Um oceano cósmico ou rio celeste é um motivo mitológico encontrado na mitologia de muitas culturas e civilizações, representando o mundo ou o cosmos envolvido por águas primordiais.
Quando o céu lá em cima ainda não havia sido nomeado / Nem a terra abaixo pronunciada pelo nome,
Apsu, o primeiro, seu gerador / E a criadora Tiamat, que os suportava todos,
Haviam misturado suas águas, mas não haviam formado pastos ou descoberto juncais.
Quando ainda não se manifestaram os deuses / Nem se pronunciaram nomes, nem se decretaram destinos.
Então nasceram deuses dentro deles.
O contato dos povos semíticos no Oriente Próximo com povos mesopotâmicos e egípcios influenciou a concepção israelita de águas primevas,[2][3] e na primeira história da criação na Bíblia há apenas terra e água em um estado desorganizado: "E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas..." (Gênesis 1:2).[4] O mundo também é criado como um espaço dentro da água e, por isso, é cercado por ela: "E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas." (Gênesis 1:6).[5] Esse abismo de águas é designado pela palavra Tehom em hebraico e no judaísmo e religiões abraâmicas posteriores desenvolveu-se a teologia de que a matéria prima seria coeva com Deus.[6]
Também foi influenciada a mitologia grega, em que algumas versões de teogonias narram os deuses que personificam as águas como os primeiros, o que é visto em Homero na Ilíada 14:201: "Okeanos, origem dos deuses, e mãe Tétis".[7][8]Aristóteles e Platão fizeram referência a essa corrente.[9] Platão, no entanto, afirma no Timeu que o estado pré-cósmico não é formado pelos elementos naturais como tais:[10]
Como afirmamos no começo, todas essas coisas estavam em estado de desordem, quando Deus implantou nelas proporções tanto em relação a si mesmas quanto em suas relações umas com as outras, na medida em que fosse possível para elas estarem em harmonia e proporção. Pois naquela época nada participava disso, salvo por acidente, nem havia qualquer coisa que merecesse ser chamada pelos nomes que agora usamos, como fogo e água.[11]
Plutarco relata que os egípcios atribuem essa doutrina do princípio como a água, encontrada em Tales e Homero, como sendo originária deles:[12]
Eles [os egípcios] acham que Homero também, como Tales, colocou a água como princípio e origem de todas as coisas, depois de aprender com os egípcios; pois Okeanos é Osíris e Tétis é Ísis, pois ela cuida e nutre todas as coisas.
Beroso posteriormente compara a vertente grega com a narrativa babilônica e equivale Omorka (uma forma de título de Tiamat como "Ummu-Hubur", que significa Mãe-Rio do Submundo,[13] ou derivado de "emaruukka", dilúvio[14]) a Thalassa (mar).[15][16]
Oannes disse que houve um tempo em que tudo era escuridão e água, e que nessa água seres estranhos com formas peculiares vinham à vida... Mas isso, ele diz, é falar alegoricamente sobre a natureza, tudo consistia de umidade e criaturas vieram à existência nela[17]
O mundo é um pensamento divino, uma vibração no substrato causal; portanto, a lua, a mente cósmica, é assimilada às águas causais (ap), das ondas das quais todas as formas tangíveis se desenvolvem.
Na mitologia nórdica segundo a Edda poética, o derretimento de gelo primordial gera todas as criaturas do cosmos, originando a Ymir, de cujo suor surgiu seus ancestrais, e Audumbla, que lambeu o sincelo, dando forma ao humano.
Assim como a parte norte estava congelada, o sul estava derretido e brilhante, mas o meio de Ginnungagap era tão suave quanto o ar em uma noite de verão. Lá, o hálito quente que vinha do norte de Muspell encontrou a geada de Niflheim; e relaram-se e brincaram sobre ele, e o gelo começou a derreter e a pingar. A vida acelerou naquelas gotas, que assumiram a forma de um gigante, chamado Ymir.[22]
"A face da terra ainda não apareceu. Sozinha permanece a extensão do mar, junto com o ventre de todo o céu... Tz’aqol e B’itol, Tepeu e Serpente Quetzal (Gucumatz), Xmucane e Xpiyacoc. Luminosos eles estão na água, envoltos em plumagens quetzal e penas de cotinga. Portanto eles são chamados Serpente Quetzal... Que a água seja retirada, esvaziada, para que a placa de terra seja criada".
No espiritismo, é atribuído aos espíritos o conceito de "fluido cósmico universal" ou "fluido universal" como substância fundamental de toda matéria e elemento único que recebe modificações, gerando propriedades do universo como as forças moleculares, a eletricidade e o magnetismo.[24] Em A Gênese é afirmado:
A matéria cósmica primitiva continha os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas magnificências diante da eternidade. Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente não desapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe, reconstituídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno.[25]
↑Boys-Stones, G. R.; Boys-Stones, Lecturer in Classics G. R.; Haubold, J. H.; Haubold, Johannes (2010). Plato and Hesiod (em inglês). [S.l.]: OUP Oxford. ISBN978-0-19-923634-3
↑Plutarco. Ísis e Osíris 9-10.354D-E. In Wöhrle, Georg; McKirahan, Richard (29 de outubro de 2014). Thales (em inglês). [S.l.]: Walter de Gruyter GmbH & Co KG. ISBN978-3-11-031525-7