O álbum foi gravado em dois períodos diferentes entre 1993 e 1994 na cidade de Nova Iorque, nos estúdios D&D Studios e, principalmente, no The Hit Factory.[6] Notorious assinou contrato com a Uptown Records, de Sean "Puff" Combs em 1993, iniciando no mesmo período a gravação de Ready to Die.[7] As primeiras faixas do disco mostram um período mais "escuro" e que dificilmente iriam tocar nas rádios (dentre elas estão "Ready to Die", "Gimme the Loot" e "Things Done Changed"). Em relação a tais músicas, a revista XXL descreveu Notorious como "inexperiente, muito apressado e com um som paranóico".[8]
Quando o produtor executivo do álbum, Sean Combs, foi demitido da Uptown, a carreira de Biggie foi estancada no limbo, pois somente uma parte do disco havia sido concluída. Após um pequeno periódo narcotraficando na Carolina do Norte, o rapper voltou ao estúdio na recém-criada gravadora do mesmo Combs, a Bad Boy Records. Gravou então as últimas faixas de Ready to Die, descritas como "suaves, em tom mais confiante" e completou o álbum.[6] Neste momento, as canções que recebiam maior destaque eram gravadas no formato de single. A XXL também descreveu que com o tempo as faixas anteriores eram substituídas por freestyles feitos dentro do estúdio.[8]
Capa
O álbum foi lançado estampando uma capa com um bebê parecido ao artista - embora ostentando um cabelo afro - mostrando o conceito desde o nascimento a morte de Notorious. Tal capa foi listada como uma das melhores de todos os tempos do rap.[9] No entanto, os rappersRaekwon e Ghostface Killah, membros do Wu-Tang Clan, implicaram que tal arte já havia sido utilizada por Nas, no seu álbum de estreia, Illmatic.[10] Posteriormente, um conceito similar foi usado em Tha Carter III, do rapper Lil Wayne.[11]
Música
Letras
As letras das músicas de Notorious B.I.G. foram bastante elogiadas pela crítica. Muitos críticos destacaram sua habilidade de contar histórias, como Steve Huey, da Allmusic, o qual comentou: "Seus raps são fáceis de entender, sem o uso de palavras difíceis - possui um fluxo bom, um flow simples e um talento de colocar uma rima em cima da outra em um curto período de tempo." Ele também mencionou que suas letras são "profundamente enraizadas na realidade, mas descritas como cenas de filme."[1] Touré, escritor do The New York Times, referiu-se a Notorious B.I.G. como alguém que saiu do padrão utilizado pelos outros rappers, porque "suas letras misturam detalhes autobiográficos com temas como crime e violência, com honestinade emocional, dizendo como se sentiu no tráfico de drogas."[12] O álbum também é reconhecido por ter um tom sombrio e sinistro, como alguém que estivesse com depressão.[1] Na opinião original da Rolling Stone, Cheo H Coker afirmou que "ele mantém um nível consistente de tensão pela justaposição de momentos emocionais altos e baixos."[13]
As letras em Ready to Die tendem a lidar com a violência, o tráfico de drogas, mulheres e prostitutas, álcool e o uso da maconha, além de outros elementos que estavam ao redor de Notorious. Ele cantou sobre esses temas "de forma clara, com termos esparsos, permitindo quem ouvisse pela primeira vez compreender a situação".[13] A introdução do álbum mostra seu nascimento, sua infância, sua adolescência e como a vida se encontrava no momento do lançamento do disco.[12] A canção "Things Done Changed" foi uma das únicas músicas de hip hop a entrarem na The Norton Anthology of African American Literature.[14] Músicas do álbum incluem de narrativas de homicídio ("Warning") até batalhas de freestyle ("The What," "Unbelievable"). Na última música do disco, "Suicidal Thoughts", Notorious B.I.G. contempla Ready to Die cometendo suicídio.[15]
Produção
A produção do álbum foi feita principalmente por Easy Mo Bee e Chucky Thompson, e, semelhante as letras, foi bem recebida pela crítica. A Rolling Stone descreveu as batidas como "fundos calmos e pesados", reforçando pela relação com o lírico.[13] A produção utilizou basicamente samples de músicos de funk e soul da década de 1980 e vocais de cantores de rap do mesmo período. Steve Huey, no entanto, apresentou algumas críticas negativas para as batidas: "às vezes as batidas não tiveram nada a ver com a letra, mas isso pouco importa: o show é de Biggie!"[1] Cheo H. Coker retratou as batidas como "um fundo pesado e rápido, mas seria necessário aprimorar um pouco da base, para ver qual instrumento se adequa melhor. A produção é usada para levar o rapper a novos ares."[13]
Singles
Foram lançados três singles do álbum: "Juicy", "Big Poppa" e "One More Chance", além de uma faixa promocional: "Warning". De acordo com a XXL estas canções representam a parte mais comercial do álbum, em comparação com as demais, resultado do encorajamento de Combs para que algumas faixas fossem regravadas.[8]
Produzido por Sean Combs, ele possui samples de "Juicy Fruit", da banda Mtume. Steve Huey, editor da Allmusic, afirmou que, junto com os outros singles, este tem "uma visão otimista, conciliando com um objetivo comercial", chamando-a de "uma crônica sobre a riqueza".[1] Andrew Kameka, do HipHopDX.com, afirmou que a música era "uma das suas melhores e mais reveladoras canções", complementando que "é uma parte da sua autobiografia, uma parte do seu sucesso. Ela documenta a transição de uma estrela desconhecida do Brooklyn para a capa de uma revista."
O produtor Pete Rock, o qual foi selecionado para remixar a faixa, alegou que Combs roubou a ideia original da canção e do instrumental após uma conversa entre os dois. Rock explicou isso em uma entrevista com a Wax Poetics:[17]
“
Eu fiz a versão original e não recebi nenhum crédito por isso. Vieram até a minha casa, ouviram a batida do beat na caixa de ritmos. Você vem até a minha residência para ouvir uma música e a rouba. Ele ouviu essa merda e a próxima coisa que ele fez você já sabe. Me mandaram fazer um remix, mas eu digo às pessoas, eu vou lutar até o fim, para comprovar que eu fiz a versão original. Eu não estou bravo com ninguém, só quero o crédito correto.[17]
”
O remix de Rock incluiu o mesmo sample que a música original.[17]
"Big Poppa"
"Big Poppa" foi lançado como o segundo single em 20 de fevereiro de 1995 e semelhante ao single anterior, foi sucesso em várias paradas musicais. Alcançou a sexta posição na Billboard Hot 100, a quarta no Hot R&B/Hip-Hop Singles & Tracks e o topo da Hot Rap Singles.[1] Vendeu mais de um milhão de cópias e a RIAA certificou como platina em 23 de maio de 1995.[16]
"One More Chance" foi lançado como o terceiro single em 9 de junho de 1995. Foi produzido por Combs e contou com samples de "I Want You Back" de The Jackson 5 e de "Hydra" de Grover Washington, Jr.. Chegou a estar no 2° lugar da Billboard Hot 100 e na primeira posição da Hot R&B/Hip-Hop Singles & Tracks e do Hot Rap Singles.[1] Semelhante à "Big Poppa", vendeu mais de 1 milhão de cópias e foi certificada como platina pela RIAA em 31 de julho de 1995.[16]
Steve Huey a classificou como um "rap de sexo explícito". Cheo H. Coker, escritor da Rolling Stone, tem uma visão parecida sobre a canção, observando que ela era "um dos raps mais obscenos sobre sexo desde o clássico "Talk Like Sex", de Kool G Rap", e complementou que "esta canção hilária prova simplesmente porque B.I.G. gosta de vulgaridade".[13]
Após o seu lançamento, Ready to Die recebeu diversas críticas positivas, ao contrário de outros álbuns aclamados da costa leste gravados no mesmo período (incluindo Enter the Wu-Tang (36 Chambers) do Wu-Tang Clan, e Illmatic de Nas).[29] Seu sucesso foi impulsionado pela execução das canções nas principais rádios e a exibição dos singles "Big Poppa" e "Juicy" na MTV. A Rolling Stone elogiou a habilidade de Biggie fazer rimas: "pintando um retrato sonoro tão brilhante que faz você ser transportado até a canção". A revista Q escreveu: "a forma natural de fazer rap, utilizando de forma inteligente efeitos sonoros e diálogos, e um conceito… bastante superior da classe média do gangsta."[29] O álbum alcançou a posição #3 e #15 na Billboard 200 e na Top R&B/Hip-Hop Albums, respectivamente, fazendo o disco ser certificado quatro vezes platina.[16]
Aclamação posterior
Mesmo depois do seu lançamento, o álbum continuou sendo bastante aclamado. Em 1998, foi escolhido pela revista The Source um dos cem melhores de todos os tempos no rap.[30] A Rolling Stone, que em 1994 havia classificado Ready to Die como 4.5/5 estrelas, em 2005 mudou sua avaliação para 5/5, nota máxima.[31] Em 2003, o disco foi escolhido pela mesma Rolling Stone como o 133º melhor álbum de todos os tempos, tornando-se o terceiro melhor do gênero, atrás apenas de It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back do Public Enemy, e Raising Hell do Run-D.M.C., mas o primeiro da década de 1990 e o primeiro a ser de estreia.[13] Ainda, Ready to Die foi ranqueado pela revista Spin o 27° dos Melhores Álbuns entre 1985 e 2005.[32]
↑Sacha Jenkins, Elliott Wilson, Chairman Mao, Gabriel Alvarez & Brent Rollins. ego trip's Book of Rap Lists, New York: St. Martin's Press, 1999, p. 167. ISBN 9780312242985
↑Raekwon. "Shark Niggas (Biters)", Only Built 4 Cuban Linx…, Loud, 1995. See also: Nas. "Last Real Nigga Alive", God's Son, Columbia, 2002.