Transtorno de aprendizagem não verbalTranstorno de aprendizagem não verbal (TANV) é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por deficiências visuoespaciais e na comunicação não verbal, embora o indivíduo apresente habilidades verbais e inteligência dentro dos parâmetros normais ou acima da média. Foi descrito inicialmente nos anos 1970 a partir de testes de desempenho neuropsicológicos. Este distúrbio ainda não foi reconhecido na edição do DSM-5 ou na Classificação Internacional de Doenças versão 10, embora vários pesquisadores se dediquem à sua descrição e caracterização[1]. Embora o nome sugira um transtorno específico do desenvolvimento, o TANV é uma condição complexa, envolvendo várias áreas do desenvolvimento[2]. Esta condição é descrita como muito semelhante à Síndrome de Asperger [3]. Alguns consideram que os diagnósticos do TANV e da Síndrome de Asperger referem-se a perspectivas diferentes de um mesmo tipo de desordem, mas que diferem no grau de severidade, sendo os indivíduos com Síndrome de Asperger um grau mais severo [3]. Outros consideram que o TANV é o perfil neuropsicológico de indivíduos com a Síndrome de Asperger[1]. CaracterísticasPessoas com TANV apresentam um bom desenvolvimento da linguagem e vocabulário, boa capacidade de memorização, boa retenção auditiva, atenção e visualização dos detalhes, às vezes leitura precoce, excelente habilidde de soletração entre outras características[2] São identificadas disfunções nas seguintes áreas:
Podem ainda apresentar problemas de processamento sensorial em quaisquer sentidos. CausasAs causas do TANV ainda não são bem estabelecidas. Inicialmente acreditava-se que devia-se a alterações no hemisfério direito do cérebro, com base nas diferentes funções dos hemisférios cerebrais. Do ponto de vista das funções cerebrais, o hemisfério direito é responsável pelo processamento sequencial das informações, identificação de pessoas, objetos e animais, da lateralidade de atividades motoras, da praxia, da fala e compreensão linguística, das habilidades de aritmética, leitura e escrita, bem como da expressão de emoções positivas. Por sua vez, o hemisfério direito desenvolve as funções de processamento de informações simultâneas, do reconhecimento de categorias de pessoas e objetos, compreensão musical, percepção visuoespacial, da manutenção do gesto e postura, da compreensão prosódica, do raciocínio lógico matemático, da expressão de emoções negativas e de percepção das emoções[1]. Em 1995, Rouke propôs o modelo da substância branca para explicar o transtorno: o sistema nervoso central é formado primariamente pela substância cinzenta (as células nervosas) e substância branca (axónios mielinizados responsáveis pela condução de impulsos nervosos rápidos). A substância branca, portanto, é o meio pelo qual a informação é transmitida no interior dos hemisférios cerebrais e entre eles[2]. Observa-se a ocorrência de maior quantidade de substância branca e maior quantidade de conexões intra-regionais no hemisfério direito, enquanto o hemisfério esquerdo tem mais quantidade de substância cinzenta e maior quantidade de conexões inter-regionais. A maturação cerebral ocorre primeiramente no hemisfério direito, de forma que lesões cerebrais que ocorram na fase perinatal afetam mais o lado direito do cérebro[1]. Recente estudo com crianças portadoras de TANV, Síndrome de Asperger e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) identificaram alterações anatômicas diferenciadas no corpo caloso entre os portadores de TANV. O corpo caloso é uma espessa faixa de fibras no cérebro que conecta os dois hemisférios cerebrais. É responsável pela comunicação entre eles e também serve as áreas do cérebro associadas às funções visuoespaciais. A área total do corpo caloso de todos os grupos apresentou-se similar. Entretanto, nos indivíduos com TANV foi identificado um esplênio mais reduzido. O esplênio é uma parte posterior do corpo caloso. O corpo caloso menor foi associado ao QI de execução mais baixo, mas não ao QI verbal. Este mesmo estudo avaliou também imagem por ressônancia magnética funcional, comparando o comportamento de indivíduos diagnosticados com a Síndrome de Asperger e TANV sob estímulos de interação social. Observou-se que as áreas cerebrais ativadas foram diferentes entre os dois grupos. Isto sugere que o TANV é um diagnóstico distinto da Síndrome de Asperger ou TDAH[4]. Diversos autores atribuem um efeito cascata ao TANV: o núcleo das dificuldades provém das dificuldades na percepção tátil e visual, das habilidades psicomotoras complexas e dificuldades em lidar com novas circunstâncias. Os demais déficits neurospsicológicos, na função executiva, acadêmicos, linguísticos e sociais seriam resultantes deste núcleo. Esta hipótese ainda necessita de maior comprovação empírica[2]. Há relatos também de condições médicas que podem provocar danos ao hemisfério direito[2]:
SubtiposOs diversos sintomas presentes no TANV podem permutar gerando diferentes manifestações comportamentais entre os indivíduos afetados. Especialistas dividem estas manifestações em subtipos com a finalidade de diagnóstico e tratamento adequado. Entretanto, ainda não há consenso entre os pesquisadores sobre estas classificações. Com a finalidade de assegurar aos indivíduos o acesso às intervenções necessárias, Broitman e Davis[2] propõem uma subdivisão, baseados em sua experiência clínica. Esta subdivisão considera que todas as pessoas com TANV apresentam dificuldades viso-espaciais e executivas em relação aos seus pares, sendo estas dificuldades a componente primária do TANV. Subtipo 1[2]O indivíduo apresenta dificuldades viso-espaciais e na função executiva. Podem apresentar também deficiências sociais e acadêmicas leves, mas não a ponto de ser uma discrepância significativa que requeira intervenção. Subtipo 2[2]As dificuldades viso-espaciais e executivas impactam significativamente no seu funcionamento social. Crianças neste subtipo necessitam de avaliações formais e programas de tratamento, como terapia da linguagem semântico pragmática, treino de habilidades sociais. Subtipo 3[2]As dificuldades viso-espaciais e executivas são bastante significativas, impactando a vida acadêmica, principalmente nas áreas de matemática, mas podem afetar também a leitura avançada, a compreensão, a expressão escrita, geografia e ciências relacionadas à matemática. Intervenções e apoio acadêmico são necessários. Subtipo 4[2]Este subtipo engloba os indivíduos com deficiências nas funções viso-espacial e executiva, dificuldades sociais e déficits acadêmicos em todas as áreas, necessitando de intervenções e suporte. IntervençõesO apoio de profissionais especializados para crianças com TANV pode envolver o psicólogo escolar; psicopedagogo ou neuropsicólogo para ajudar no desenvolvimento intelectual, processamento da informação ou neuropsicológico e função executiva; professores da educação especial para assegurar o desempenho acadêmico; fonoaudiólogo para dificuldades semântico-pragmáticas; e terapeuta ocupacional para as dificuldades motoras[2]. Pode-se recorrer ainda à coordenação escolar para intervenções nas habilidades sociais e/ou encaminhamento ao psiquiatra para o caso de comorbidades que necessitem de medicação[2]. Referências
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