Tectónica(português europeu) ou tectônica(português brasileiro), do baixo latimtectonicus, por derivação do gregoτεκτονικός, "relativo à construção",[1] é o ramo da geologia que investiga a estrutura e propriedades da crusta planetária e a sua evolução ao longo do tempo, dedicando-se em particular ao estudo das forças, processos e movimentos ocorridos numa dada região e que deram origem às estruturas geológicas e à geomorfologia nela existentes. Relaciona-se directamente com a geologia estrutural, mas a tectónica estuda as estruturas geológicas a uma escala muito maior, em geral regional ou mesmo planetária. Quando aplicada à Terra é por vezes referida por geotectónica(português europeu) ou geotectônica(português brasileiro).
Descrição
A tectónica estuda os processos que controlam a estrutura e propriedades da crusta planetária, por vezes designados por tectonismo, e sua evolução ao longo do tempo. Em especial, descreve os processos de formação de montanhas, o crescimento e comportamento dos cratões, os resistentes núcleos antigos dos continentes, e as maneiras como as placas relativamente rígidas que constituem camada externa da Terra interagem entre si.
Outros importantes campos de estudo são os processos que levam à sismicidade e que controlam o tipo e magnitude dos sismos, bem como os processos que determinam o aparecimento de vulcanismo, em especial dos arcos vulcânicos que afectam de forma directa parte significativa das populações mundiais.
Desde a década de 1960, a tectónica de placas tornou-se a teoria dominante para a explicação da origem e forças responsáveis pelas características tectónicas dos continentes e bacias oceânicas.
Para além dos movimentos associados às placas tectónicas, os movimentos tectónicos são em geral subdivididos em:[2]
Movimento orogenético — horizontal, que pode ser entendido como o conjunto de processos que levam à formação ou rejuvenescimento de montanhas ou cadeias de montanhas produzido principalmente pelo diastrofismo (dobramentos, falhas ou a combinação dos dois), ou seja, pela deformação compressiva da litosfera continental;
Movimento epirogenético — vertical, os movimentos da crosta terrestre cujo sentido é ascendente ou descendente, atingindo vastas áreas continentais, porém de forma lenta, inclusive ocasionando regressões e transgressões marinhas.
Principais tipos de regime tectónico
Em função dos movimentos relativos entre as rochas e dos processos subjacentes a esses movimentos são em geral reconhecidos três tipos de regime tectónico: (1) tectónica extensional, associada a ambientes geológicos em que ocorre o alongamento e adelgaçamento da crusta, como é o caso dos limites divergentes entre placas e nas regiões de formação de riftes; (2) tectónica contracional, associada a ambientes geológicos onde ocorre o engrossamento da crusta por aumento da pressão lateral, como é o caso dos limites convergentes entre placas tectónicas e das regiões sujeitas a fenómenos de orogenia; e (3) tectónica transcorrente, associada ao movimento lateral relativo de blocos da crosta ou litosfera, como ocorre ao longo das falhas transformantes.
Tectónica extensional
A tectónica extensional está associado ao alongamento e adelgaçamento da crusta ou da litosfera. Este tipo de tectónica é encontrado ao longo dos limites divergentes das placas tectónicas, nos riftes continentais, durante e depois de um período de colisão continental em que ocorra o espalhamento lateral da crusta mais espessa formada, nas curvas de libertação em falhas geológicas transcorrentes, nas bacias de retro-arco e no lado continental de sequências geológicas de margem passiva onde uma camada de desprendimento esteja presente.
Tectónica contracional
A tectónica contracional, também conhecida pela designação inglesa thrust tectonics, está associada a ambientes geológicos onde ocorre o encurtamento e engrossamento da crusta ou litosfera. Este tipo de ambiente tectónica é encontrado em zonas de colisão continental, de obducção e subducção e nas curvas de retenção de falhas transcorrentes e no lado oceânico de sequências de margem passiva onde uma camada de desprendimento esteja presente.
Tectónica transcorrente
A tectónica transcorrente (em inglês strike-slip tectonics) está associada com o movimento lateral relativo de blocos adjacentes da crusta ou litosfera. Este tipo de tectónica é encontrada ao longo falhas transformantes oceânicas e continentais, em falhas geológicas onde ocorram deslocamentos laterais associados a sistemas de falhas extensionais e axiais, nas regiões onde ocorra o cavalgamento de placas tectónicas em resultado de colisão oblíqua e em zonas com capacidade de deformação na região frontal de uma área de colisão.
Tectónica de placas é o ramo da geologia que estuda a estrutura e dinâmica da litosfera, uma estrutura com características mecânicas bem definidas constituída pela crusta terrestre e pela camada superior do manto terrestre. A litosfera por sua vez está dividida em placas separadas, cada uma das quais capaz de se mover em relação às restantes por deslizamento sobre a camada mantélica plástica subjacente, a astenosfera, num processo que tem como força motriz a contínua perda de calor do interior da Terra.
A maioria dos movimentos de deformação da litosfera estão relacionados, directa ou indirectamente, com a interacção entre placas e com os seus limites, entendendo-se como tal as regiões de contacto entre placas diferentes.
São reconhecidos três tipos de limites inter-placas: (1) divergentes, ao longo dos quais as placas se afastam entre si e nova litosfera é formada através do processo de expansão do fundo oceânico; (2) transformantes, onde as placas deslizam entre si em direcções paralelas ao limite; e (3) convergentes, onde as placas convergem e a litosfera é consumida através do processo de subducção.
Os limites convergentes e transformantes formam as maiores descontinuidades estruturais da litosfera e são responsáveis pela grande maioria dos sismos de grande magnitude (Mw > 7). As regiões adjacentes aos limites convergentes e divergentes albergam a maioria dos vulcões da Terra, sendo exemplo disso o conjunto de limites convergentes que dá origem ao Anel de Fogo do Pacífico e a longa linha de vulcões que marca o conjunto de limites divergentes que constitui a Dorsal Média Atlântica.
Outros campos de estudo da tectónica
Neotectónica
Designa-se por neotectónica o estudo dos movimentos e deformações da crusta terrestre devidas a processos geológicos e geomorfológicos que ocorrem e são recorrentes nos tempos geológicos recentes.[3] O termo também é utilizado para os movimentos e deformações que ocorreram no período geológico mais recente, sendo esse período designado por período neotectónico. Em consequência, o período geológico precedente é frequentemente referido por período paleotectónico.
O termo neotectónica foi cunhado por Vladimir Obruchev, em artigo publicado em 1948, no qual definiu o seu campo de estudo como os «movimentos tectónicos recentes ocorridos na parte superior do Terciário (Neógeno) e no Quaternário, que tiveram papel essencial na origem da topografia moderna».
Tectonofísica
A tectonofísica é o ramo da geologia estrutural que estuda os processos físicos associados à deformação da crusta e do manto numa escala espacial que varia desde os grão minerais à tectónica de placas.
Sismotectónica
A sismotectónica é o ramo da tectónica que estuda a relação entre a ocorrência de sismos, o tectonismo e as falhas geológicas em determinada região. Tem como objectivo identificar as falhas geológicas responsáveis pela actividade sísmica e os mecanismos que os desencadeiam, recorrendo para tal à análise da relação da tectónica regional com os eventos sísmicos com registo instrumental ou conhecidos por registo histórico ou evidências geomorfológicas. A informação recolhida é utilizada para quantificar o risco sísmico da região estudada.
Tectónica dos depósitos salinos
A tectónica dos depósito salinos é um ramo da geologia estrutural que estuda a geometria estrutural e os processos de deformação associados à presença de espessuras significativas de sal-gema nas formações geológicas. Esta especialização resulta das características específicas associadas a estes depósitos, e em especial aos domos de sal, nomeadamente a sua baixa densidade em relação aos materiais geológicos encaixantes, que não aumenta com a pressão resultante do soterramento, e a elevada plasticidade e ductilidade dos despósitos salinos.
Tectónica planetária
As técnicas utilizadas no estudo do tectonismo na Terra têm sido aplicada ao estudo de outros planetas e das suas luas, sendo um importante ramo da astrogeologia no contexto das ciências planetárias.
Edward A. Keller (2001) "Activit Tectonics: Earthquakes, Uplift, and Landscape Prentice Hall; 2nd edition, ISBN 0-13-088230-5
Stanley A. Schumm, Jean F. Dumont and John M. Holbrook (2002) Active Tectonics and Alluvial Rivers, Cambridge University Press; Reprint edition, ISBN 0-521-89058-6
Robert L. Bates, Julia A. Jackson (1984) Dictionary of Geological Terms, Prepared by the American Geological Institute; 3rd edition, ISBN 0-385-18101-9