O Armazém do Espingardeiro, também conhecido por Oficina de Selaria ou Quartel da Coroa, é um edifício histórico utilizado como um núcleo museológico, situado no centro da cidade de Lagos, em Portugal.
Descrição
O edifício forma um gaveto entre a Travessa da Coroa e à Rua Júlio Dantas,[1] no lado meridional de uma zona que corresponde ao antigo núcleo medieval de Lagos.[2]
O imóvel é de um só piso,[3] e tem uma planta de forma rectangular, com o interior organizado num espaço único de grandes dimensões, com cerca de 160 m².[2] Um dos elementos mais destacados é o brasão no cunhal do edifício, com as Armas de Portugal.[2] É coberto por um telhado em tesouro.[1]
No interior foi instalado um núcleo museológico, o Centro de Interpretação da Evolução Urbana de Lagos, dedicado ao arquitecto Rui Mendes Paula.[4] Este centro foi organizado em três salas, cada uma subordinada a uma fase da história de Lagos: a primeira corresponde ao período desde o domínio romano até aos Descobrimentos, passando pela Idade Média, a segunda explica a evolução da cidade durante a época moderna, e a terceira debruça-se sobre o intervalo desde o século XVIII até aos princípios do século XXI.[4] Na exposição apostou-se principalmente na comunicação e na interactividade, de forma a facilitar o entendimento dos conteúdos, principalmente para os utilizadores mais novos.[3]
História
Foi construído em 1665, data que é identificada por uma inscrição no próprio imóvel, e que corresponde aos finais do primeiro mandato de Nuno da Cunha Ataíde como Governador da Praça Forte de Lagos.[2] Foi construído por ordem de D. António de Almeida, segundo Conde de Avintes, que foi Governador do Reino do Algarve até 1667.[4] Constitui assim um dos mais importantes edifícios anteriores à reconstrução pombalina da cidade, após a devastação causada pelo Sismo de 1755.[2] Originalmente, funcionava como selaria, sendo parte do grupo de edifícios militares em Lagos, conhecido como Quartel da Coroa.[5] Com efeito, apresenta várias semelhanças com o Armazém Regimental, como as dimensões e forma da planta, e a presença do brasão com as armas de Portugal, pelo que terão sido construídos segundo o mesmo programa de expansão e racionalização dos edifícios de suporte à guarnição da cidade.[2] Posteriormente foi utilizado como oficina e armazém do espingardeiro,[4] e depois como arrecadação, embora estas funções não tenham provocado alterações significativas na sua traça primitiva.[2] Foi propriedade do Exército Português até 1980,[1] tendo depois passado para a Cruz Vermelha Portuguesa.[5]
Porém, devido às suas várias utilizações, o edifício foi-se progressivamente degradando,[2] estando totalmente arruinado nos princípios da Década de 1990.[5] Neste período, já existia um plano para a sua reabilitação.[5] Neste sentido, a Câmara Municipal de Lagos, através do seu Gabinete do Centro Histórico promoveu o restauro do imóvel e a sua reutilização, existindo em 1992 um plano para a recuperação do edifício, por parte do gabinete de Rui Mendes Paula.[5] Foram avançadas várias hipóteses para a ocupação do espaço, incluindo como sede de junta de freguesia.[2] Com efeito, em 2001 esteve planeada a instalação da sede da Junta de Freguesia de Santa Maria no edifício,[6] tendo sido cedido pela Junta de Freguesia à Câmara Municipal em 2004, com o fim de o transformar num núcleo museológico, como parte da Rede do Plano Museológico de Lagos.[7] Assim, o edifício foi alvo de obras de restauro, que restituíram a sua aparência original, e no interior foi instalado um núcleo museológico, como parte de um programa do município para a construção de vários espaços deste tipo, que, segundo o presidente da câmara, Júlio Barroso, iriam constituir «uma forma de cada vez dar a conhecer Lagos aos próprios residentes e a todos os nossos visitantes».[4] O espaço foi inaugurado em 25 de Outubro de 2008, durante as comemorações do Dia do Município em Lagos[4] A cerimónia contou com a presença de vários elementos do executivo municipal, e vários familiares de Rui Mendes Paula, incluindo o filho, Frederico Paula, que considerou a dedicação do núcleo museológico ao seu pai como «a homenagem mais justa que se poderia ter feito a uma pessoa que fez tanto pela cidade de Lagos», uma vez que o restauro do Armazém do Espingardeiro e a sua transformação num espaço cultural tinha sido uma das suas principais ambições.[4] Também discursou o presidente da Câmara Municipal, Júlio Barroso, que classificou a dedicação do edifício a Rui Mendes Paula como «um acto de justiça para um homem que viu sempre mais longe».[4]
A primeira proposta de classificação do imóvel foi feita em 22 de Outubro de 1986,[2] mas só em 2013 é que o Armazém do Espingardeiro foi classificado, como Imóvel de interesse municipal, através do Edital n.º 660, de 18 de Junho.[8] Porém, em Setembro de 2009 este espaço já se encontrava encerrado, devido à falta de visitantes, tendo um dos principais motivos para esta situação sido a sua localização, numa zona limítrofe e de acesso difícil.[9] Assim, uma coligação dos partidos Partido Social Democrata e CDS-PP defendeu, como parte do seu programa eleitoral, a transferência do núcleo museológico para o antigo edifício dos Paços do Concelho de Lagos.[9] O edifício foi oficialmente encerrado em 2018.[10] Em 2022, o Museu Municipal estava a planear a reabertura do Armazém do Espingardeiro sob a sua alçada, mas com funções diferentes, no sentido de explicar uma fase mais contemporânea da história da cidade.[10]
↑ abc«Armazém do Espingardeiro». Equipamentos Museológicos. Câmara Municipal de Lagos. Consultado em 30 de Janeiro de 2021. Arquivado do original em 17 de Julho de 2019
↑ abcdefghij«Oficina do Espingardeiro». Património Cultural. Direcção-Geral do Património Cultural - Ministério da Cultura. Consultado em 29 de Janeiro de 2021