monarca, como um de seus últimos pedidos em vida, o coração foi separado e mantido em Portugal.[1] Dom Pedro I pediu que o coração fosse preservado no Porto por conta da relevância da cidade na disputa pelo trono português entre Dom Pedro I e seu irmão Dom Miguel.[3] Após a morte do imperador por tuberculose em setembro de 1834, uma série de acordos reais e eclesiásticos foram feitos para que, em fevereiro de 1835, o coração fosse enfim enviado para o Porto, guardado em um vaso de prata dourada, envolto em um estojo forrado de veludo negro, dentro da Igreja de Nossa Senhora da Lapa.[4] Em 2022, após sua exposição no contexto do Bicentenário da Independência do Brasil, foi noticiado que o órgão encontra-se com aspecto inchado, possivelmente por conta do material inicialmente usado em sua conservação pelo médico João Fernandes Tavares, antes de ser mantido em formol.[5] As condições do coração são objeto de investigação na área de antropologia forense.[3] HistóriaAntecedentesEm 23 de setembro de 1834, na véspera de sua morte, D. Pedro I escreveu uma carta voltada ao público brasileiro,[nota 1] em que declara o seu desejo em relação ao destino de seus restos mortais após a morte:[6]
Dom Pedro não fora o primeiro monarca a determinar, ainda em vida, que seu coração fosse separado do corpo e preservado ou enterrado. Ainda durante a Idade Média, monarcas como Roberto I da Escócia, Ricardo I de Inglaterra e Henrique I de Inglaterra tiveram seus corações enterrados em localidades diferentes do resto de seus corpos.[8][9][10] A morte de D. Pedro e a chegada à Cidade do PortoApós a morte de D. Pedro por tuberculose, sua filha, Maria II de Portugal, decidiu cumprir o desejo do pai.[11] Conforme narrado por Amélia de Leuchtenberg, viúva de Dom Pedro, em uma carta para sua filha Januária de Bragança, foi realizada uma autópsia do corpo, revelando um pulmão direito inchado e pesado, e um coração de aparência dilatada.[12][13] A exumação dos restos mortais de D. Pedro, realizada em 2013 por uma equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, determinou que parte das costelas do lado direito do corpo haviam sido cortadas, provavelmente para a retirada do coração durante o momento da autópsia e do embalsamamento.[14] No entanto, o finado imperador não havia deixado claro em qual parte da Cidade do Porto seu coração deveria ser guardado, e logo uma disputa ocorreu. A rainha, D. Maria II, e o então bispo de Lisboa, Francisco de São Luís Saraiva, haviam escolhido a Igreja da Lapa, que havia sido frequentada por frequência por D. Pedro. No entanto, a Câmara Municipal do Porto favorecera a capela de São Vicente, na Sé do Porto.[15] Por fim, a decisão foi tomada em fevereiro de 1836 de que a relíquia do coração seria enfim guardada na Lapa. Em 4 de fevereiro, o coração partiu pelo rio Tejo em direção à Cidade do Porto a bordo do navio de guerra Jorge IV, comandado pelo coronel Baltazar de Almeida Pimentel e uma guarda de honra composta por 70 soldados.[15] Chegando à Ribeira após 3 dias de viagem, a comitiva foi recebida com uma cerimônia oficial, onde a urna contendo o coração foi entregue à Câmara do Porto, junto de sua chave.[16] A urna original era composta por uma parte exterior feita de mogno e uma parte interior feita de prata. Posteriormente, o coração foi colocado dentro de um vaso de vidro selado hermeticamente, que fica contido dentro da urna de prata.[16] Bicentenário da IndependênciaNo contexto das celebrações do bicentenário da Independência do Brasil, o coração de Dom Pedro I foi transportado ao Brasil e exposto em Brasília.[17] A vinda do órgão para o Brasil foi idealizada por Nise Yamaguchi na primeira metade de 2022, em diálogo com o presidente Jair Bolsonaro, e os descendentes de Dom Pedro, o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança e Bertrand de Orléans e Bragança.[18] O deputado, tetraneto de D. Pedro I, teria viajado para Porto, onde entrou em contato com os responsáveis pela Igreja da Lapa e com membros da Câmara Municipal.[18] A Embaixada do Brasil em Lisboa e o consulado brasileiro envolveram-se na negociação, propondo que o coração fosse emprestado de forma temporária para a realização das festividades do bicentenário.[19] Tanto a Câmara Municipal quanto a Ordem Terceira da Lapa não demonstraram oposição à proposta, desde que fosse assegurada a segurança do coração. O presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, teria sido consultado, e sugerido que o empréstimo da relíquia fosse de fato efetuado.[19] Para garantir que o coração não fosse sofrer danos durante o transporte para o Brasil, foi encomendado um estudo pericial por parte do Instituto Nacional de Medicina Legal, realizado por pesquisadores Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.[19][20] O estudo concluiu que não haveria nenhum risco à relíquia, desde que transportado em uma câmara pressurizada no avião.[19] Assim, em sessão do dia 18 de julho, os vereadores da Câmara Municipal do Porto aprovaram unanimemente a proposta de empréstimo do coração. A proposta aprovada considera que todos os custos referentes ao transporte serão responsabilidade do governo brasileiro, e estabelece a base legal para a efetivação do translado da relíquia.[20] No dia 22 de julho, o coração foi trazido de Portugal em uma avião da Força Aérea Brasileira, e recebido com honrarias de chefe de Estado, transportado no Rolls-Royce Silver Wraith presidencial, sendo escoltado pela 1.º Regimento de Cavalaria de Guardas. Por fim, foi realizada uma sessão oficial com o presidente Jair Bolsonaro na rampa do Palácio do Planalto.[21] A solenidade e a exposição do coração de Dom Pedro I foram alvo de críticas, especialmente pelo custo do translado e a morbidez das homenagens.[22] Foi também criticado o fato de, com a vinda do órgão ao Brasil, não ser respeitado o último pedido de Dom Pedro I, já que ele havia solicitado que o coração estivesse em Portugal.[5] InscriçõesNa urna de prata que contém o coração preservado de Dom Pedro, há duas inscrições, uma em latim e a outra em português. A inscrição latina, se traduzida para o português, contém o seguinte texto:
A outra inscrição, escrita em português, é retirada de um discurso de Dom Pedro direcionado aos portuenses:
Notas
Referências
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