Sericaia

Sericaia[1] (grafias alternativas siricaia[2] e sericá[3]) é um doce típico da região portuguesa do Alentejo, de origem malaia.[4]

Imagem de uma sericaia alentejana, vista de cima, com as tradicionais fendas na crosta

Tem marcas da doçaria conventual, em que há a utilização abundante de ovos, açúcar e canela. Foi implementado pelas freiras dos conventos de Elvas e de Vila Viçosa, onde o doce é decorado com a conserva das famosas ameixas da região. O toque da canela e a textura fofa fazem deste doce uma verdadeira delícia.

Etimologia

O substantivo «sericaia» entrou na língua portuguesa pelo malaio srikaya[1], reportando-se a um doce feito à base de leite de coco, ovos e açúcar,[5] oriundo da região de Malaca.[1]

História

Há registos manuscritos malaios do séc. XVII, a respeito de uma receita de creme de coco malaia, conhecida como srikaya.[6]

Em Portugal

No séc. XVI, D. Constantino de Bragança, 20.º governador da Índia Portuguesa, quando regressou do Oriente, trouxe a receita de sericaia para Portugal.[4]

Tradicionalmente, a sericaia era confeccionada em fornos de padeiros, a lenha, dentro de pratos de estanho, por molde a assegurar as altas temperaturas indispensáveis para que a cobertura da sericaia ficasse rachada com fendas.[4][7]

A receita foi introduzida nos conventos alentejanos, com particular relevo para os conventos de Nossa Senhora da Conceição e Santa Clara, ainda durante o séc. XVI, onde a sua confecção se foi apurando e adaptando ao paladar português, ao longo dos tempos.[6]

A historiadora gastronómica, Inês Tavares, concebe a possibilidade de a sericaia malaia, por seu turno, ter surgido graças a influências gastronómicas portuguesas, no Sudeste Asiático, no séc. XVI.[6] Com efeito, a historiadora aventa a possibilidade de a sericaia malaia se ter inspirado no doce de ovos português, ao qual os malaios acrescentaram o leite de coco, a canela e as folhas de pandano, de maneira a afeiçoar a receita mais ao seu paladar.[6]

No Brasil

A sericá veio para o Brasil via Portugal, na época da colonização segundo Câmara Cascudo, em texto escrito na década de 1960, a sericaia era popular no Brasil. Tratava-se de uma espécie de creme feito de leite, açúcar e ovos.[8]

Variedades de Sericaias

Sericaia Alentejana - Esta é feita combinando leite, canela, ovos, açúcar, farinha, limão, canela e sal, de maneira a criar um creme, cuja consistência se situa entre a de um pudim e a de um bolo.[9] Este creme é assado num prato de cerâmica, de maneira a criar uma crosta mole e caramelizada, que é depois generosamente coberta com canela[10] e servida com ameixas de Elvas.[11] É tradicional confeccionar a sericaia até que a crosta abra fendas, o que só se obtém cozendo-a num forno muito quente.[4][12]

Sericaia Brasileira - Diversas versões alteram a receita original, mas mantendo os seguintes pontos em comum: "o leite é fervido antes de serem acrescentados os demais ingredientes, a receita vai ao forno e tem consistência de creme". Cascudo descreve ainda em seu texto três versões do doce no Brasil: uma em Pelotas (RS), baseada no livro Doces de Pelotas (Porto Alegre (RS), 1959), de Arminda Mendonça Detroyat - leva gemas, leite, clara, açúcar e manteiga, e é assado no forno; outra, na Bahia - leva, no lugar do açúcar, rapadura e baunilha, podendo-se usar leite de coco no lugar do leite de vaca.[13] A versão paulista adiciona fatias de pão embebidas no leite, em camadas, polvilhadas com açúcar e canela e fatias de queijo fresco. Para Cascudo, a receita de Pelotas era a que mais se aproximava da original que foi perdida.[8]

Ver também

Referências

  1. a b c S.A, Priberam Informática. «Sericaia - Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 18 de março de 2024 
  2. S.A, Priberam Informática. «Siricaia - Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 18 de março de 2024 
  3. S.A, Priberam Informática. «Sericá - Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 18 de março de 2024 
  4. a b c d Soeiro, Ana (2001). Produtos Tradicionais Portugueses vol. II. Lisboa: Direcção-Geral do Desenvolvimento Rural. pp. 84–85. ISBN 972-9175-96-9 
  5. Liza (31 de agosto de 2022). «How to Make Malay-Style Coconut Jam (Srikaya)». Delishably (em inglês). Consultado em 18 de março de 2024 
  6. a b c d «Sericaia: Exploring the Authenticity of a Portuguese Dessert». www.lisbon.vip. Consultado em 18 de março de 2024 
  7. Modesto, Maria de Lourdes (2012). Cozinha Tradicional Portuguesa. Lisboa: Verbo. p. 248. 342 páginas. ISBN 9789722230896 
  8. a b Revista História Viva, edição 21, pg. 14. Editora Duetto. São Paulo (2005).
  9. Modesto, Maria de Lourdes (2012). Cozinha Tradicional Portuguesa. Lisboa: Verbo. p. 248. 342 páginas. ISBN 9789722230896 
  10. Modesto, Maria de Lourdes (2012). Cozinha Tradicional Portuguesa. Lisboa: Verbo. p. 248. 342 páginas. ISBN 9789722230896 
  11. «Sericaia Alentejana» 
  12. Modesto, Maria de Lourdes (2012). Cozinha Tradicional Portuguesa. Lisboa: Verbo. p. 248. 342 páginas. ISBN 9789722230896 
  13. Hildegardes Vianna. A cozinha baiana (Salvador (BA), 1955)
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