Queima de livros e sepultura de intelectuaisA queima de livros e sepultamento de intelectuais (chinês tradicional: 焚書坑儒; chinês simplificado: 焚书坑儒; pinyin: Fénshū Kēngrú). também conhecida como queima de livros e execução dos intelectuais de ru,[1] foi uma queima de livros em 213 a.C. e o enterro vivo de intelectuais confucianos em 212 a.C. perpetrada pelo imperador chinês Quin Shi Huang, da dinastia Quin. Supostamente, o ato tinha o objetivo de destruir as traições filosóficas das cem escolas de pensamento, para fortalecer a filosofia legalista do imperador. Historiadores modernos duvidam da veracidade de partes da história, já que ela apareceu pela primeira vez um século depois, no livro Registros do Historiador de Sima Qian, da dinastia Han. Por ser um estudioso da corte, Han teria motivos para desmoralizar o antigo imperador e lisongear o atual, e mais tarde os confucianos não teriam questionado a história.[2] Estudiosos modernos concordam que Qin Shi Huang destruiu diversas obras consideradas incorretas ou subversivas, mas ordenou que duas cópias de cada obra fossem preservadas nas bibliotecas imperiais. Algumas dessas cópias foram destruídas na luta que desembocou na queda da dinastia. Ele matou intelectuais, mas não os enterrando vivo, e as vítimas não eram confucianos, já que a escola ainda não estava formada como viria a ser conhecida.[3][4][5] Versão tradicionalDe acordo com o Registros do Historiador (Shinji), de Sima Qian, depois que Qin Shihuang, o primeiro Imperador da China, unificou o país em 221 antes da era comum, seu Chanceler Li Si sugeriu suprimir as dissidências intelectuais para unificar a opinião política.
Os livros sobre poesia (especialmente o Shi Jing), história (Shujing e os registros históricos que não vieram de Chim) e filosofia vistos por Li Si como as as categorias mais perigosas para o governo. As coleções antigas de poesia e registros históricos continham muitas histórias sobre líderes virtuosos. Li Si acreditava que caso o povo lesse os registros, usariam o passado para se tornarem insatisfeitos com o presente. O motivo para se opor às diversas escolas de filosofia era o ensinamento de ideais políticos que iam contra um regime totalitário.[7] ConsequênciasO tamanho do dano à herança intelectual chinesa é difícil de calcular, pois os detalhes não foram registrados na história. Mas, muitos fatos indicam que as consequências foram duradoras, mas não extensivas. Primeiro, de acordo com o memorial de Li Si, todos os livros técnicos foram poupados. Segundo, mesmo os livros que foram queimados, em particular os de poesia e filosofia, foram preservados nos arquivos imperiais, e a posse foi permitida para os eruditos oficiais.[8] A história foi o gênero que mais sofreu perdas. Pouquíssimos livros de história que precedem Qin sobreviveram. Li Si disse que todos os livros de história que não fossem interpretados por Qin deveriam ser queimados. Mas não é claro se esses livros foram de fato queimados ou preservados no arquivo imperial. Mesmo que alguns desses livros tivessem sobrevivido, provavelmente foram destruídos em 206 a.C., quando os inimigos capturaram e que queimaram os palácios imperiais de Qin, onde provavelmente os arquivos estavam.[9] Queimas de livros póstumasNo fim da dinastia Qin, os registros nacionais do Palácio de Epang pegaram fogo. O poeta Zhang Jie (chinês: 章碣) da dinastia Tang, escreveu um poema (焚书坑, Fen Shu Keng, "Fossos para a Queima de Livros") sobre a política de destruição da dinastia Qin e dos rebeldes[10] (dos quais Liu Bang e Xiang Yu foram citados, pois entraram na capital Xianyang um após o outro):[carece de fontes]
Sepultura de intelectuaisA tradição diz que, depois de ter sido enganado por dois alquimistas em sua busca por prolongar sua vida, Qin Shihuang mandou que mais de 460 intelectuais na capital fossem enterrados no segundo ano de sua procissão. A crença veio da seguinte passagem de Shinji (capítulo 6):
Uma contagem feita por Wei Hong no século II adiciona mais 700 mortos ao total.[carece de fontes] AnálisesEm 2010, Li Kaiyuan (李开元), um pesquisador da dinastia Qin e da dinastia Han, publicou um artigo chamado A Verdade ou Ficção da Queima de Livros e a Exacução dos Intelectuais de Ru: Uma História Meio-Falsa (焚书坑儒的真伪虚实—半桩伪造的历史), que gerou dúvidas sobre a "execução dos intelectuais de ru", argumentando que Sima Qian exagerou os ocorridos. Li acredita que esta é uma pseudo-história, onde a história verdadeira da "queima de livros" (真实的"焚书") foi misturada com a "execução dos intelectuais de ru" (虚假的"坑儒").[11] De acordo com o intelectual Michael Nylan, apesar do significado místico, a queima de livros não se sustenta após uma análise minuciosa. Ele sugere que o motivo para os intelectuais da dinastia Han acusarem Qin de destruir os Cinco Clássicos confucianos foi em partes um ato de difamação contra o estado derrotado, e em partes por não entenderem a natureza dos textos, pois os clássicos foram considerados confucianos por Sima Qan apenas após a fundação de Han.[4] A versão de Sima Qan para a execução dos intelectuais encontra dificuldades similares. Primeiro, nenhum texto anterior à Shinji menciona as execuções, e o livro não menciona nenhum intelectual pelo nome. Na verdade, nenhum outro texto menciona nenhuma execução até o século I. O primeiro uso de que se sabe da famosa frase "queima de livros e sepultura de intelectuais" é do século IV.[4] A palavra para a execução dos intelectuais usada por Sima Qan é Keng (坑), que ele também usa em diversos outros lugares. Uma análise contextual mostra que seu significado é "matar", e não "enterrar vivo". O caractere em textos mais antigos significava "cova" ou "fosso", e posteriormente ganhou o significado de "encurralar e matar". Logo, Sima Qan a usou para descrever a aniquilação do inimigo. Esta confusão de significados se tornou algo comum.[12] NotaReferências
Bibliografia
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