Necrópole do Vale da Telha
A Necrópole do Vale da Telha é um sítio arqueológico na Urbanização de Vale da Telha, no Município de Aljezur, em Portugal. Consiste nos vestígios de uma antiga área sepulcral e de um povoado da Idade do Bronze, com cerca de 3500 anos de idade.[1] DescriçãoO sítio arqueológico encontra-se num lote devoluto, na zona D da Urbanização do Vale da Telha.[2] Geograficamente, situa-se num planalto de pequenas dimensões, a 98 m de altitude, e a cerca de quatro quilómetros da vila de Aljezur, no sentido Oeste.[1] Corresponde a uma necrópole da Idade do Bronze com dezoito túmulos, cada um composto por uma câmara funerária revestida parcialmente por lajes, na tipologia de cista.[2] São de dimensões diferentes, e a sua morfologia é rectangular, ovalada ou quadrangular, sendo formadas por lajes em xisto, grauvaque e arenito em tons vermelhos ou brancos,[1] sendo alguns destes materiais provavelmente oriundos de locais situados a cerca de dez quilómetros de distância.[3] Uma das sepulturas em especial foi construída em arenito calcário branco, o que permitiu uma melhor conservação dos vestígios osteológicos ao longo de quatro milénios, possibilitando a sua datação através do método de Carbono-14.[3] Estão cobertas por tumuli, formados por pedras e terra, e que possuem plantas de formas diferentes, rectangulares, circulares ou ovais.[2] Algumas das sepulturas são de grandes dimensões, o que é considerado pouco comum neste tipo de contextos.[2] Esta circunstância, em conjunto com o estado ainda relativamente bom dos vestígios e a sua variedade, fazem com que a necrópole seja de grande interesse arqueológico.[2] Com efeito, foi classificado pelo presidente da Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur, José Marreiros, como um dos sítios arqueológicos mais importantes no concelho.[4] No local foram encontrados alguns vestígios de esqueletos humanos, prevendo-se que a maior parte dos enterramentos seriam individuais, com os cadáveres a serem colocados em decúbito lateral ou fetal.[1] A posição fetal ocupava menos espaço, permitindo a construção de sepulturas mais pequenas, além que, segundo Varela Gomes, também tinha uma função religiosa, estando ligada ao ideal do renascimento durante a Idade do Bronze.[3] Na necrópole também foram recolhidos fragmentos de vários recipientes em cerâmica, peças em metal, e duas contas de colar verdes em pedra,[1] uma destas vinda provavelmente de Huelva, em Espanha.[3] Uma vez que foram encontradas dentro das sepulturas, a maior parte destas peças seriam oferendas aos mortos.[3] A Sul da necrópole foram descobertos vestígios de um povoado, igualmente da Idade do Bronze, que era formado por várias estruturas perecíveis, e que foi identificado devido à presença de uma grande quantidade de fragmentos de peças cerâmicas e líticas comuns em ambientes domésticos, como grandes recipientes, e partes de moventes e dormentes de mós manuais.[1] O espólio total da Idade do Bronze, correspondendo ao povoado e à necrópole, inclui igualmente um braçal de arqueiro, peças metálicas, como uma punção ou agulha e um pequeno punhal, e uma grande quantidade de fragmentos de recipientes cerâmicos, como taças carenadas, vasos de grandes dimensões, taças de bordo espessado, vasos esféricos altos, alguns decorados com mamilos, e queijeiras.[1] Estas peças permitem reconhecer as principais funções económicas da época, que eram a exploração do cobre, a pastorícia e a agricultura.[3] No artigo Lápides islâmicas da necrópole do Ribāt da Arrifana (Aljezur), de Carmen Barceló, Rosa Varela Gomes e Mário Varela Gomes, avançou-se a teoria que um dos esteios das sepulturas do Vale da Telha poderá ter sido reaproveitado como uma estela funerária, que foi encontradasno importante sítio arqueológico islâmico do Ribat de Arrifana, a cerca de dois quilómetros de distância.[5] Noutro local da urbanização do Vale da Telha foram encontrados vários machados da cultura mirense, provavelmente do período mesolítico.[6] HistóriaDe acordo com a morfologia e os rituais que eram praticados na necrópole, terá sido utilizada durante a Idade do Bronze,[1] num período entre 1500 e 1300 a 1200 anos a.C., embora as cistas de maiores dimensões possam ter sido construídas durante os princípios deste período, por volta de 1800 anos a.C..[2] Porém, o local foi habitado desde tempos muito mais remotos, desde o Paleolítico Inferior, passando pelo Mesolítico, Neolítico Antigo e Neolítico Médio.[1] O espólio do período paleolítico é composto por dezasseis raspadores sobre seixos de quartzito, e um biface talhado igualmente sobre um seixo daquele material, enquanto que do epipaleolítico foram encontrados doze percutores, lascas de descorticagem, e dezassete machados de grauvaque.[1] As peças correspondentes ao Neolítico são uma raspadeira e vários fragmentos de cerâmica.[1] Os primeiros trabalhos arqueológicos no local foram feitos em 1988, no âmbito de um programa de investigação nos concelhos de Aljezur e Monchique, e em 1989, como parte do levantamento arqueológico da Área de Paisagem Protegida do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.[1] Em Agosto de 2006 foram feitas escavações de emergência no local,[1] estando nessa altura prevista a construção de uma vivenda naquele lote.[3] Os trabalhos foram coordenados por Mário Augusto Santos Varela Gomes, com a colaboração de alunos da Universidade Nova de Lisboa, tendo sido identificadas várias sepulturas.[3] Segundo Manuel Marreiros, presidente da Câmara Municipal de Aljezur, originalmente não se pensava que os achados não iriam ser muito relevantes, tendo-se chegado a propor a sua transladação, mas após as escavações de 2006, que revelaram a importância do sítio, a autarquia começou a planear a compra dos terrenos, no sentido de instalar ali um museu.[3] No ano seguinte foram investigadas duas áreas junto à escavada anteriormente, no sentido de registar a presença de mais sepulturas ou outros vestígios de interesse, tendo-se reafirmado a existência do povoado a Sul, e encontrados materiais de períodos anteriores à Idade do Bronze.[1] Em Outubro de 2007 foi organizada uma visita de estudo à necrópole, no âmbito da quinta edição do Encontro de Arqueologia do Algarve, promovido pela Câmara Municipal de Silves.[7] Ver também
Referências
Ligações externas
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