Teve de abandonar os estudos cedo, mal tendo aprendido a ler, escrever e realizar as quatro operações da aritmética, para ajudar sua mãe, Dona Balbina, que era lavadeira. Trabalhou como entregador de marmitas, sapateiro, estafeta da Western (com o salário de 3,50 cruzeiros por dia), vendedor de tecidos e roupas, trocador de ônibus, operário de fábrica de cerâmica e entregador de encomendas da Casa Reunier. Em todos esses empregos, aproveitava os intervalos para cantar para os colegas (principalmente canções de Francisco Alves e Carlos Galhardo, seus ídolos).[1]
Numa manhã de agosto de 1932, ao saltar para um bonde em movimento na Praça da República, escorregou e caiu nos trilhos, tendo seu pé atingido pelo veículo. No hospital, onde demorou a ser atendido, teve os dedos do pé amputados, porém os médicos deixaram seus cortes abertos com base na suposição de que a sangria evitaria uma infecção. Permaneceu quase seis meses internado, tomando morfina para suportar as dores[3] - mais tarde, ele desenvolveria um vício pela droga, o que consumiria uma considerável parte dos seus ganhos como cantor.[4]
Carreira musical
Primeiros trabalhos e estrelato
Um dia, Orlando foi levado pelo irmão mais velho, Edmundo, para um teste na Rádio Cajuti, mas foi reprovado. Tentou também um programa de calouros de Renato Murce na Rádio Philips, sem sucesso novamente. Os fracassos sucessivos fizeram-no pensar em desistir de ser cantor.[5]
Durante seu teste na Cajuti, contudo, Orlando foi ouvido por Bororó, que quis dar uma chance para o novato. Levou-o, então, ao Café Nice e o apresentou a Francisco Alves, que ouviu Orlando cantar no interior de seu carro e decidiu imediatamente lançá-lo em seu programa na própria Rádio Cajuti que o rejeitara antes. Assim, em 24 de junho de 1934, Orlando realizou sua primeira apresentação.[6]
Orlando permaneceu seis meses na rádio até ser convidado pela RCA Victor a integrar o coro da gravadora. Após o carnaval de 1935, gravou um disco pelo selo contendo "Lágrimas" e "Última Estrofe", ambas de Cândido das Neves.[7]
Em 1936, ajudou a inaugurar a Rádio Nacional e foi o primeiro cantor a se apresentar na mesma, interpretando "Caprichos do Destino", de Pedro Caetano e Claudionor Cruz.[8] Foi também o primeiro a ter um programa exclusivo, que ia ao ar nos finais das tardes de domingo.[9]
O seu sucesso na época era tamanho que suas fãs criaram o hábito de colecionar pedaços de suas roupas, antes do cantor Cauby Peixoto se tornar famoso por isso. Seus discos quebravam recordes de venda.[9] Seu primeiro sucesso de carnaval foi "Abre a Janela", de Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior.[10]
Segundo o jornalista Walter Silva, o locutor Oduvaldo Cozzi passou a apresentá-lo como "o cantor das multidões" devido ao fato de Orlando arrastar multidões não só em suas apresentações públicas, mas também ao longo de ruas e avenidas, nas quais o povo se agrupava para ouvir sua voz reproduzida em alto-falantes instalados no trajeto.[11] Numa apresentação na sacada da Rádio Cruzeiro do Sul em São Paulo, por exemplo, Orlando cantou para um público estimado em 100-150 mil pessoas, o que correspondia a aproximadamente 15% da população da cidade na época.[12]
Declínio, últimas décadas de vida e morte
No início dos anos 1940, Orlando intensificou seu uso de drogas ao mesmo tempo em que sua carreira entrava em declínio, o que por sua vez o fazia consumir mais entorpecentes. Em 1946, perdeu seu contrato com a Rádio Nacional, que tentou recontratá-lo anos depois mas acabou demitindo-o novamente. Em 1947 e 1948, conseguiu gravar sete e três discos, respectivamente, mas em 1949 a Odeon também rompeu com ele.[13]
Em 1961, Orlando tentou uma última cartada junto à RCA Victor: um projeto para regravar 32 de seus sucessos. O biógrafo Ronaldo Conde Aguiar considerou o resultado "embaraçoso" e que Orlando, naquele momento, era apenas um cantor comum.[14] Depois disso, seus últimos trabalhos foram algumas aparições na televisão.[2]
Orlando iniciou em 1940 um relacionamento com a atriz Zezé Fonseca. O namoro foi motivo de polêmica entre quem acompanhava a vida do músico; alguns diziam que Orlando se entregou às drogas na tentativa de superar o amor não correspondido por ela, enquanto outros diziam que ela é quem não era amada por ele, que tinha mais afeição pelas drogas.[15] Ela o deixou em 1943.[13]
Em 1947, Orlando conheceu Maria de Lourdes Souza Franco, com quem conviveu em suas últimas décadas de vida. Ela teria lhe ajudado a abandonar o álcool e a diminuir seu consumo de morfina.[14]
Desde a amputação de seus dedos do pé, Orlando consumia drogas, porém de forma moderada. Conforme sua fama cresceu, o consumo foi ficando mais desenfreado e caminhava conjuntamente a crises de depressão, que o cantor tentava amenizar com mais drogas (principalmente morfina e álcool). Alguns episódios específicos forma atribuídos à intensificação de seu vício: um tratamento dentário desastroso que lhe causou fortes dores;[16] a decisão de extrair todos os seus dentes naturais e substituí-los por uma dentadura que afetou sua emissão vocal;[13] e mesmo a noite após um grande show em São Paulo em que o cantor, inquieto, solicitou a visita de um enfermeiro que lhe administrou uma dose de morfina cujo efeito calmante agradou muito ao paciente.[17]
Dentre as pessoas que tentaram ajudar Orlando, está Francisco Alves, a quem Orlando se referiu como "pai" e "bênção de Deus na minha vida". Francisco pedia a compositores que oferecessem músicas a Orlando, levava o amigo a seus shows e tentava arranjar espaço para ele nas gravadoras.[14]