O termo Allāh é derivado de uma contração do artigo definido al- ("o") com ilāh ("divindade", "deus").[10] Cognatos da palavra "Allāh" existem em outras línguas semíticas, tais como hebraico e aramaico.[11] A forma correspondente em aramaico é Elah (אלה), mas sua forma enfática é Elaha (אלהא). É escrita como ܐܠܗܐ (ʼĔlāhā) no aramaico bíblico e ܐܲܠܵܗܵܐ (ʼAlâhâ) no siríaco conforme utilizado pela Igreja Assíria, ambos significando apenas "Deus".[12] O hebraico bíblico utiliza a formal plural (com sentido singular) Elohim (אלהים), mas também raramente usa a forma singular Eloah (אלוהּ). Na escritura sikh de Guru Granth Sahib, o termo Allah (Punjabi: ਅਲਹੁ) é usado 37 vezes.[13]
Na Arábia pré-islâmica, incluindo a região de Meca, Allah era provavelmente um termo utilizado pelos árabes politeístas para se referenciar a um deus criador ou à entidade suprema do panteão deles.[10][20] É possível que o termo não fosse utilizado para se referir a uma única divindade como no Islã. O termo pode ter tido noção vaga na religião então praticada em Meca.[10][21] O nome do pai de Maomé era Abedalá (ʿAbd-Allāh), que significava "servo de Alá".[21] Os árabes cristãos, judeus e monoteístas pré-islâmicos (Hanifs) utilizaram a palavra "Alá" e o termo Bismillah ("em nome de Alá") para se referir à entidade suprema deles em inscrições em pedras séculos antes do advento do Islã.[22]
Uma vez que o hebraico e o árabe são línguas semíticas próximas, é comumente aceito que Alá e o termo bíblico Elohim são derivações cognatas de mesma origem, assim como Eloah, palavras hebraicas usadas para significar "o Deus" e "deuses", respectivamente. Elohim e Eloah derivam da raiz El ("forte"), provavelmente oriundo do genérico ʾĒl ("deus"), contraído com o ugarítico’lhm (apenas consoantes), que significaria "filhos de El".[3] Nas escrituras judaicas, Elohim é utilizado como um título descritivo para Deus, cujo nome pessoal é YHWH, Elohim também é utilizado para se referir aos deuses pagãos.[3]
A palavra em aramaico para "Deus", utilizada pelos assírios, é ʼĔlāhā ou Alaha. Os falantes de árabe das religiões abraâmicas, como cristãos e judeus, usam a palavra Alá para se referir a Deus.[2] Os árabes cristãos da atualidade não possuem outra palavra se não Alá para se referir a Deus.[23] Eles usam o termo Allāh al-ab (الله الأب) para Deus-pai, Allāh al-ibn (الله الابن) para Deus-filho e Allāh al-rūḥ al-quds (الله الروح القدس) para Deus-Espírito Santo. Até mesmo na língua maltesa, de origem árabe, falada quase que exclusivamente por católicos, a palavra Alá (Alla) é utilizada para se referir a Deus.
Os árabes cristãos tem utilizado duas formas de invocação que foram afixadas no início de suas obras escritas. Eles adotaram o conceito muçulmano de bismillāh e criaram seu próprio bismillāhtrinitarizado no início do século VIII.[24] O bismillāh muçulmano se traduz para "Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso". O bismillāh trinitarizado se traduz para "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Um Deus". As invocações em siríaco, latim e grego não incluem as palavras "Um Deus" no final. Esta adição foi acrescentada para enfatizar o aspecto monoteísta da crença na Trindade e também para torná-la mais palatável aos muçulmanos.[24]
Segundo Marshall Hodgson, parece que em tempos pré-islâmicos alguns árabes cristãos faziam peregrinações à Caaba, à época um templo pagão, para honrar Alá como Deus criador do universo.[25] Algumas escavações arqueológicas levaram à descoberta de inscrições pré-islâmicas e túmulos feitos por cristãos falantes de árabe nas ruínas de uma igreja em Umm el-Jimal, no norte da Jordânia, contendo referências a Alá como o Deus cristão; alguns túmulos traziam a inscrição Abd Allah, que significa "servo de Alá".[26][27][28]
O termo Alá pode ser encontrado diversas vezes nas listas de mártires cristãos na Arábia, conforme indicado por antigos documentos siríacos com os nomes dos mártires da era dos reinos Himiarita e Axum.[29][30] Um líder cristão chamado Abedalá ibne Abacar ibne Maomé foi martirizado em Najrã em 523; ele usava um anel que dizia "Alá é o meu Senhor".[29][31] Numa inscrição de martírio cristão datada de 512, referências a Alá são encontradas tanto em árabe quanto aramaico; ela se inicia com a seguinte declaração: "Com a ajuda de Alá ...".[29][32][33]
Nos Evangelhos pré-islâmicos, o nome usado para Deus era Alá, conforme evidenciado pela descoberta de algumas versões do Novo Testamento em árabe no norte e no sul da Península arábica.[34][35][36] Os árabes cristãos do período pré-islâmico teriam como grito de guerra "Ya La Ibad Allah" ("Ó servos de Alá") para convocar uns aos outros para a batalha.[37] A palavra Alá também foi utilizada em poemas de poetas cristãos pré-islâmicos na Síria e no norte da Arábia.[38][39][40]
Segundo a crença islâmica, Alá é o nome próprio de Deus[41] e a submissão humilde a sua vontade, ordens e mandamentos é o pivô da fé muçulmana.[1] Segundo o Corão, "ele é o único Deus, criador do universo e juiz da humanidade".[1][4] "Ele é único (wāḥid) e inerentemente uno (aḥad), todo piedoso e onipotente".[1] O Corão declara "a realidade de Alá, seu mistério inacessível, seus vários nomes e suas ações em nome de suas criaturas".[1]
Na tradição islâmica, Deus tem 99 nomes (al-asmā’ al-ḥusná, literalmente "os melhores nomes" ou "os nomes mais bonitos"), cada um do qual evoca uma característica distinta de Alá.[4][42] Todos eles se referem ao mesmo Deus, o supremo e todo-abrangente Alá.[43] Entre os 99 nomes de Deus, os mais famosos e utilizados incluem "o misericordioso" (al-Raḥmān) e "o compassivo" (al-Raḥīm).[4][42] Algumas tradições afirmam que existe um centésimo nome que seria o próprio nome de Deus, ou seja, Alá.[44]
A maioria dos muçulmanos usam a frase em árabe in shā’ Allāh ("se Deus quiser") em referência a eventos futuros.[45] As devoções discursivas muçulmanas começam com a invocação da bismillāh, traduzida como "em nome de Deus".[46] Algumas frases de louvor a Deus são preferidas pelos muçulmanos, tais como Subḥān Allāh ("Sagrado seja Deus"), al-ḥamdu lillāh ("Louvado seja Deus"), lā ilāha illā Allāh ("Não há outra divindade além de Deus") e Allāhu akbar ("Maior é Deus") como forma de exercício devocional em memória de Deus (dhikr).[47] Numa prática sufita conhecida como dhikr Allah ("em memória de Deus"), o sufita repete e contempla o nome (ou os nomes) de Alá enquanto controla sua respiração.[48]
Maomé teria utilizado o termo Alá ao debater com árabes pagãos, judeus e cristãos, como forma de estabelecer um entendimento mútuo para o nome de Deus. Gerhard Böwering, no entanto, duvida dessa afirmação.[41] Para ele, ao contrário do politeísmo árabe pré-islâmico, Deus no Islã não está associado a nenhuma outra divindade, assim como não há afinidades entre Alá e jinn.[41] Os árabes pré-islâmicos acreditavam num destino cego, poderoso, inexorável e insensível sobre a qual o homem não tinha controle. Isso foi substituído pela noção islâmica de um Deus poderoso, mas providente e misericordioso.[1] Segundo Francis Edwards Peters, "o Corão sustenta, os muçulmanos acreditam e os historiadores afirmam que Maomé e seus seguidores veneram o mesmo Deus dos judeus. O Alá do Corão é o mesmo Deus criador que fez a aliança com Abraão." No entanto, o Corão retrata Alá como mais poderoso e mais remoto do que YHWH, que segue de perto os israelitas.[15]
Para Muhammad Saalih al-Munajjid, um muçulmano sempre que se referir à divindade, deve usar a palavra Alá, tal e qual, porque se transformou num símbolo para os muçulmanos e algo que os distingue, e ajuda a evitar qualquer confusão entre o que os crentes significam e o que os outros significam quando dizem "Deus" (God).[49] Alguns estudiosos afirmam que o nome Alá não deve ser traduzido por qualquer outro nomeː "...é um nome próprio. Não há equivalente em nenhuma linguagem".[50]
Também Robert Spencer, verificando que a maioria dos ocidentais traduz Alá por Deus, é de opinião que há sérias diferenças entre as visões cristã, judaica e muçulmana de Deus - graves o suficiente para justificar e manter uma distinção entre elas.[51]
Como palavra incorporada nos idiomas
Línguas europeias
Algumas línguas que geralmente não usam o termo Alá para se referir a Deus contêm expressões populares que incorporam a palavra. Por exemplo, as palavras ojalá em espanhol e oxalá em português, emprestadas do árabe إن شاء الله.[52] A palavra significa, literalmente, "se Deus quiser", no sentido de "assim espero". Isso se deu devido à presença muçulmana na Península Ibérica. O poeta alemão Mahlmann foi um dos pioneiros a utilizar o termo Alá na literatura alemã, embora permanece pouco claro se ele pretendia transmitir o pensamento islâmico. Em inglês, o termo começou a ser utilizado nos estudos de religião comparada no século XIX. Alguns anglo-muçulmanos utilizam a palavra "Alá" sem traduzi-la para inglês.[53]
Línguas malaia e indonésia
Os cristãos na Malásia e na Indonésia usam a palavra Alá para se referir a Deus em malaio e indonésio. A maioria das traduções da Bíblia traduzem o termo hebraico Elohim para Alá.[54] Isso remonta às traduções feitas por Francisco Xavier no século XVI.[55][56] O primeiro dicionário de holandês-malaio, escrito por Albert Cornelius Ruyl, Justus Heurnius e Caspar Wiltens em 1650 traziam Alá como tradução para a palavra holandesa "Godt" ("Deus").[57] Ruyl também traduziu o Evangelho de Mateus em 1612 para o malaio (primeira tradução da Bíblia para uma língua não-europeia, um ano após a Versão do Rei Jaime),[58][59] impressa na Holanda em 1629. Depois ele traduziu o Evangelho de Marcos, publicado em 1638.[60][61]
Em 2007, no entanto, o governo da Malásia criminalizou o uso da palavra Alá por não-muçulmanos. Dois anos depois, no entanto, a Suprema Corte da Malásia revogou a lei, considerando-a inconstitucional. Embora a palavra tivesse sido usada por cristãos no país por mais de quatro séculos, a controvérsia começou após o jornal católico The Herald utilizá-la. O governo acabou recorrendo da decisão do tribunal e a Suprema Corte segurou seu veredito até o julgamento do recurso. Em outubro de 2013, o tribunal acabou mantendo a censura do governo.[62] No início de 2014, o governo malaio confiscou mais de 300 bíblias devido á utilização do termo num contexto cristão.[63] No entanto, o uso da palavra Alá por cristãos não é proibido nos estados de Sabah e Sarawak.[64][65] A razão principal para a não-proibição nesses dois estados é que eles não são regidos pela lei islâmica, assim como aqueles da Malásia Peninsular.[9]
Em outras línguas
Em outras línguas, Alá é soletrado da mesma forma:
A palavra Allāh é quase sempre escrita sem o álef na segunda vogal (ā). Isso se dá devido ao fato de que ela começou a ser utilizada antes da gramática árabe começar a utilizar o sinal para indicar a tonicidade das palavras. Em português, asturiano, galego e espanhol, no entanto, a última vogal recebe um acento para indicar sua tonicidade.[66]
Unicode
O Unicode possui um code point reservado para a palavra Allāh ﷲ = U+FDF2, no bloco de apresentações árabes A,[67] cujo uso é desencorajado atualmente. Ao invés disso, a palavra Allāh deve ser representada por suas letras individuais em árabe, que irão automaticamente transformá-la na ligadura desejada. A variação caligráfica da palavra, usada como Brasão de armas do Irã está presente no Unicode, na seção de símbolos miscelâneos, no code point U+262B (☫).[carece de fontes?]
↑Segundo a Columbia Encyclopaedia: "Derivada de uma antiga raiz semítica referindo-se ao Divino e usada no canaanita, El, no mesopotâmico, ilu, e no bíblico, Elohim e Eloah, a palavra Allah é usada por todos os muçulmanos, cristãos, judeus e outros monoteístas que falam árabe.
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