Racismo recreativoRacismo recreativo designa um tipo específico de opressão racial que aparece na forma de humor, que perpetua preconceitos e estereótipos racistas contra grupos socialmente minoritários e oprimidos de pessoas não brancas como: pessoas negras, povos originários, comunidades tradicionais e pessoas asiáticas. Esses grupos oprimidos têm o status cultural e o status material dos membros comprometidos com o compartilhamento e disseminação de discursos racistas e opressores disfarçados de piada. DescriçãoO jurista Adilson José Moreira, doutor em Direito Constitucional Comparado pela Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, pesquisador da Universidade de Berkeley e autor do livro "Racismo Recreativo", lançado em 2019, foi um dos primeiros a relacionar racismo e humor sob o aspecto jurídico e cunhou o conceito Racismo Recreativo, que, segundo ele, é um tipo de marginalização que tem o mesmo objetivo de outras formas de racismo:[1]
O racismo recreativo, portanto, é outra modalidade de opressão e perpetuação do sistema racista camuflada de brincadeira que protege aquele que o comete sob o escudo de ser "só uma piada". A prática envolve brincadeiras, piadas, mensagens e imagens que promovem a degradação moral de minorias raciais. Segundo Adilson Moreira, o racismo recreativo tem quatro objetivos[1]:
O racismo recreativo afirma a inferioridade de minorias raciais e a superioridade de pessoas brancas, reproduzindo e mantendo o privilégio branco na sociedade. Em seu livro, Adilson Moreira formula a seguinte definição para Racismo Recreativo:[1]
Os mecanismos que operam o racismo recreativo não podem ser interpretados como apenas um tipo de comportamento individual, pois como um tipo de racismo, também é parte de um sistema de dominação estrutural que extrapolam a motivação individual. Ou seja, racismo recreativo é um projeto de dominação racial que opera de acordo com premissas específicas da cultura pública brasileira que esconde toda a problemática do racismo na sociedade por trás da ideia de cordialidade essencial dos brasileiros[1]. ExemplosEm maio de 2023, a Justiça paulista determinou que o comediante Léo Lins retirasse do Youtube um vídeo, publicado em 2022, de um show com tiradas racistas e machistas,[2] por exemplo. Só esse vídeo tinha mais de 3 milhões de visualizações. Esse caso gerou bastante repercussão nas redes sociais dividindo artistas, humoristas e demais usuários da web quanto à retirada do vídeo do Léo Lins do ar.[3] Os debates na web exemplificam como o racismo recreativo permite que as pessoas brancas se escondam por trás de uma equivocada defesa da liberdade de expressão e oposição à censura para manter os privilégios e o sistema de dominação da branquitude e seu pacto narcísico.[4] Para exemplificar como se dá o racismo recreativo no cotidiano, muitas vezes sob o pretexto de ignorância ou falta de letramento racial, houve o episódio na edição 21 do Big Brother Brasil quando o sertanejo Rodolffo Matthaus comparou o cabelo do Professor João Luiz com o cabelo do "homem das cavernas", que representa um cabelo feio e sujo, portanto, sendo uma afirmação fundamentada no racismo estrutural camuflado de brincadeira.[5] Referências
BibliografiaMOREIRA, Adilson. Racismo recreativo. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019. |