Nurago ou Nurague é um tipo de torre-fortaleza troncocónica, próprio da Cultura nuráguica (ou nurágica) da Sardenha, em que se aplica o princípio da falsa cúpula, originário do Mediterrâneo oriental. São construções que datam da Idade do Bronze, a partir do II milénio a.C.[1]
Etimologia
De acordo com o Dicionário de Inglês Oxford,
a etimologia é "incerta e discutida". Talvez a palavra tenha relação com nomes de lugares sardos,
tais como Nurra, Nurri, Nurru, ou como o termo sardonurra = empilhamento de pedras ou cavidade no solo,
embora tais sentidos sejam de difícil conciliação. Uma conexão com a base semítica árabe nür (luz, fogo)
é hoje amplamente rejeitada.[2] A palavra latina murus (muro) pode estar relacionada, sendo o resultado de
uma derivação murus-*murague-nurague, uma teoria bastante discutível.[3]
Outra teoria etimológica sugere uma origem proto-basca, do termo nur (pedra), acrescido da desinência comum
do plural -ak,[4] o sufixo paleo-sardo -ake, também encontrado em algumas línguas indo-europeias como o latim
e o grego.[5] Outra possível explicação é que a palavra vem do nome do herói mitológico ibérico Norax, e a
raiz *nur seria uma adaptação da raiz indo-europeia *nor.[6][7]
Características gerais
Encontram-se os nuragos típicos em áreas onde se distribuiam as culturas sardas pré-históricas,
ou seja, não muito longe de planícies aluviais (embora atualmente poucos nuragos estejam em
planícies, pois estas foram destruídas pela atividade humana, como agricultura, represas, estradas,
etc.). Sua aparência exterior é de uma torre cônica truncada, por isso lembrando uma torre
medieval, com um teto interior semelhante ao de um tholos.
As paredes da estrutura possuem três componentes. Uma parede externa, inclinada para o interior
e feita de muitas camadas de pedras cujo tamanho diminui à medida que a torre sobe; geralmente,
as camadas inferiores apresenta pedras grosseiramente lavradas, enquanto as superiores tendem a
apresentar uma lavra ashlar, mais apurada. Uma parede interior, feita de pedras menores,
que forma um domo de pedras superpostas, em formato de bala, como num tholos, feita geralmente de
lavra apurada. Entre as duas paredes há uma camada de terra e pequenas pedras, que deixa toda a
construção muito fote. A construção se mantém de pé devido ao peso das pedras, que, em algumas
delas, pode chegar a várias toneladas. Alguns nuragos têm cerca de 20 metros de altura. O maior
que se conhece, o Nuraghe Arrubiu, alcança alturas de 25 a 30 metros.[8]
A entrada leva a um corredor, em cujos lados abrem-se frequentes nichos que levam à câmara
redonda. Uma escada em espiral, construída entre as grossas paredes, leva aos andares superiores
(se existirem) ou ao terraço, sendo iluminada por pequenas aberturas. Uma torre de nurago pode
ter até três abóbodas de pedra, uma acima da outra. Em nuragos complexos é comum a presença de
corredores, às vezes com abóboda, como em Santu Antin, onde os corredores com abóbadas se
superpõem em dois níveis, alcançando um comprimento de 27 metros.
Hoje restam de pé menos de 7.000 nuragos, sendo o número original bem maior. Os nuragos são mais
comuns nas partes nordeste e centro-sul da ilha.[9]
Acesso
Nicho da câmara central
Escadaria
Tholos do nurago de Sant'Antine
Janelas e aberturas
Função
Não há consenso quanto à função dos nuragos: podem ter sido residências de líderes, fortalezas militares,
salões de reunião, templos religiosos, residências comuns ou uma combinação de tudo isso. Entretanto,
alguns nuragos estão situados em lugares estratégicos - como colinas - de onde importantes passagens
podiam ser controladas. Eles devem ter sido alguma coisa entre um "símbolo de status" e um edifício
de "defesa passiva", algo que previniria a chegada de possíveis inimigos.
Os nuragos também podem ter sido o "símbolo nacional" dos povos nurágicos. Modelos em pequena escala de
nuragos têm sido frequentemente escavados em sítios religiosos (p. ex. no templo "labirinto" em Su
Romanzesu, perto de Bitti, na Sardenha central. Os nuragos poderiam ter apenas uma ligação com riqueza e
poder, ou ser uma indicação de que o lugar já tinha seu dono. Teorias recentes ainda não confirmadas
tendem a sugerir que as cidades sardas eram entidades independentes (como cidades-estado, embora em
sentido geográfico elas não fossem cidades) que formavam federações, A construção dos nuragos poderia
depender de acordos de distribuição de território entre as unidades federadas.
Em 2002, Juan Belmonte e Mauro Zedda mediram a orientação das entradas (Declinação e Azimute) de 272
nuragos simples e as torres centrais de 180 nuragos complexos. Os dados revelaram claros picos que
correspondem à orientação do nascer do sol no solstício de inverno e da Lua em sua posição
de nascimento mais ao sul. Esses alinhamentos permaneceram constantes durante toda a história dos
nuragos. As declinações mais comuns encontradas eram de -43° nos nuragos mais antigos e de 45,5°
nos nuragos mais recentes. Zedda sugeriu que o alvo da declinação seria uma estrela, possivelmente
Alpha Centauri.[10]
Tipologia
Protonurago
O protonurago é considerado o tipo mais arcaico de nurago. Ele difere um pouco do tipo clássico de nurago
(teto em forma de tholos) por ser mais largo e maciço. Os protonuragos geralmente têm planta irregular
e não apresentam a grande câmara circular presente nas construções presumivelmente posteriores. Ao contário,
eles se estendem ao longo de um ou mais corredores ou câmaras alongadas. Embora careçam da câmara circular,
às vezes apresentam as mesmas dimensões dos nuragos posteriores.[11]
Nurago misto
Este tipo se distingue pelas restaurações efetuadas ao longo do tempo, supostamente por causa da mudança no
modelo dos nurgaos, ou por outras razões.
Nurago de apenas uma torre
É o nurago por excelência e constitui a tipologia mais difundida[12]. A torre única, em forma de cone truncado,
acomoda dentro dela uma ou mais câmaras superpostas, cobertas por tetos em forma de tholos. O acesso,
geralmente situado no nível do solo, leva a uma passagem que se dirige até a câmara central e se bifurca,
geralmente para a esquerda, numa escada em espiral construída no interior das paredes, e que leva até o
terraço ou teto da câmara mais elevada.
Além da câmara circular usual, em seu interior podem ser encontrados ambientes menores, como nichos.
Nurago "tancato"
O nurago "tancato" (termo sardo para pátio interno) representa a evolução do nurago de torre única. À torre
principal se acrescenta, posteriormente, um outro edifício circular, conectado ao original através de duas
paredes fechadas. Entre os edifícios há um pátio interno, às vezes dotado de um poço.
Nurago polilobado
Também chamados de palácios reais nurágicos, os nuragos polilobados são a tipologia menos comum. Muito
elaborados e frequentemente planejados num estilo próprio, eles se assemelham a fortalezas de verdade, com
várias torres ligadas por muralhas de pedra, cuja função é oferecer mais espaço útil e talvez reforçar a
torre central. Esses "castelos megalíticos" são cercados por paredes adicionais, às vezes também providas
de torres (os chamados baluartes).
Nuragos notáveis
Os nuragos fazem parte da lista do Patrimônio da Humanidade da UNESCO. Su Nuraxi di Barumini, no sul da
ilha, foi o escolhido para representar o patrimônio nurágico. Um dos nuragos mais altos e mais complexos
é o Nurago Santu Antine, perto da vila de Torralba, no norte da Sardenha. Outros nuragos famosos são o
Nurago Palmavera, perto de Alghero; Macomer; Abbasanta (ver Losa); Nurago Arrubiu, em Orroli; Nurago Seruci,
em Gonnesa; e Nurago Genna Maria, em Villanovaforru.
Significação cultural
Os nuragos foram construídos no meio da Idade do Bronze (séculos XVIII a XV antes de Cristo) e
durante o Colapso da Idade do Bronze. A alegação de que as estruturas de El Ahwat, em Israel, possam estar com eles relacionadas
tem sido contestada[13] ; elas datam dos séculos XII e XI antes de Cristo. Os únicos edifícios cuja relação
com os nuragos é amplamente aceita são as torri do sul da Córsega e os talayots de Minorca e Majorca.[14]
Segundo Massimo Pallottino, um arqueólogo italiano especializado em etruscologia, a arquitetura produzida
pela civilização nurágica era a mais avançada de todas no Mediterrâneo ocidental, na época, incluindo
aquelas na região da Magna Grécia[15].
Dos cerca de 7.000 nurages restantes, somente uns poucos foram cientificamente escavados.
↑Ugas 2005, p. 23. Giovanni Ugas, L'alba dei Nuraghi, Cagliari, Fabula, 2005. ISBN88-89661-00-3
↑Sigismondo Arquer (edited by Maria Teresa Laneri, 2008). Sardiniae brevis historia et descriptio, CUEC, pg.16.
↑it:Museo archeologico
nazionale di Nuoro, Il Sarcidano: Orroli, Nuraghe Arrubiu at www.museoarcheologiconuoro.beniculturali.it.
Archived 2015-06-30 at the Wayback Machine
↑Finkelstein, I. and Piasetzky, E. 2007. Radiocarbon dating and Philistine chronology with an addendum on el-Ahwat. Ägypten und Levante: Internationale Zeitschrift für ägyptische archäologie und deren nachbargebeite. Vol. 17