Pyotr Tkachev
Pyotr Nikitich Tkachev, também escrito Tkachyov (em russo: Петр Никитич Ткачев; 29 de junho de 1844 — 4 de janeiro de 1886) foi um escritor, crítico e teórico revolucionário[1] russo que formulou muitos dos princípios revolucionários que mais tarde seriam desenvolvidos e postos em prática por Vladimir Lenin. Embora às vezes tenha sido conhecido como "o Primeiro Bolchevique",[2] ele não figurava de forma proeminente na mitologia da União Soviética, pois isso teria prejudicado a reivindicação bolchevique à originalidade do pensamento revolucionário de Lenin. BiografiaInício de vidaTkachev nasceu em 1844 em uma família da pequena aristocracia.[3] Veio da aldeia de Sivistov, que estava localizada no Governorado de Pskov.[4] Sua irmã, Aleksandra Nikititchna Annenskaia, foi escritora feminista para jovens.[5] Começou a frequentar a Universidade de São Petersburgo em 1861 e participou de uma série de violentos protestos estudantis naquele ano. Preso pela polícia durante um tumulto em 11 de outubro, Tkachev provavelmente entrou em contato com a filosofia política russa radical através de outros presos durante os meses em que ficou encadeado em uma prisão de Kronstadt.[6] Após ter sido preso por participar das greves estudantis de 1861, passou vários anos na Fortaleza de São Pedro e São Paulo.[3][7] Carreira políticaTkachev elogiou o romance Que Fazer? de Tchernichevski, chamando-o de "evangelho do movimento".[8] Populistas como ele argumentaram contra a espera indefinida pela revolução social, enquanto, entretanto, condenaram a revolta e o terrorismo pela vanguarda; acreditava que se arriscava permitindo que o governo czarista se estabilizasse pelo avanço do capitalismo. Somente o estabelecimento de uma ditadura revolucionária através da tomada do poder possibilitaria assegurar as condições políticas corretas para uma transição para o socialismo.[9] Isso se tornaria o "princípio orientador" da teoria da revolução de Lenin.[9] Os populistas voltaram aos métodos jacobinos de golpes, conspiração e terrorismo "em nome do povo" na década de 1870, depois de trocá-lo pela revolução social. Nesse sentido, os escritos de Tkachev marcaram um "divisor de águas crucial", estabelecendo uma ponte entre o jacobinismo de Nechayev, a "tradição clássica" dos Populistas de Terra e Liberdade e a tradição marxista de Lenin.[3] Encontro com Nechayev e exílioEm meados de 1870, Tkachev ficou hipnotizado pelas obras de Sergey Nechayev, o que o levaria a passar mais uma vez na prisão, antes de ir para o exílio na Suíça.[3] Foi lá que adotou (grosseiramente) a sociologia de Marx, o que resultou em sua separação com o Populismo.[3] Ele formulou uma crítica violenta ao movimento "Para o Povo", que consistia em vários estudantes e populistas que viajavam para aldeias camponesas. Nela formulou sua convicção de que a propaganda não poderia iniciar uma revolução porque "as leis do progresso social" faziam com que o regime sempre tivesse o apoio de camponeses mais ricos. Em vez disso, ele defendeu a realização de um golpe, uma tomada de poder, pela vanguarda revolucionária, que então prosseguiria com o estabelecimento de uma ditadura e iniciaria a transição para o socialismo.[3] Tkachev acreditava que o momento era perfeito para a tomada do poder, e que deveria ser feito o mais rápido possível, enquanto não existia uma força social que estivesse preparada para se unir ao governo, algo que viria com o desenvolvimento da burguesia e do capitalismo.[3] Um grito de guerra em uma de suas passagens críticas — que mais tarde seria copiado por Lenin em outubro de 1917 — diz: "É por isso que não podemos esperar. É por isso que afirmamos que uma revolução é indispensável e indispensável agora, neste exato momento, não podemos permitir o adiamento. É agora ou — talvez muito em breve — nunca." Escreveu ainda que um partido conspirador e elitista, disciplinado e centralizado semelhante a um exército, era essencial para que isso fosse bem sucedido — algo também ecoado mais tarde por Lenin.[3] Vida posterior e morteNo final de 1882, ele ficou gravemente doente e passou os últimos anos num hospital psiquiátrico. Morreu em 4 de janeiro de 1886 em Paris, aos 41 anos.[10] Ideias políticasSuas atitudes autoritárias, como a de Bakunin, Speshnev, Plekhanov e Lenin, podem ser explicadas por suas origens nobres.[11] Seria enganoso caracterizar Tkachev como um marxista doutrinário. O historiador Andrzej Walicki argumentou que a forma de determinismo econômico defendida por Tkachev diferia significativamente do materialismo histórico desenvolvido por Karl Marx e Friedrich Engels: "Esse 'materialismo econômico' específico de Tkachev não equivalia ao marxismo; constituía antes uma mistura peculiar de alguns elementos do marxismo com um utilitarismo primitivo, exagerando grosseiramente o papel da motivação econômica direta no comportamento individual."[12] Impacto e seguimentoUm grupo terrorista radical chamado "Vontade do Povo" (Narodnaya Volya) fundado em 1879, influenciado pelos ensinamentos de Tkachev, assassinaria o czar Alexandre II em 1 de março de 1881. Lenin e o TkachevismoLenin devia mais a Tkachev do que qualquer outro teórico russo.[3] A principal ideia que defendia e que influenciava o desenvolvimento da filosofia política do futuro líder bolchevique era a de uma vanguarda revolucionária. Embora não explicitamente usando esse termo leninista, Tkachev argumentou que – na ausência de uma revolução popular, baseada no campesinato – revolucionários devem se levantar e derrotar um governo tirânico.[3][13] A abordagem leninista do marxismo estava enraizada em suas origens no movimento revolucionário russo, com os escritos e ideias de Tchernichevski, Tkachev, Nechayev e do Vontade do Povo injetados no marxismo passivo para dar-lhe uma "dose russa de política conspiratória". Isso permitiu a precipitação de uma revolução pela ação política.[14] Tkachev era um proponente de um partido revolucionário estreitamente organizado,[3] seguindo as ideias de Nechayev, e também foi influenciado pelo movimento revolucionário francês blanquismo.[15][16] Em sua opinião, o principal dever dos partidos revolucionários não era envolver-se em esforços de propaganda, mas derrubar o governo e tomar o poder em nome do proletariado. Referências
Bibliografia
Leitura adicional
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