Química verde
Química verde é uma ciência relacionada ao meio ambiente. Foi introduzida nos Estados Unidos, pelo cientista Mark Harrison, da Universidade de Lehigh. Essa ciência basicamente tem o conceito de que os elementos químicos não podem degradar a natureza. Historicamente, a química verde surgiu a partir de uma variedade de ideias existentes e os esforços de pesquisas (tais como economia de átomos e catálise) no período que antecedeu a década de 1990, no contexto de uma crescente atenção aos problemas de poluição química e esgotamento de recursos. O desenvolvimento da química verde na Europa e nos Estados Unidos estava ligado a uma mudança nas estratégias de resolução de problemas ambientais: um movimento de comando e regulação de controle e redução obrigatória das emissões industriais, a fim de prevenir a ativa poluição através do design inovador das próprias tecnologias de produção. O conjunto de conceitos, hoje reconhecidos como a “química verde”, se uniram na metade da década de 1990, juntamente com uma adoção mais ampla do termo, que prevaleceu sobre termos concorrentes, tais como química "limpa" ou "sustentável". [1][2] A Química Verde é definida pela International Union of Pure and Applied Chemistry - IUPAC, como: "A invenção, desenvolvimento e aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias perigosas". Nessa definição, o termo “perigosas” deve ser entendido como substâncias nocivas de algum modo à saúde humana ou ao meio ambiente. Basicamente, a química verde é uma área de química e engenharia química focada na concepção de produtos e processos que minimizam o uso e a geração de substâncias perigosas. [3] Considerando que a química ambiental se concentra nos efeitos de substâncias químicas poluentes sobre a natureza, a química verde se concentra em abordagens tecnológicas para prevenir a poluição e reduzir o consumo de recursos não renováveis. Se sobrepõe a todas as subdisciplinas de química, mas com um foco particular na síntese química, química de processo e engenharia química, em aplicações industriais. Em menor grau, os princípios da química verde também afetam as práticas laboratoriais. Os objetivos globais da química verde - ou seja, design mais eficiente em recursos e intrinsecamente mais seguro de moléculas, materiais, produtos e processos - podem ser perseguidos em uma ampla gama de contextos. [4][5][6][7][8][9] Pode ser utilizada em várias áreas como: reciclagem de materiais orgânicos, na despoluição de indústrias siderúrgicas e na construção dos chamados "prédios verdes": edifícios feitos com materiais não-poluentes. Mercedes-Benz, fábrica alemã de automóveis, estão usando essa química nos escapamentos dos carros para transformar dióxido de carbono em ar e água. Assim, a química verde é cada vez mais vista como uma poderosa ferramenta que os pesquisadores devem usar para avaliar o impacto ambiental da nanotecnologia. À medida que os nanomateriais são desenvolvidos, os impactos ambientais e de saúde humana, tanto dos produtos como dos processos para fazê-los, devem ser considerados para assegurar sua viabilidade econômica a longo prazo. [10] PrincípiosEm 1998, Paul Anastas publicou um conjunto de doze princípios para orientar a prática da química verde, sendo que estes abordam uma série de maneiras de reduzir os impactos ambientais e de saúde da produção química e também indicam prioridades de pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias de química verde. [11] Os princípios abrangem conceitos como:
Os doze princípios da química verde são:
ExemplosComo já discutido, muitas industrias e, até mesmo, pequenos laboratórios químicos, vêm buscando se adequar aos princípios da química verde. Vários exemplos podem ser citados: desenvolvimento de catalisadores; eliminação ou substituição de solventes; uso de matérias-primas renováveis; substituição de produtos tóxicos por outros ambientalmente aceitáveis. Abaixo seguem alguns exemplos mais específicos.
Solventes são consumidos em grandes quantidades em muitas sínteses químicas, bem como para a limpeza. Os solventes tradicionais são frequentemente tóxicos ou clorados. Os solventes verdes, por outro lado, são geralmente derivados de recursos renováveis e biodegradáveis a produtos inócuos, muitas vezes de ocorrência natural. [12][13]
As técnicas sintéticas novas ou aperfeiçoadas podem muitas vezes proporcionar um melhor desempenho ambiental ou permitir uma melhor aderência aos princípios da química verde. Por exemplo, o Prêmio Nobel de Química de 2005 foi concedido a Yves Chauvin, Robert H. Grubbs e Richard R. Schrock, pelo desenvolvimento do método de metátese em síntese orgânica, com referência explícita à sua contribuição para a química verde. [14] Uma revisão de 2005 identificou três desenvolvimentos chaves na química verde no campo da síntese orgânica: uso do dióxido de carbono supercrítico como o solvente verde, peróxido de hidrogênio aquoso para oxidações limpas e o uso do hidrogênio na síntese assimétrica.
Se fizermos uma analogia, é possível identificar o Princípio 2, citado acima, no processo de peróxido para produzir hidrazina sem cogeração de sal. A hidrazina é tradicionalmente produzida pelo processo Olin Raschig a partir de hipoclorito de sódio (o ingrediente ativo em muitos branqueadores) e amônia. A reação líquida produz um equivalente de cloreto de sódio por cada equivalente do produto alvo hidrazina: [15] NaOCl + 2NH3 → H2N-NH2 + NaCl + H2O No processo de peróxido mais verde, utiliza-se peróxido de hidrogênio como oxidante, sendo o produto secundário água. A conversão líquida é a seguinte: 2NH3 + H2O2 → H2N-NH2 + 2H2O De acordo com o Princípio 4, este processo não requer solventes de extração auxiliares. A metiletilcetona é utilizada como veículo para a hidrazina, facilitando o processamento sem a necessidade de um solvente de extração.
O ácido succínico é uma substância química de plataforma que é um importante material de partida nas formulações dos produtos do dia-a-dia. Tradicionalmente, o ácido succínico é produzido a partir de matérias-primas à base de petróleo. BioAmber desenvolveu um processo e tecnologia que produz ácido succínico a partir da fermentação de matérias-primas renováveis a um custo mais baixo e menor gasto de energia do que o equivalente de petróleo. [16]
Em 2005, Archer Daniels Midland (ADM) e Novozymes ganhou o Prêmio Sintéticos Mais Verdes por seu processo de interesterificação enzimática. Em resposta ao pedido de rotulagem de gorduras trans sobre a informação nutricional pela US Food and Drug Administration (FDA), a Novozymes e a ADM trabalharam em conjunto para desenvolver um processo enzimático limpo para a interesterificação de óleos e gorduras através do intercâmbio entre saturado e insaturado. O resultado são produtos comercialmente viáveis sem gorduras trans. Além dos benefícios para a saúde humana da eliminação de gorduras trans, o processo reduziu o uso de produtos químicos tóxicos e água, impede grandes quantidades de subprodutos e reduz a quantidade de gorduras e óleos desperdiçados. Legislação e Química VerdeEm alguns países existem leis que buscam adentrar as indústrias aos princípios da química verde. No Estados Unidos, por exemplo, a lei que rege a maioria dos produtos químicos industriais (excluindo pesticidas, alimentos e produtos farmacêuticos) é a Lei de Controle de Substâncias Tóxicas (TSCA) de 1976. Há também a Lei de Prevenção da Poluição, aprovada em 1990, que ajudou a promover novas abordagens para lidar com a poluição, prevenindo os problemas ambientais antes que eles aconteçam. Na União Europeia, foi criado, em 2007, o programa REACH (Registration, Evaluation, Authorisation, and Restriction of Chemicals, em português Registo, Avaliação, Autorização e Restrição de Produtos Químicos), que exige que as empresas forneçam dados que demonstrem que os seus produtos são seguros. O presente regulamento (1907/2006) garante não só a avaliação dos perigos dos produtos químicos, mas também os riscos durante a sua utilização, bem como inclui medidas para proibir ou restringir/autorizar a utilização de substâncias específicas. A ECHA, (EU Chemicals Agency in Helsinki, em português Agência Europeia dos Produtos Químicos), em Helsínquia, está a implementar o regulamento, enquanto que a aplicação recai sobre os Estados-Membros da UE. Aprovada em 1990, a Lei de Prevenção da Poluição ajudou a promover novas abordagens para lidar com a poluição, prevenindo os problemas ambientais antes que eles aconteçam. A ambiguidade do termoHá ambiguidades na definição de “química verde” e em como ela é compreendida entre as mais amplas comunidades científicas, políticas e empresariais. Mesmo dentro da química, os pesquisadores usam o termo "química verde" para descrever uma gama de trabalho independentemente da estrutura apresentada por Anastas e Warner (ou seja, os 12 princípios). Embora nem todos os usos do termo sejam legítimos, muitos ainda são. Mais amplamente, a ideia de química verde pode facilmente ser ligada (ou confundida) com conceitos relacionados como engenharia verde, design ambiental ou sustentabilidade em geral. A complexidade e natureza da química verde torna difícil conceber métricas claras e simples. Como resultado, "o que é (de fato) verde" é muitas vezes aberto a debate. Curiosidade: Química Verde na EducaçãoMuitas instituições oferecem cursos em Química Verde. Exemplos de todo o mundo são a Universidade Técnica da Dinamarca e várias nos EUA. Um curso de mestrado em Tecnologia Verde foi introduzido pelo Instituto de Tecnologia Química, na Índia. Na Espanha, diferentes universidades, como a Universidade de Jaime I ou a Universidade de Navarra, oferecem mestrados de Química Verde. Há também sites com foco na química verde, como o Michigan Green Chemistry Clearinghouse: www.migreenchemistry.org. Referências[1] Woodhouse, E. J.; Breyman, S. (2005). "Green chemistry as social movement?". Science, Technology, & Human Values. 30 (2): 199–222. [2] Linthorst, J. A. (2009). "An overview: Origins and development of green chemistry". Foundations of Chemistry. 12: 55. [3] "Green Chemistry". United States Environmental Protection Agency. 2006-06-28. Retrieved 2011-03-23. [4] Sheldon, R. A.; Arends, I. W. C. E.; Hanefeld, U. (2007). "Green Chemistry and Catalysis" [5] Clark, J. H.; Luque, R.; Matharu, A. S. (2012). "Green Chemistry, Biofuels, and Biorefinery". Annual Review of Chemical and Biomolecular Engineering. 3: 183–207. [6] Cernansky, R. (2015). "Chemistry: Green refill". Nature. 519 (7543): 379. [7] Sanderson, K. (2011). "Chemistry: It's not easy being green". Nature. 469 (7328): 18. [8] Poliakoff, M.; Licence, P. (2007). "Sustainable technology: Green chemistry". Nature. 450 (7171): 810–812. [9] Clark, J. H. (1999). "Green chemistry: Challenges and opportunities". Green Chemistry. 1: 1. [10] Green nanotechnology [11] Anastas, Paul T.; Warner, John C.(1998). Green chemistry: theory and practice. Oxford [England]; New York: Oxford University Press. [12] Prat, D.; Pardigon, O.; Flemming, H.-W.; Letestu, S.; Ducandas, V.; Isnard, P.; Guntrum, E.; Senac, T.; Ruisseau, S.; Cruciani, P.; Hosek, P., "Sanofi’s Solvent Selection Guide: A Step Toward More Sustainable Processes", Org. Proc. Res. Devel. 2013, 17, 1517-1525. [13] Sherman, J.; Chin, B.; Huibers, P. D. T.; Garcia-Valls, R.; Hatton, T. A., "Solvent Replacement for Green Processing", Environ. Health Persp. 1998, 106, 253-271. [14] "The Nobel Prize in Chemistry 2005". The Nobel Foundation. Retrieved 2006-08-04. [15] Jean-Pierre Schirmann, Paul Bourdauducq "Hydrazine" in Ullmann's Encyclopedia of Industrial Chemistry, Wiley-VCH, Weinheim, 2002. [16] "2011 Small Business Award". United States Environmental Protection Agency. |