O Reino Indo-Grego (ou Reino Greco-Indiano[1]) abrangeu várias regiões do noroeste e do norte do subcontinente indiano durante os dois últimos séculos a.C., e foi governado por mais de 30 reis helenísticos,[2]geralmente em conflito entre si. O reino foi fundado quando o rei greco-báctrioDemétrio invadiu a Índia em princípios do século II a.C. Nesse contexto, a fronteira da "Índia" era o Indocuche. Finalmente, os gregos na Índia dividiram-se do Reino Greco-Bactriano centrado na Báctria (hoje a fronteira entre o Afeganistão e o Uzbequistão). A expressão "reino indo-grego" descreve, em sentido amplo, várias politeias dinásticas. Havia numerosas cidades, como Taxila, Panjabe, ou Puscalavati e Sagala.[3] Essas cidades teriam abrigado várias dinastias em sua época e, baseado na Geografia de Ptolomeu e na nomenclatura de reis posteriores, um certo Teófilo no sul foi também, provavelmente, um sátrapa em algum ponto.[carece de fontes?]
Durante os seus dois séculos de domínio, os reis indo-gregos combinaram os símbolos gregos e indianos e as línguas gregas e indianas, como pode ser visto em suas moedas, e combinaram práticas religiosas gregas, hindus e budistas, como pode ser visto nos restos arqueológicos de suas cidades e nas indicações do seu apoio ao budismo, o que aponta para uma rica fusão de influências indianas e helenísticas.[4] A difusão da cultura indo-grega teve consequências que ainda são sentidas nos dias de hoje, particularmente por meio da influência da arte greco-budista.[carece de fontes?]
O Reino Indo-Grego desapareceu definitivamente como entidade política por volta de 10 d.C., após as invasões indo-citas, embora bolsões de populações gregas provavelmente tenham permanecido na região por muitos séculos a mais, durante o domínio subsequente do Reino Indo-Parta e do Império Cuchana.[5]
Presença grega na Índia
Em 326 a.C., Alexandre, o Grande conquistou a região noroeste do subcontinente indiano até o rio Beás, e estabeleceu satrapias, bem como várias cidades, como Bucéfala, até as suas tropas se recusarem a deslocar-se mais a leste.[6] As satrapias indianas de Panjabe foram deixadas ao domínio de Poro e Taxiles, o que foi reafirmado na Partilha de Triparadiso, em 321 a.C., e as tropas gregas restantes nessas satrapias foram deixadas ao comando do general Eutidemo I. Pouco tempo após 321 a.C., Eutidemo derrubou Taxiles, até deixar a Índia em 316 a.C. Outro general também dominou as colônias gregas do Indo: Peiton, filho de Agenor,[7] até a sua partida para a Babilônia em 316 a.C.
Em 305 a.C., Seleuco I liderou um exército até o Indo, onde encontrou Chandragupta Máuria. O confronto terminou com um tratado de paz, e um "acordo de epigamia" (em grego: Επιγαμια), que significa ou um casamento dinástico, ou um acordo para casamento entre indianos e gregos. Conformemente, Seleuco cedeu a Chandragupta os seus territórios a noroeste, possivelmente até Aracósia e recebeu 500 elefantes de guerra (que tiveram um papel importante na vitória de Seleuco na batalha de Ipso).[8]
Vários gregos, como o historiador Megástenes,[9] seguido por Deimaco e Dionísio, foram enviados para residir na corte máuria.[10] Presentes continuaram a ser trocados entre os dois governantes.[11] A intensidade desses contatos é constatada pela existência de um departamento do estado máuria dedicado para estrangeiros gregos (iavana) e persas,[12] ou pelos restos de cerâmica helenística que podem ser encontrados ao longo do norte da Índia.[13]
Nessas ocasiões, as populações gregas aparentemente permaneceram no noroeste do subcontinente indiano sob domínio máuria. O neto de Chandragupta, Asoca, que se convertera à fé budista declarada nos Éditos de Asoca, registrou em pedra, algumas delas em grego,[14][15] que as populações gregas dentro do seu reino também teriam que se converter ao budismo.[16] Nos seus éditos, Asoca afirma que enviou emissários budistas para governantes gregos, chegando até o Mediterrâneo (Édito nº 13),[16][17] e que desenvolveu fitoterapia em seus territórios, para o bem de humanos e animais (Édito nº 2).[16]
Os gregos na Índia parecem, até mesmo, ter tido um papel ativo na propagação do budismo, já que alguns dos emissários de Asoca, como Darmaracsita[18] ou o professor Maadarmacsita,[19] são descritos em fontes pális como proeminentes monges gregos ("Yona"), ativos em proselitismo budista (o Mahavamsa, XII).[20] Também se pensa que os gregos contribuíram para o trabalho escultural dos Pilares de Asoca e, de forma mais geral, ao florescimento da arte máuria.[21]
Novamente em 206 a.C., o imperador selêucidaAntíoco II Magno liderou um exército em direção à Índia, onde recebeu elefantes de guerra e presentes do rei Sofagaseno.[22]
A história do reino indo-grego abrange um período que vai do século II a.C. até o início do século I d.C., no norte e no noroeste da Índia. Existiram mais de 30 reis indo-gregos, geralmente em competição por diferentes territórios. Muitos deles são conhecidos somente por suas moedas. Muitas das datas, territórios e relações entre os reis indo-gregos são baseadas em análise numismática, algumas escrituras clássicas e escrituras indianas.[carece de fontes?]
A invasão do norte da Índia e o estabelecimento do que seria conhecido como o "reino indo-grego" iniciou-se por volta de 200 a.C. quando Demétrio I, filho do rei greco-bactriano Eutidemo I, liderou suas tropas pelo Indocuche. Apolodoto pode ter avançado para o sul, enquanto Menandro posteriormente liderou invasões para o leste. Após suas conquistas, Demétrio recebeu o título ανικητος ("Aniceto", que significa invencível), nunca dado antes para um rei.[carece de fontes?]
Evidência escrita das invasões gregas iniciais sobrevive nas escrituras de Estrabão e Justino, e nos registros em sânscrito de Patanjali, Calidasa e no Yuga Purana, entre outros. Moedas e evidências arquitetônicas também registram a campanha grega inicial.[carece de fontes?]
↑Como em outros compostos semelhantes, tais como "franco-canadense", "indo-europeu", "afro-americano", etc, a área de origem costuma vir primeiro, e a área de "chegada" depois, de modo que "greco-indiano" seria uma nomenclatura mais precisa, normalmente, do que "indo-grego". Esta, no entanto, se tornou a forma geral mais usada, especialmente depois da publicação do livro de Narain, The Indo-Greeks.
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