Restauração Kemmu
A restauração Kenmu (建武の新政 Kenmu no shinsei?) (1333–1336 d.C.)[1] foi o período de três anos da história do Japão entre o Período Kamakura e o Período Muromachi e os eventos políticos que ocorreram no intervalo de 1333 à 1336. A restauração foi um esforço feito pelo Imperador Go-Daigo para trazer a Casa Imperial e a nobreza que a representava de volta ao poder, assim restaurando um governo civil depois de quase um século e meio de domínio militar.[2] A tentativa de restauração acabou falhando e foi substituída pelo Xogunato Ashikaga (1336-1575). Essa foi a última vez que o Imperador teve algum poder até a Restauração Meiji, em 1867. Os vários erros políticos que o a Casa Imperial cometeu durante esse período de três anos tiveram grande repercussão nas décadas seguintes e acabou levando ao poder o clã Ashikaga. AntecedentesO papel do Imperador foi usurpado pelas famílias Minamoto e Hojo desde que Minamoto no Yoritomo obteve do Imperador o título de Xogum em 1192, comandando a partir de Kamakura.[2] Por várias razões, o xogunato Kamakura decidiu permitir duas linhagens imperiais que disputavam o poder – conhecidas como Nancho, ou linhagem jovem, e a Hokuchō, ou linhagem antiga – a se alternarem no trono. A troca funcionou por algumas sucessões até que um membro da Nancho ascendeu ao trono como Imperador Go-Daigo. Go-Daigo queria derrubar o xogunato e abertamente desafiou o Shogunato Kamakura ao nomear seu próprio filho como herdeiro. Em 1331, o shogunato exilou Go-Daigo mas forças imperiais, incluindo Kusunoki Masashige, rebelaram-se e vieram ao seu auxílio. Eles foram ajudados, dentre outros, pelo futuro xogum Ashikaga Takauji, um samurai que se voltou contra Kamakura quando foi enviado para controlar a rebelião de Go-Daigo.[3] Na mesma época, Nitta Yoshisada, outro líder do leste, atacou a capital do xogunato. O xogunato tentou resistir ao seu avanço: Yoshisada e as forças do shogunato lutaram várias vezes nas Kamakura Kaido (estradas que partiam de Kamakura para todo o império), como em Kotesashigahara (小手差原?) e Kumegawa (久米河?) (ambas perto de onde hoje se localiza Tokorozawa, província de Saitama) e na Batalha de Bubaigawara, onde hoje se encontra Fuchū, ainda mais perto de Kamakura. Finalmente as tropas imperiais cehgaram a cidade e iniciaram um cerco a ela (Cerco de Kamakura) e logo depois a tomaram. Kamakura continuou sendo, por um século, a capital política da região de Kanto, mas sua supremacia terminara. Objetivos da restauraçãoQuando o Imperador Go-Daigo ascendeu ao trono em 1318, ele imediatamente manifestou sua intenção de governar sem interferência dos militares em Kamakura.[2] Documentos históricos mostram que, apesar de algumas evidências em contrário, ele e seus conselheiros acreditavam que um renascimento da Casa Imperial e das fortunas da nobreza era possível, e que o xogunato de Kamakura era o maior e mais óbvio obstáculo. Outra situação que necessitava de uma solução era o problema da propriedade de terra gerado pelos feudos e suas terras. Os grandes proprietários de terra (shugo, governadores, e os jito, senhores feudais), com sua independência política e imunidade a impostos, estavam empobrecendo o governo e minando sua autoridade. Kitabatake Chikafusa, futuro conselheiro de Go-Daigo, discutiu a situação em suas obras sobre sucessão. Chikafusa admitiu que ninguém estava disposto a abolir esses privilégios, então a esperança de que desse certo, desde o começo, era muito pequena. O jeito que ele pretendia substituir os shugo e os jito estava incerto, mas ele certamente não tinha intenção de compartilhar o poder com a classe samurai. Apesar da seriedade do problema da propriedade da terra, Go-Daigo e seus conselheiros não fizeram grandes esforços para resolvê-lo, em parte devido ao fato de que foram os samurais, dos feudos das províncias do oeste, que derrotaram o Bafuku por ele. Em tal situação, qualquer esforço para regular os feudos estava fadado a causar ressentimentos entre os principais aliados. Príncipe MorinagaO Príncipe Morinaga, com seu prestígio e sua devoção à causa do governo civil, era um inimigo natural de Takauji e poderia contar com o apoio de seus adversários, entre eles Nitta Yoshisada, que foi ofendido por Takauji. A tensão entre o Imperador e Ashikaga gradualmente aumentou, até que Takauji aprisionou Morinaga em Kyoto, depois transportando-o para Kamakura, onde o Príncipe foi feito prisioneiro até o final de agosto de 1335. A situação em Kamakura continuou tensa, com os aliados de Hojo armando revoltas esporádicas aqui e ali. Ao longo do mesmo ano, Hojo Tokiyuki, filho do último regente Hojo Takatoki, tentou restabelecer o xogunato à força e derrotou Tadayoshi em Musashi, atual província de Kanagawa.[4] Tadayoshi teve de fugir, então, antes de partir, ele ordenou o degolamento do Príncipe Morinaga.[5] Kamakura foi temporariamente para as mãos de Tokiyuki.[4] Sabendo das notícias, Takauji pediu ao Imperador para fazê-lo seii taishogun, assim ele poderia controlar a revolução e ajudar seu irmão.[2] Quando seu pedido foi negado, Takauji organizou suas forças e retornou para Kamakura sem a permissão do Imperador, derrotando Hojo. Ele, então, instalou-se nas vizinhas de Kamakura, em Nikaido. Quando convidado para retornar a Kyoto, ele deixou saber através de seu irmão Tadayoshi que ele se sentia seguro onde estava e começou a construir um palácio para ele próprio em Okura, lugar que abrigou a residência do primeiro xogum de Kamakura, Minamoto no Yoritomo. Peculiaridades do calendário da épocaA era do Kenmu foi anômala, no sentido de que possuía duas durações diferentes. Como os nomes dos períodos japoneses (nengo) mudam de acordo com o Imperador no poder e a Casa Imperial se dividiu em duas depois de 1336, o período Kenmu era contado de dois jeitos diferentes. "Kenmu" é a era depois do período Genko, e entende-se que se prolongou do ano 1334 ao 1336, antes do começo da era Engen, de acordo com a contagem da Corte do Sul; mas ao mesmo tempo, fala-se que durou do ano 1334 ao 1338, antes do Ryakuo, considerando-se a contagem da rival Corte do Norte. Como a Corte do Sul, a perdedora, não deixa de ser considerada a legítima, a sua contagem de tempo é a utilizada pelos historiadores. Referências
Ver tambémLigações externas
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