Alboácem Ali ibne Ismail/Ismael Alaxari[1][2] (em árabe: ابو الحسن علي ابن إسماعيل اﻷشعري, lit.'Abū al-Hasan Alī ibn Ismā'īl al-Ash'arī'; Baçorá, 874 — Bagdá, 936) foi um estudioso e teólogoshafi'i que fundou a escola de dogmas de fé que leva o seu nome (axari).[3]
Biografia
Alaxari nasceu em Baçorá,[4]Iraque, um descendente do famoso companheiro de Maomé, Abu Muça Axari.[3] Quando jovem, estudou sob a orientação de al-Jubba'i, um renomado professor da teologia e filosofia mutazilita.[5] Ele permaneceu um mutazilita até seu quadragésimo ano, quando Alaxari viu o profeta Maomé em um sonho três vezes no Ramadã. Maomé disse-lhe para apoiar o que estivesse relacionado a si mesmo, isto é, as tradições (hádices).[6] Após esta experiência, ele abandonou os mutazilitas e tornou-se um de seus adversários mais notáveis, empregando os métodos filosóficos que aprendeu.[4] Alaxari, então, passou os anos restantes de sua vida envolvido no desenvolvimento de seus pontos de vista e na composição de controvérsias e argumentos contra seus ex-colegas mutazilitas. Provavelmente escreveu mais de uma centena de obras, das quais apenas quatro ou cinco são conhecidas por terem sobrevivido ao tempo.[7]
Pensamentos
Depois de abandonar a escola Mu`tazila, Alaxari formulou a teologia do islamismo sunita.[8] Foi seguido em seu intento por um grande número de importantes acadêmicos, a maioria dos quais pertencia à escola Shafi'i de jurisprudência islâmica.[9] Entre os mais famosos estavam: Abul-Hassan Albaili, Abacar Albaquilani, al-Juwayni, Rasis e Algazali. Assim, a escola de Alaxari tornou-se, juntamente com a Maturidi, as principais escolas que refletem as crenças da suna.[9]
Em consonância com a tradição sunita, Alaxari manteve a visão de que um muçulmano não deve ser considerado um incrédulo por conta de um pecado, mesmo que fosse algo grave como beber vinho roubado. Isto era contrário à posição defendida pelos carijitas.[10]
Alaxari também acreditava que não era permitido se opor violentamente a um líder, mesmo que este abertamente desobedecesse aos mandamentos da lei sagrada.[10]
Grande parte das obras de Alaxari registra os seus pontos de vista contrários à escola Mu`tazila. Em particular, ele rejeita seus ex-companheiros por acreditarem que o Alcorão foi criado e que as ações foram feitas por pessoas segundo sua própria vontade.[9] Refutou também a escola Mu`tazila por negar que Alá pode ouvir, ver e falar. Alaxari confirmou todos esses atributos afirmando que eles diferem da audição, visão e fala das criaturas, incluindo o homem.[9]
O estudioso axari Ibn Furak contabiliza as obras de Alboácem Alaxari em trezentas, e o biógrafo Ibn Khallikan, em cinquenta e cinco;[12] Ibn Asāker dá os títulos de noventa e três delas, mas somente um punhado dessas obras, nos campos da heresiografia (descrição das heresias) e teologia, chegaram até nossos dias. As três principais são:
Maqālāt al-islāmīyīn,[13] compreende não apenas uma relação de seitas islâmicas, mas também um exame dos problemas em kalām, ou teologia escolástica, e os nomes e atributos de Alá; a maior parte destes trabalhos, parece ter sido concluída antes de sua conversão dos mu`tazilites.
Kitāb al-ibāna 'an usūl al-diyāna,[15] é de acordo com os seus discípulos uma falsificação[16] atribuída a Alaxari; uma suposta exposição de seus pontos de vista teológicos e argumentos contra as doutrinas mu`tazilites onde ele se retratou de suas crenças anteriores. Contudo, os salafistas geralmente alegam que ela marca o seu último arrependimento e seu retorno às crenças do "salaf". O livro foi supostamente escrito após ele trocar as suas crenças ortodoxas do Ahl al-Sunna pelas crenças heterodoxas antropomórficas após seu encontro com o proscrito sectário al-Hasan ibn 'Ali al-Barbahari e foi principalmente uma tentativa de trazer de volta ao Islã seus antigos seguidores.[17]
Notas
↑Alves, Adalberto (2014). Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Leya. p. 113. ISBN9722721798
↑Richard M. Frank, Early Islamic Theology: The Mu'tazilites and al-Ash'ari, Texts and studies on the development and history of kalām, vol. 2, pg. 172. Farnham: Ashgate Publishing, 2007. ISBN 9780860789789