Svetlana Alexijevich
Svetlana Aleksandrovna Aleksiévitch, também grafado como Svetlana Alexandrovna Alexievitch (em bielorrusso: Святлана Аляксандраўна Алексіевіч; Stanislav, RSS Ucrânia, 31 de maio de 1948) é uma escritora e jornalista bielorrussa. Foi galardoada com o Nobel de Literatura de 2015 "pela sua escrita polifónica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época".[1] BiografiaFilha de dois professores, sendo o pai bielorrusso e a mãe ucraniana, Svetlana Aleksievitch nasceu em Stanislav, hoje Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, em 1948, mas cresceu na Bielorrússia. Estudou jornalismo na Universidade de Minsk a partir de 1967 e depois de completar o curso mudou-se para Beresa, na província de Brest, para trabalhar no jornal e escola locais. Durante esse tempo debateu-se entre a tradição familiar de trabalhar no ensino e no jornalismo. Trabalhou depois como repórter na imprensa local de Narowla, no voblast de Homiel. Desde os seus dias de escola já tinha escrito poesia e artigos para a imprensa escolar. Também foi jornalista da revista literária Neman de Minsk, para a que escreveu ensaios, contos e reportagens. O escritor bielorrusso Ales Adamovich inclinou-a definitivamente para a literatura apoiando um novo género de escrita que denominou "novela coletiva", "novela-oratório", "novela-evidência", "gente dançando com lobos" ou "coro épico", entre outras fórmulas[2]. De fato, nos seus textos a meio caminho entre a literatura e o jornalismo usa a técnica de collage justapondo testemunhos individuais, com o que consegue aproximar-se mais à substância humana dos acontecimentos. Usou este estilo pela primeira vez no seu livro A Guerra Não Tem Rosto de Mulher (1983), em que a partir de uma série de entrevistas aborda o tema das mulheres russas que participaram na Segunda Guerra Mundial[2][3]. Aleksiévitch utiliza de uma literatura oralizada, de modo a tentar captar tanto os silêncios quanto as pausas de rememoração do trauma. O enorme silêncio, característico da própria dificuldade de narrar o trauma, evidencia-se em sua obra por exemplo na grande ocorrência de reticências - na edição brasileira de "As últimas testemunhas", há uma média de 6 reticências por página. Conforme nota Portal,[4] "As reticências possuem os mais diversos usos, mas sua recorrência maior em Svetlana é para indicação de pausas como se para prolongar certa incompletude existencial do relato, como se permanecesse no ar até a próxima oração. É como se brotasse uma espécie de temporalidade em suspenso que nos faz refletir, de modo a imaginarmos a entonação utilizada pela testemunha e o ato da entrevista. As reticências produzem uma temporalidade ética sem hipertrofiá-la em seu sentido." Nesse sentido, Aleksiévitch ocupa certa posição semelhante àquela de Soljenítsin, como condenadora do mal causado pela União Soviética. O discurso da autora, existencialmente carregado de sofrimento, tende a construir uma imagem de interrogação diante das perseguições, do gulag, da repressão, do autoritarismo e do medo. Logo, a autora procura as maiores catástrofes soviéticas para pintar a imagem de um regime totalitário desde seu início. A autora, assim, escreve um texto que se assemelha a uma oração para a humanidade. É nesse sentido que afirma Portal: "Esse ato, que é ao mesmo tempo composição artística e gesto político, produz um texto transpassado sempre por um significado em suspenso, em espera, como uma janela aberta diante de uma obliquidade violenta comum. Não é sem razão que experimentemos um mutismo linguístico a partir dessa violência, feito a busca por um ser humano originário que perdeu-se em seu próprio projeto enquanto humanidade." [4] Relevância da obra
A sua obra é uma crônica pessoal da história de mulheres e homens soviéticos e pós-soviéticos, a quem entrevistou para as suas narrativas durante os momentos mais dramáticos da história do seu país, como por exemplo a Segunda Guerra Mundial, a Guerra do Afeganistão, a queda da União Soviética e o desastre de Chernobyl[2]. Abandonou a Bielorrússia em 2000 e viveu em Paris, Gotemburgo e Berlim. Em 2011 Aleksievitch voltou a Minsk[1][3]. Vários livros seus têm sido publicados na Europa, Estados Unidos, China, Vietname e Índia. É interessante lembrar, porém, que, ainda no final dos anos 1990, a tradutora e escritora Galia Ackerman fez uma via-crúcis para publicar o primeiro título de Aleksiévitch em francês, "Vozes de Chernobil" (título lançado em 1997), que foi rejeitado quatro editoras francesas.[5] Desde 1996 tem recebido numerosos prêmios internacionais, como o polaco Ryszard-Kapuściński em 1996, o Prêmio Herder em 1999 e o Prêmio da Paz dos Editores Alemães (2013), entre outros. Está traduzida em 22 línguas e algumas das suas obras foram adaptadas a peças de teatro e documentários. Svetlana recebeu, entre outras distinções, o Erich Maria Remarque Peace Prize, em 2001, e o National Book Critics Circle Award, em 2006[1]. Svetlana assim descreve seu trabalho:
Se inserindo no campo da literatura traumática, Aleksiévitch escreve um retrato da catástrofe do século XX. Ela pede que as testemunhas tomem a palavra e lhe falem de suas memórias de sofrimento. Exercício sensível de escuta, ela age numa perspectiva clínica e terapêutica, propondo uma relação entre autora e testemunha baseada na exposição prolongada do trauma e da memória machucada. Ao mesmo passo em que ela escuta relatos individuais, ela insere as biografias no tecido coletivo da história soviética. Assim nota Portal[7] a respeito da representação da violência soviética levada a cabo por Aleksiévitch:
Obras
Referências
Ligações externas
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