Music for the Masses
Music for the Masses é o sexto álbum de estúdio da banda inglesa de música eletrônica Depeche Mode. Foi lançado em 28 de setembro de 1987 pela Mute Records. O álbum marcou um período de grande sucesso comercial do Depeche Mode, onde a banda entrou em turnê mundial com a monstruosa Music for the Masses Tour e conseguiu mais hits nos Estados Unidos e resto do mundo do que nunca. Nessa era, foi perceptível a evolução sonora do som atmosférico que vinha sendo trabalhado anteriormente em Black Celebration, seu quinto álbum de estúdio, sem contar a adição de novos sons e experimentação com sintetizadores em detrimento da técnica de sampling, amplamente utilizada em discos anteriores.[1][6] Em Music for the Masses, o Depeche Mode concretiza mais uma fase do longo processo de metamorfose pelo qual a banda passou desde o lançamento de seu primeiro single, "Dreaming of Me" (1981), até o lançamento de "Stripped" (1986), de seu álbum anterior, e agora, de seu novo disco.[7] Em uma resenha de retrospectiva, a revista Q enxergou as narrativas de Music for the Masses como estando dentre as mais incertas e contemplativas da banda, e afirmou que a maior parte de suas canções eram "verdadeiros diamantes no escuro". A revista ainda acrescenta que, naquele ponto, foi a primeira vez em que o Depeche Mode foi de fato "levado a sério".[8] Sal Cinquemani, da Slant Magazine, disse que o Music for the Masses mostrou um lado mais sombrio da cena "synth-pop" durante os anos 1980, sendo um sucesso entre ambos críticos e consumidores.[9] Andy Fletcher e Martin Gore, membros da banda, também explicaram que o título do álbum (em tradução literal, Música para as Massas) surgiu como uma piada. Fletcher disse que "O título é [...] meio que uma ironia, na verdade. Todo mundo fala pra gente que devíamos fazer música mais comercial, então foi por isso que escolhemos esse título."[10] De acordo com Gore, o título era "uma piada na não-comercialidade [do álbum]. Era qualquer coisa, menos música pras massas!"[11] Antecendentes, gravação e lançamentoA partir de 1986, com o lançamento de Black Celebration, o Depeche Mode passava por mais uma fase de mudanças em seu som. Construction Time Again e Some Great Reward (de 1983 e 1984, respectivamente) representaram a sua fase de pop industrial, sendo o sampling amplamente utilizado no período, o que dava o toque marcante das produções da banda até aquele momento. Contudo, a partir do lançamento de "Shake the Disease", que se mostrou um refinamento de ambas composições de Martin Gore, como também do som da banda até 1985,[12] uma mudança que só se concretizaria com o lançamento de seu décimo quinto single, "Stripped", se iniciava. Com essa canção e o lançamento de seu quinto disco, a banda introduziu um som sinistro, altamente atmosférico e consistente. Além das própria composições de Martin Gore, que se tornaram mais pessimistas e com um tom mais obscuro.[13] Para o Music for the Masses, o som da banda e seus métodos de trabalho continuaram a se desenvolver. Foi a primeira vez em que trabalharam com um produtor não relacionado com a Mute Records. Isso se deu com os momentos difíceis que ocorreram durante as sessões de produção conflituosas do Black Celebration, o que fez com que Daniel Miller, colaborador da banda anteriormente, se afastasse voluntariamente da produção do álbum. Assim, Dave Bascombe (que já havia trabalhado com o Tears for Fears e It's Immaterial) entra em cena. Alan Wilder, contudo, afirma que o papel de Bascombe acabou se tornando mais de um engenheiro de som do que produtor.[6] Alan Wilder, quando perguntado sobre o processo de produção de uma das faixas do disco, "Strangelove", em 1989, responde: "A única coisa que vem na minha mente sobre 'Strangelove' é a quantidade de tempo que ficamos gravando [ela] e as discussões que isso causou. Não consigo nem dizer a quantidade de vezes que tivemos que refazê-la. Nós tivemos que mudar a linha de baixo pelo menos umas cem vezes. Nós também tivemos muita parte da percussão que removemos. O problema, de fato, é que decidimos que [a faixa] viraria single antes mesmo de gravarmos ela, e isso complicou as coisas."[14] No quesito sonoro, a banda se afastou do sampling em detrimento da experimentação com sintetizadores.[6] Entretanto, apesar de menos sombrio que as tonalidades exploradas em Black Celebration, Music for the Masses é um claro descendente do trabalho ali encetado. E é inegável que o som mais atmosférico e obscuro introduzido em Black Celebration, agora se tornava parte do som da banda.[13] Ainda nesse sentido, durante o processo de criação do Music for the Masses, o Depeche Mode pôde atestar uma maior expressão de sua personalidade artística, tanto por meio de sua imagem (com a colaboração do fotógrafo Anton Corbjin), da afinação de uma abordagem sonora e da aprendizagem das artes do palco.[15] O título do álbum, por sua vez, surge de forma irônica ao brincar com a alta demanda de um som mais mainstream por parte da banda. Andy Fletcher e Martin Gore, membros da banda, explicam que o título do álbum (em tradução literal, Música para as Massas) era como uma piada. Fletcher disse que "O título é [...] meio que uma ironia, na verdade. Todo mundo fala pra gente que devíamos fazer música mais comercial, então foi por isso que escolhemos esse título."[10] De acordo com Gore, o título era "uma piada na não-comercialidade [do álbum]. Era qualquer coisa, menos música pras massas!"[11] Em entrevista para a NME, em 1990, Alan Wilder ainda acrescenta: "Tem muito mais humor do que nos são dados créditos. Talvez é só nosso [humor], ou particularmente o de Martin, que é um pouco mais específico."[16] Contudo, apesar do caminho mais experimental tomado, e mesmo sendo voltado a um público de "nicho", o disco viria, de fato, a se tornar um álbum para as massas.[15] Lançamento, promoção e singlesA última turnê da banda até o momento, a Black Celebration Tour, havia sido finalizada em 16 de agosto de 1986.[17] Durante alguns meses, a banda prosseguiu com a divulgação do disco, iniciando as gravações de Music for the Masses em fevereiro de 1987.[1] Em 27 de abril de 1987, numa aparição na rádio francesa NRJ, os então quatro membros da banda promoviam o primeiro single da era, "Strangelove", lançado em 13 de abril de 1987.[18][19] Em agosto de 1987, no dia 24, lançava-se o segundo single do álbum: "Never Let Me Down Again". Alguns anos depois, em 1993, Martin diz em entrevista para a Rolling Stone que a canção já foi interpretada de formas bastante diferentes. Ele se recorda que, certa vez, "duas pessoas diferentes vieram até mim num show uma noite e disseram, 'Eu gosto bastante daquela música'. Uma delas achou que [a canção] era um hino gay. A outra pensou que era um hino às drogas. Ambas amaram a canção, então tá tudo bem pra mim."[20] Em setembro de 1987, poucos dias antes do lançamento oficial do disco, Martin Gore e Andy Fletcher foram aos estúdios da Radio España para conceder uma entrevista sobre a futura Music for the Masses Tour, que começaria em Madrid. Naquela manhã, a banda havia performado no programa de TV espanhol 'Sabado Noche'. Poucas horas depois, o restante dos membros se encontrariam com Gore e Fletcher para gravação de um segundo programa, 'A Tope'.[21] Como forma de promoção do álbum, o Depeche Mode partiu em viagem por todos os países escandinavos, concedendo entrevistas. Na Dinamarca, a banda apareceu na Danmarks Radio em Soborg (perto de Copenhague), dando entrevista tanto para a rádio quanto para outros canais (incluindo televisivos) fora da estação.[22] O disco foi finalmente lançado em 27 de setembro de 1987.[1] Em 28 de dezembro, "Behind The Wheel" era lançada como terceiro single do disco. Já em 16 de maio do ano seguinte, a faixa "Little 15" finalizava os singles da era.[23] A turnê de acompanhamento e promoção do álbum foi a Music for the Masses Tour, registrada em sua parte final no documentário 101, lançado em março de 1989. O documentário marca um período onde a banda se tornou verdadeiramente global, o que culminou no 101º show (daí o nome 101), ocorrido no Pasadena Rose Bowl, que totalizou cerca de 70 mil pessoas.[24][25] Arte da capaO megafone (ou sua icônica representação) na capa do disco foi utilizado na época do lançamento do álbum em eventos de imprensa, na capa dos singles e também durante a turnê. Alan Wilder credita o uso do megafone a Martyn Atkins, que já era um colaborador do Depeche Mode por bastante tempo. "[Martyn veio] com essa ideia de um alto-falante, mas, pra dar esse elemento meio irônico do título, colocando o alto-falante em uma posição que não tinha nada a ver com as massas. Era, na verdade, o contrário. Então você acaba com essa coisa meio estranha, onde você tem esses megafones ou alto-falantes no meio de um lugar onde não se encaixa de jeito nenhum, tipo um deserto, ou algo parecido."[10] A arte da capa de Music for the Masses foi "bastante inteligente", afirma John Freeman do The Quietus. A arte criada por Martyn Atkins era um "ilustroso" design, com seu conceito de "propaganda e espaços abertos" criado sobre um imagério de padrões da Alemanha Oriental e fotografias de paisagem. A locação desértica natural em questão era o Peak District.[7] Uma capa alternativa inicial foi rejeitada para o álbum. Também tinha sido feita por Martyn Atkins, tendo uma cópia de teste de prensagem sido leiloada por Wilder em 2011. Nela, aparecia um design branco e laranja do megafone emitindo ondas de som.[26] Letras e composiçãoCom os lançamentos de A Broken Frame, Construction Time Again, Some Great Reward e Black Celebration, a banda criou um nicho para si mesma no emergente gênero da electronica. Com cada era, contudo, eles lentamente foram trazendo mais apelo para uma crescente audiência. Nesse contexto, surge o Music for the Masses, descrito por Andy Healy, da Albumism, como "um misto rico, consistente e cheio de camadas de sexo, drogas, isolamento, obsessão, escuridão e contemplação." Naquele ponto, Depeche Mode passou a se basear menos em samples e sons não convencionais em sua produção, criando uma nova visão musical.[27] Apesar de ainda serem fortes elementos as letras niilistas, vocais poderosos e sombrios, foi possível enxergar uma identidade renovada para o Depeche Mode. O som da banda agora integrava elementos mais orgânicos (uso de guitarras, por exemplo), se tornando, de certa forma, mais amigável para o típico som de estádio.[25] Mas não somente o disco marcou um crescimento musical, como temático em suas letras. Desde a saída de Vince Clarke (que viria a formar Yazoo e, depois, o Erasure), Martin Gore havia tomado o carro-chefe na composição das letras. As letras do compositor, ainda que transbordando com duplos sentidos e jogos de palavras críticos, são apresentadas com uma sinceridade íntima e de partir o coração. Ele captura um senso de receio romântico, vulnerabilidade e alegria sexual em faixas como "Strangelove", onde o conceito de BDSM é misturado com os altos e baixos usuais de relacionamentos.[27] Faixa a faixaO disco se inicia com "Never Let Me Down Again", a "maneira perfeita de se iniciar um álbum". Em sua introdução, um riff de guitarra abafado aparece como o primeiro elemento da faixa. Logo um som metálico suavizado é acompanhado de uma bateria massiva, quando um efeito de piano de jazz introduz o primeiro verso. Com letras que são interpretadas de uma ode às drogas a um hino gay, a produção eufórica e de estádio de "Never Let Me Down Again" traz um sensação de ambição e prossegue no álbum com um sentimento de grandeza.[25][27] Em uma entrevista para a Alternative Dance Party From Hell, Fletch afirma que, apesar de não poder falar muito sobre os significados das canções de Martin Gore, a música seria "apenas sobre inocência."[28] Quando perguntado sobre a canção pela Rolling Stone em 1993, o compositor afirmou que "[Certa vez] duas pessoas diferentes vieram até a mim num show uma noite e disseram, 'Eu gosto bastante daquela música". Uma delas achava que [a canção] era um hino gay. A outra pensou que era um hino às drogas. Ambas amaram a música, então tá tudo bem para mim."[20] Segundo o próprio Dave Bascombe, parte dos samples da bateria de "Never Let Me Down Again" teriam sido extraídos de um disco do Led Zeppelin, enquanto o coral que finaliza a faixa dando um tom caótico de fim do mundo, de Carmina Burana.[29] Em "The Things You Said", segunda faixa do álbum, Gore nos traz uma canção mais leve, sonoramente falando, se comparada à faixa anterior. Contudo, com o som etéreo da música, além da letra baseada em "rumores" espalhados por um provável interesse amoroso, as temáticas de um quase receio romântico são bem expressas aqui. O compositor, em entrevista para a revista francesa Best em abril de 1989, disse que "'The Things You Said' é o que 'Somebody' não foi, e é por isso que amo essa canção. Tem um bom lado e um lado mau. É sobre traição, sobre um homem que está desapontado com alguém que ele amava, mas que por sorte, ele tem amigos de verdade ao seu lado."[30] Em seguida, na ordem de faixas, surge o single "Strangelove". Com a mistura de BDSM e os momentos diversos de um relacionamento, sendo espertamente interpretada por Gahan nos vocais, as letras da canção ganham um senso de força e poder quando traduzidas nos estilo forte de Dave.[27] Alan Wilder, em entrevista posterior, afirma que a versão do single, que foi lançada primeiro, tinha uma sonoridade "bagunçada demais". Foi decidido, então, utilizar a versão de Daniel Miller como a versão final do álbum.[31] Para Gore, Strangelove "está do lado certo da comercialidade. Tem uma linha, e se você pisar muito depois, se torna música pop genérica."[14] A religiosa "Sacred", que brinca com a dualidade da religião e traz a música como uma fonte de salvação, é a quarta faixa do disco.[27] Fletch afirma que a canção é sobre amor, "o amor como uma crença".[32] Em sua letra, algumas referências pseudo-sexuais são jogadas sobre trechos como "I'm a firm believer / And a warm receiver".[25] Passando para "Little 15" e "Behind The Wheel", é percebido um contraste entre desejo sexual com a preservação da inocência. Sobre a primeira, Gahan disse a rádio KROQ em 1987 que "'Little 15' é sobre um menino, na verdade. Sabe, um monte de pessoas entenderam essa música de um jeito errado. Eles pensam que é sobre uma garotinha, mas não é. É na verdade sobre um garoto e sua mãe falando com ele. Diz, "Olha, você vai crescer e tudo e é assim que vai ser. Não é um mar de rosas, e logo você estará indo para o mau e grande mundo."[33] Em 1989, a Spin rankeou "Behind The Wheel" como sendo o 30º maior single de todos os tempos.[34] Liricamente, "Behind The Wheel" é uma óbvia metáfora, assim como um número de outras metáforas relacionadas a carros nas canções do século XX. "Behind The Wheel" fala sobre perder o controle e amar cada segundo. É sobre se entregar ao outro.[7] O talento do Depeche Mode em criar introduções peculiares para suas canções é provada mais uma vez no padrão de respiração bem sexual de "I Want You Now", sétima faixa do disco.[25] A canção tem várias gemidos e suspiros, tanto masculinos como femininos ao longo de sua produção, o que acarreta na eroticidade da mesma. Um som bem marcante, originado de um acordião modificado, também se torna parte importante na música.[7] Logo em seguida, tem-se "To Have and to Hold", antepenúltima faixa do disco. O forte e apreensivo lamento na faixa é um gospel obscuro, um pedido desesperado por salvação de um sentimento de pavor aterrorizante que te rodeia na maneira mais sedutora.[27] A penúltima faixa, "Nothing" (talvez a canção mais comercial do disco) se apresenta como um electropop puro colocado sobre um contexto lírico niilista, mas que parece quase zen na sua entrega. Nunca a frustração soou tão apelativa. Logo depois, "Pimpf", um instrumental épico e intenso, que marcou época sendo a faixa de abertura da turnê Music for the Masses, além da faixa escondida "Interlude 1", finalizam a obra como um todo (em sua listagem de faixas original) num senso de proporções épicas que toca num sentimento de desespero, raiva e desejo por algo a mais.[27] Lista de faixasTodas as faixas escritas e compostas por Martin L. Gore, exceto onde há nota.
Relançamento de 2006
Referências
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